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Xadrez ganha mais espaço em escolas brasileiras

Professor de Mato Grosso ganha prêmio e amplia projeto; Manaus inclui esporte no currículo

10 mar 2014 - 20h48
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Os alunos da Escola Municipal Jardim das Palmeiras, no Mato Grosso, passaram a ter uma aula semanal de xadrez, a partir deste ano
Os alunos da Escola Municipal Jardim das Palmeiras, no Mato Grosso, passaram a ter uma aula semanal de xadrez, a partir deste ano
Foto: Luciana Dotto / Divulgação

Um dos jogos de tabuleiro mais populares do mundo, o xadrez pode ajudar a desenvolver melhor o aprendizado dos estudantes. Escolas no exterior, como na Alemanha e Estados Unidos, já incluem o esporte em seus currículos de ensino. O Brasil está seguindo o exemplo. No ano passado, um projeto de xadrez na escola foi o vencedor da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, na categoria temas livres, oferecido pelo Ministério da Educação e que tem como objetivo premiar e valorizar o trabalho dos professores da rede pública.

O projeto Xadrez Como Ferramenta de Inclusão Social foi criado pelo professor de Educação Física da Escola Municipal Jardim das Palmeiras, Cleiton Marino Santa, na cidade de Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso. Em 2012, o professor passou a desenvolver aulas de xadrez na escola, após o horário das aulas. "Voluntariamente, passei a ensinar o jogo às crianças. A escola fica em um bairro carente, onde os alunos não tem muito o que fazer, então as aulas lotaram. Todos queriam jogar", conta.

Com o sucesso das aulas, Cleiton começou a pensar em ampliar o projeto, que já foi até apresentado por ele em um congresso em Cuba. Após passar por um processo de seleção entre 250 projetos do Brasil inteiro, na Fundação André Maggi, o Xadrez Como Ferramenta de Inclusão Social venceu e recebeu recursos financeiros para ser ampliado. No ano passado, uma sala de aula especial para o ensino do jogo foi montada, com lousa digital, computadores e tablets, além dos clássicos tabuleiros de mesa. "A tecnologia é o principal da sala, pois o mundo digital atrai mais os estudantes hoje em dia. A lousa chama mais atenção e também agiliza a aula. Os alunos podem treinar nos dispositivos eletrônicos para depois jogar uns contra os outros nos tabuleiros", explica Cleiton.

O professor de xadrez Cleiton Marino Santa afirma que a tecnologia ajuda a atrair a atenção dos estudantes. No projeto Xadrez como Ferramenta de Inclusão Social, foi montada uma sala com uma lousa digital, onde Cleiton mostra as jogadas
O professor de xadrez Cleiton Marino Santa afirma que a tecnologia ajuda a atrair a atenção dos estudantes. No projeto Xadrez como Ferramenta de Inclusão Social, foi montada uma sala com uma lousa digital, onde Cleiton mostra as jogadas
Foto: Luciana Dotto / Divulgação

Alunos se tornam monitores

O jogo na escola Jardim das Palmeiras é utilizado como ferramenta para disseminar o conhecimento, além de estimular outras habilidades como o raciocínio lógico, a concentração, a socialização e a responsabilidade. Os participantes são divididos em dois grupos: alunos monitores e participantes. "Como não tínhamos muitos professores disponíveis, a solução foi capacitar os próprios alunos para ensinarem os colegas. Eles ensinam e ajudam os iniciantes, reproduzindo assim o conhecimento. O jogo mudou a minha vida quando entrei em contato com ele. Então meu objetivo, além de melhorar o desempenho escolar, era que os alunos se tornassem multiplicadores do conhecimento. O que se aprende no tabuleiro, se usa para a vida", diz Cleiton. Atualmente, os monitores ensinam inclusive nas outras cinco escolas municipais da cidade. 

Desde o ano passado, a estudante de 13 anos Maria Gabrieli Silva de Lima, é uma das monitoras escolhidas pelo professor. A pequena jogadora repete as palavras do professor e também diz que o xadrez "mudou sua vida": conforme foi ensinando o esporte, percebeu que é isso o que quer fazer quando crescer. “Com o xadrez, aprendi a respeitar o próximo, a ajudar as outras crianças. Muitas delas, em vez de andar pela rua, podem fazer algo legal como jogar xadrez. Me sinto tão bem jogando que não sei explicar”, diz, empolgada. Maria conta que, além de dar aulas, treina muito, pois quer continuar participando de competições e, inspirada pelo professor Cleiton, continuar a dar aulas. Sobre ensinar outros alunos, Maria conta que, no início, não era tão fácil, mas agora se diverte muito. “Eu penso que poderia ser eu ali, querendo aprender. Então se eu der atenção a elas, as crianças irão aprender”, ensina.

O projeto deu tão certo que, neste ano, o jogo foi incluído no currículo da escola e todos os alunos terão uma aula semanal para aprender a jogar, além das aulas complementares. O professor explica que tenta utilizar o xadrez das mais diversas formas, para atrair cada vez mais alunos. Atividades como oficinas, palestras com jogadores profissionais, jogos nas praças da cidade e torneios são desenvolvidas. Um exemplo é o xadrez gigante, onde os alunos jogam em cima de um grande tabuleiro disposto no chão. “O jovem quer novidade. Se tivéssemos mantido apenas o tabuleiro tradicional, o projeto não teria crescido tanto. Atualmente, atendemos cerca de 800 alunos. Os estudantes também irão produzir um curta-metragem relacionado ao xadrez nesse ano”.

Segundo o professor, com o ensino do xadrez, o desempenho em sala de aula melhorou não só nas disciplinas exatas, mas também em matérias da área de humanas, além de desenvolver a socialização. Em uma análise feita com 17 monitores, foi constatado um crescimento das notas de 4,3% do primeiro para o terceiro bimestre do ano letivo. Também foi verificado que, em comparação com alunos que não jogam xadrez, 93,3% das médias dos alunos adeptos ao esporte são maiores. Também houve resultados esportivos: o aluno Clécio França dos Santos, em menos de um ano desde que aprendeu a jogar, conquistou o 14º lugar no Campeonato Brasileiro de Xadrez.

Além de estimular o raciocínio lógico, a memória e a concentração, o esporte estimula a socialização, como no xadrez gigante organizado pelo projeto do professor Cleiton
Além de estimular o raciocínio lógico, a memória e a concentração, o esporte estimula a socialização, como no xadrez gigante organizado pelo projeto do professor Cleiton
Foto: Luciana Dotto / Divulgação

Manaus: lei de 2014 incluiu xadrez na rede municipal

Além do Mato Grosso, outros Estados incentivam o uso do xadrez como ferramenta pedagógica. Em Manaus, no Amazonas, foi sancionada a Lei 1.833\2014, no dia 6 de janeiro, que institui o incentivo a aprendizagem do xadrez na rede municipal, por meio de medidas que divulguem o jogo. 

Segundo a gerente do Departamento de Ensino Fundamental (DEF) de Manaus, Marcionília Bessa da Silva, antes da lei já eram desenvolvidas atividades envolvendo o esporte, como no programa Matemática Viva, em que o professor ensina o xadrez como um recurso pedagógico da disciplina de matemática, dentro da estrutura curricular das escolas. No final do ano, a Secretaria de Educação organiza um campeonato municipal. “A lei vem como uma garantia para reforçarmos a importância de ensinar o xadrez nas escolas, pois o jogo desenvolve as habilidades cognitivas das crianças, além do convívio e respeito das regras. Como é utilizado dentro da escola, como um processo educacional, deixa de ser apenas competitivo”, explica. Os professores recebem uma formação específica para poder utilizar o xadrez em sala de aula, de acordo com a necessidade dos conteúdos passados.

Faltam professores capacitados

Em São Paulo, no colégio particular Albert Sabin, o professor e mestre internacional de xadrez, Antônio Carlos Resende introduziu o jogo como parte do currículo escolar, do 2º ao 5º ano, há 20 anos. Resende explica que o xadrez traz diversos benefícios principalmente para crianças em idade de formação, desenvolvendo a memória e a criatividade, que serão aproveitadas em outras disciplinas. “O xadrez é um investimento barato, o material é barato. Mas para ensinar é preciso capacitação”, diz. 

De acordo com o professor, a prática do jogo nas escolas brasileiras só não se desenvolve mais por falta de material humano, ou seja, professores capacitados a ensinar. Se as universidades incluíssem o xadrez nos currículos de cursos pedagógicos ainda na graduação, como matemática ou educação física, o professor acredita que as escolas teriam mais condições de trabalhar o esporte adequadamente e a prática se expandiria.

Resende também destaca que a tecnologia chegou para agilizar e melhorar as aulas. “A geração atual trabalha muito com imagens, e com a ferramenta digital é possível mostrar as jogadas mais rapidamente”, explica. Os benefícios do ensino do xadrez desde o início da formação educacional dos alunos são muitos, e o jogo deveria ganhar uma atenção maior dos educadores brasileiros. “O objetivo principal é que o jogo exercita o pensamento. Ensinamos à criança a habilidade de pensar, o que transformará a vida dela".

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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