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65 mil tons de cinza: você sabia que o Hubble não faz imagens coloridas?

24 abr 2013 - 12h12
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O Telescópio Espacial Hubble (HST, na sigla em inglês) é conhecido por fornecer algumas das fotos mais famosas e impressionantes do espaço. Mas você sabia que as imagens que conhecemos são alteradas artificialmente? As capturas espaciais do telescópio são produzidas e coloridas para despertar o interesse do público, salientar detalhes sutis dos objetos e mostrar aquilo que, de outra forma, o olho humano jamais enxergaria.

As câmeras do Hubble não produzem imagens coloridas. Na verdade, elas possuem filtros para separar as diferentes cores da luz coletada pelo telescópio, e, assim, registram imagens em escala de cinza. “As imagens do Hubble têm mais de 65 mil tons de cinza”, explica Gustavo Rojas, doutor em Astronomia pelo IAG/USP e físico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

O processo

A maioria das imagens do Hubble são publicadas apenas em revistas especializadas. Só algumas são selecionadas para ganhar tratamento artístico e divulgação ao público. Para isso, o primeiro passo é analisar os dados do telescópio e escolher uma imagem de interesse científico que possa, ao mesmo tempo, cativar leigos e especialistas.

Sequência mostra a produção de uma imagem do Hubble. Os primeiros quadros são de três exposições diferentes e registram enxofre (1, em vermelho na imagem final), hidrogênio (2, verde) e oxigênio (3, azul). O quadro 4 mostra a primeira tentativa de uma imagem composta, que é aperfeiçoada até a composição final (9)
Sequência mostra a produção de uma imagem do Hubble. Os primeiros quadros são de três exposições diferentes e registram enxofre (1, em vermelho na imagem final), hidrogênio (2, verde) e oxigênio (3, azul). O quadro 4 mostra a primeira tentativa de uma imagem composta, que é aperfeiçoada até a composição final (9)
Foto: ESA / Divulgação

De acordo com Zolt Levay, chefe da equipe de imagem do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, os dados são processados para tornar as imagens visualmente atraentes e para aplicar cor a cada uma das imagens separadas, de forma a representar a cor da luz produzida pela imagem original. “Nós então combinamos essas imagens para produzir uma imagem colorida composta”, relata Levay, que é também o pesquisador-chefe do Hubble Heritage Project, equipe que cuida do legado educacional e científico do telescópio.

Até chegar ao resultado final, as imagens também sofrem ajustes no contraste e no brilho. “Defeitos” provocados pelas câmeras que não fazem parte da cena original também são corrigidos. Ao todo, o processo de colorização de uma imagem pode levar muitas horas. “Algumas imagens usam apenas uma imagem de uma câmera e outras usam várias, portanto precisamos combiná-las em um grande mosaico. Muitas vezes, usando diferentes cores, instrumentos e até telescópios”, argumenta Levay, responsável pela produção de algumas das imagens mais famosas do telescópio.

O uso das cores

A cor das imagens produzidas é resultado da combinação de imagens captadas por meio de diferentes filtros do Hubble. Somente a câmera WFPC3, por exemplo, possui 80 filtros. “Os astrônomos escolhem quais filtros vão usar com base nos objetivos de suas pesquisas”, esclarece Rojas.

Imagem mostra como uma imagem é construída com cores diferentes
Imagem mostra como uma imagem é construída com cores diferentes
Foto: ESA / Divulgação

Na maior parte das imagens, a cor representa os processos físicos reais dos objetos no espaço. “Por exemplo, algumas estrelas são mais frias e parecem vermelhas, enquanto outras são mais quentes e parecem azuis. Nós tentamos fazer imagens que mostram esses processos, mas que também são visualmente atraentes”, destaca o pesquisador do Hubble.

As cores das imagens do telescópio são atribuídas por várias razões, seja para aperfeiçoar os detalhes de um objeto ou para reproduzir como o olho humano enxergaria determinado objeto celeste. Nesse caso, o mais comum é criar imagens nos filtros vermelho, verde e azul. “Costuma-se usar o sistema RGB (sigla em inglês para o nome das três cores) para dar cor aos objetos, pois ao combinar essas três cores é possível obter praticamente qualquer cor que o olho humano pode enxergar”, justifica o físico da UFSCar.

Realidade

Mas será que, se um ser humano se posicionasse ao lado do objeto fotografado pelo Hubble, as cores vistas por ele corresponderiam às da imagem final produzida? Nem sempre. Isso porque algumas imagens são feitas nos filtros ultravioleta e infravermelho, que nossos olhos não conseguem captar. “Um mesmo objeto astronômico pode ter aparências muito diferentes, dependendo do comprimento de onda em que é observado. Por exemplo, a luz infravermelha revela a emissão das regiões mais frias do objeto, enquanto a ultravioleta as mais quentes”, revela Rojas.

Imagem mostra uma composição com exposições em sete filtros diferentes
Imagem mostra uma composição com exposições em sete filtros diferentes
Foto: ESA / Divulgação

Portanto, a fim de tornar visível um objeto ao olho humano, os astrônomos atribuem cores falsas à imagem. “Costuma-se usar o vermelho para as radiações de menor energia e azul para as de maior energia. O resultado é uma imagem colorida que simula a aparência do objeto caso o olho humano fosse sensível à luz ultravioleta ou infravermelha”, aponta Rojas.

Além de tornar visível o que não poderia ser visto pelo olho humano, o trabalho de colorização das imagens do Hubble possibilita uma compreensão maior do universo e permite uma aproximação do público, tornando a ciência mais acessível. “Fazer belas imagens coloridas ajuda a contar a história das descobertas possíveis com o telescópio Hubble. Nós tentamos mostrar como as coisas podem ser bonitas no espaço, assim como as paisagens são na Terra”, salienta Levay.

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