O que é mais fácil: ser atingido por um raio ou ganhar na Mega-Sena? Cartola - Agência de Conteúdo Um décimo de segundo pode ser o suficiente para matar alguém. É, em média, o tempo mínimo que dura um raio. No Brasil, morrem cerca de 130 pessoas vítimas de raios por ano. A cada 50 mortes desse tipo no mundo, uma é aqui. O estrago vai além do efeito fatal: cerca de 500 pessoas ficam feridas anualmente em decorrência de descargas elétricas. Desses ferimentos, podem surgir os mais variados tipos de sequelas - tanto físicas quanto psicológicas. A nossa localização geográfica - o maior país da denominada zona tropical do planeta - justifica a incidência de mais de 50 milhões de raios por ano. Aqui, o clima é mais quente e favorece a formação de tempestades, o que acaba por ocasionar a incidência de raios. O coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Osmar Pinto Junior, acredita que 80% das mortes ocorridas por raios no Brasil poderiam ser evitadas se a população tivesse consciência do que fazer quando ocorrem as tempestades. Desde 2000 até 2012, 1.601 pessoas morreram no Brasil, atingidas por raios. Recentemente, foi lançado o documentário Fragmentos de paixão, que apresenta a temática dos raios sob uma perspectiva histórica, cultural e científica, uma dica para quem quiser saber mais sobre o assunto. A seguir, veja 10 curiosidades sobre raios. Especial para o Terra Segundo a pesquisa desenvolvida pelo Elat, a chance de uma pessoa ser atingida por um raio gira em torno de uma para 1 milhão. Acha difícil? É mais fácil do que acertar na Mega-Sena, cuja probabilidade de uma aposta simples é de uma em mais de 50 milhões. Ao contrário do que se acredita, não é a incidência direta do raio a maior causadora das mortes. As descargas elétricas dos raios podem provocar incêndios ou queda de energia, o que pode não só atingir uma pessoa, mas também causar a sua morte. Nas estatísticas do Elat, as 1.601 mortes registradas entre 2000 e 2012 são ocasionadas pela incidência do raio diretamente na pessoa. A descarga pode causar queimaduras e danos no corpo humano dos mais variados tipos. Quando o raio atinge diretamente, a maioria das mortes é causada por parada cardíaca e respiratória. Quem sobrevive sofre para o resto da vida com sequelas psicológicas e funcionais. Além das mortes, cerca de 500 pessoas ficam feridas anualmente no Brasil em decorrência da incidência de raios. Sim. Uma prova de que isso é verdade é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. A oitava maravilha do mundo recebe não duas, mas ao menos seis descargas atmosféricas por ano, segundo pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE. A origem do mito de que um raio não cai duas vezes em um mesmo lugar está na cultura indígena, que usa pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos. O relâmpago é toda descarga elétrica emitida por uma nuvem. Já o raio é a descarga elétrica que toca o solo. E, por último, um trovão é simplesmente o som produzido pela descarga elétrica. Embora o barulho assuste a maioria das pessoas, em geral ele é inofensivo. Um trovão forte pode chegar a 120 decibéis. Para se ter uma noção, o nível é equivalente ao que ouve uma pessoa nas primeiras fileiras de um show de rock. Tipicamente, um raio possui a energia de 20 a 30 mil amperes. Dependendo da intensidade, ele pode variar de 2 mil até 200 mil amperes. Para se ter uma ideia, uma corrente de um chuveiro elétrico tem apenas 20 amperes. Ou seja, um raio pode ter mil vezes a intensidade da corrente de um chuveiro elétrico. Em termos de duração, também há variação. Em média, eles podem durar desde 1/10 até um terço ou meio de segundo. Segundo o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE, Osmar Pinto Jr, há registro de raios que duraram até dois segundos. “Quanto maior a duração, maior o efeito do raio”, destaca. Nas regiões norte, nordeste e centro-oeste do Brasil não existem estudos detalhados para definir se existe variabilidades em relação aos raios. O número de 1.601 mortes provocadas por raios coloca o Brasil numa disputa pelo quarto lugar com o México no ranking de mortes por raios no mundo. A lista considera apenas países com órgãos confiáveis no registro dessas estatísticas - não é o caso do Congo, por exemplo, que, apesar de ficar fora do ranking, apresenta altas incidências e mortes por raios. Em primeiro lugar, está a China. Em segundo, a Índia e, em terceiro, a África do Sul. “É um número grande que devemos tentar minimizar”, alerta o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE, Osmar Pinto Junior. A tendência nas próximas décadas é que a quantidade de raios aumente no Brasil. Em parte, isso é devido ao aquecimento global e ao crescimento das cidades, que formam ilhas de calor. As cidades próximas do oceano tendem a diminuir a incidência de raios. Isso se dá, pois os oceanos são planos e apresentam uma superfície uniforme, o que estabiliza a atmosfera, explica o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE, Osmar Pinto Junior. “A tendência é que tenha menos raios nas cidades costeiras”, destaca. Mas apesar de haver menos raios, as praias são lugares descampados e, caso a pessoa estiver dentro do mar, ela deve ficar alerta. A água salgada é uma boa condutora de eletricidade. A morte é provável no caso de alguém que esteja dentro do mar durante uma descarga elétrica ocorrida em um raio de dois quilômetros, tamanha é a corrente elétrica conduzida. Na terra, se um raio incide a 50 metros de alguém, ele pode matar. Já a 200 metros, a corrente elétrica vai ser fraca. Segundo o Ranking Geral de Incidência Anual, o Sergipe ocupa a última posição, com uma média de 0,01 milhões de raios por ano. O estado também é o último no Ranking por Densidade, que apresenta o número de raios por quilômetro quadrado por ano - 0,60 no caso de Sergipe. Entretanto, no ranking de mortes, o estado não ocupa a última posição. Ele fica em antepenúltimo, com quatro mortes, de 2000 até 2012. Atrás dele estão a Paraíba e o Amapá, empatados com três mortes cada um. Os raios são formados por uma sequência de processos. O vapor de água presente na atmosfera próximo ao solo é jogado para cima. Se ele é jogado com bastante força, se torna partícula de gelo em uma altura de aproximadamente cinco quilômetros da atmosfera, pois quanto mais alto, menor é a temperatura. O conjunto de partículas que subiu e se transformou em gelo, por atrito, se eletriza dentro da nuvem. As cargas elétricas se acumulam e formam uma faísca, que dá origem a uma descarga. Quando sai na nuvem e atinge o solo, origina o raio. A estimativa é que uma em cada cinco faíscas sai da nuvem e acaba atingindo o solo, formando os raios. Existe uma série de fatores. Um deles é quanto mais próximo do Equador, as temperaturas ficam mais altas e isso favorece a ocorrência de raios. Não se pode esquecer que a umidade é necessária, o vapor de água e as nuvens também. A Amazônia é uma floresta bastante úmida. Outro fator que deve ser considerado é que próximo da região equatorial existe um choque de massas de ar: a massa que vem do sul em direção ao equador e a massa que vem do norte em direção ao equador. Lá, elas se chocam. “Esse movimento é chamado de Zona de Convergência Intertropical”, explica o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE, Osmar Pinto Junior. Resumidamente, os dois hemisférios se encontram e se chocam sobre a Amazônia. Se você está dentro de casa, é aconselhável evitar o uso do telefone com fio, se afastar de tomadas, canos, janelas e portas metálicas. Além disso, deve-se evitar o toque em equipamentos ligados à rede elétrica. Se você estiver na rua, ir para dentro do carro e manter as janelas fechadas é uma boa alternativa - a parte externa metálica conduz a eletricidade para fora, protegendo quem está no seu interior. Casas ou prédios também são seguros, preferencialmente aqueles que possuem proteção contra raios. Caso a sua cidade tenha um em abrigos subterrâneos, como metrô, por exemplo, também é um local aconselhável de permanecer. Também é recomendável não empinar pipas e não andar a cavalo. Caso não haja um local seguro a céu aberto, as pessoas devem ficar agachadas. O risco aumenta se você, por acaso, estiver carregando um objeto metálico longo - como tripés, varas de pescar e tacos de golfe (não é comum, claro, mas é bom saber). Além disso, árvores, áreas descampadas, estacionamentos e cercas de arames oferecem grandes riscos nessas situações e não irão proteger você. mais especiais de educação