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Escolas do País entram no mercado da preparação para o Enem

19 out 2012 - 09h59
(atualizado em 1/11/2012 às 18h49)
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Com um maior número de instituições públicas aceitando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como parte do seu processo de seleção, a prova vem recebendo uma atenção das escolas que vai além da sala de aula. Mesmo com as aulas de revisão que entraram na grade normal de muitas instituições de ensino médio nos últimos anos, colégios como o Anglo de Artur Nogueira (SP) e o Jardim São Paulo, na capital paulista, oferecem aulas preparatórias pagas em horário extra. Assim ganha força o mercado da preparação para o exame.

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"Oferecido pela Abril Educação, o curso, chamado de Pré-Enem, tem a participação de professores do Curso Anglo de São Paulo e do Colégio e Curso pH do Rio de Janeiro, sendo transmitido pela Escola Satélite, do ramo de educação a distância. O curso, que começou em agosto deste ano, revisa os conteúdos cobrados no Enem e deve terminar em 31 de outubro. O coordenador de organização do colégio, Marcel Sgorlon, destaca que o serviço, que tem um custo de R$ 444, é oferecido para alunos do colégio e estudantes do ensino médio de outras escolas ou mesmo municípios vizinhos.

Segundo o gerente de relacionamento da Escola Satélite, Júlio Almeida, o Pré-Enem já está presente em 200 escolas e estabelecimentos de ensino fora do Grupo Anglo, em diversos estados brasileiros, desde São Paulo até Rondônia e Paraná, e tem foco exclusivo no exame, sem o compromisso de aprofundar o ensino de conteúdos não vistos de forma detalhada pelos alunos no colégio. "Poucos colégios trabalham com essa metodologia hoje, pois geralmente preparam seus alunos para o vestibular, e não para o Enem. O objetivo do curso é que o aluno desenvolva habilidades para se preparar para a prova, e não suprir falhas do ensino dos colégios", destaca.

Também com custo à parte da mensalidade, o Sistema Elite do Rio de Janeiro oferece aulas presenciais para estudantes de outras escolas e dos colégios do grupo, através do Projeto Enem. Com aulas nos finais de semana, entre agosto e outubro, o curso oferece, desde 2009, revisão dos conteúdos exigidos na prova, especialmente de ciências humanas, da natureza e matemática, a um custo de cerca de R$ 300. "Em tese, não haveria necessidade dos alunos do colégio fazerem o curso, pois também viram os conteúdos voltados para o Enem nas aulas convencionais, mas é um reforço, pois só lidamos com conteúdos cobrados no exame", afirma o diretor de pré-vestibular do Sistema Elite de Ensino, Helio Apostolo.

Escola de São Paulo terceiriza o serviço

Na escola Parthenon, de Guarulhos (SP), foi terceirizado o serviço de revisão dos conteúdos do ensino médio e dos vestibulares das universidades públicas, contratando professores para repassar as matérias vistas ao longo do ensino médio, no horário normal das aulas. "Desde 2010, contratamos professores terceirizados para fazer esse trabalho de revisão com um método bem similar ao de um cursinho. Com a diferença de que podemos escolher quais matérias serão revisadas a partir da necessidade de cada grupo", relata Eduardo de Oliveira, coordenador do ensino médio do Parthenon.

Esse serviço, que já é adotado em outros colégios, como o Piaget e o Jardim São Paulo (unidade Cataguases), ambos na capital paulista, basicamente revisa os conteúdos de todas as matérias vistas no ensino médio há cerca de cinco anos, exceto as línguas estrangeiras. Além disso, também oferece simulados. No Piaget, as aulas ocorrem durante o horário convencional da escola e não são cobradas à parte dos alunos, assim como no Parthenon.

Já no Jardim São Paulo, a revisão é feita em horários separados aos das aulas normais, e em um curso com um valor adicional, exceto para os 25 estudantes que obtiveram as melhores notas no segundo ano do ensino médio.

Segundo o diretor pedagógico da escola, Alfredo Dodsworth, o curso de revisão foi planejado como um serviço complementar oferecido pelo colégio, para os alunos que querem rever conteúdos de anos anteriores, a um custo de R$ 2.920 anuais. "A escola trabalha no sentido de preparar o aluno, mas não conseguimos realizar uma revisão paralela no terceiro ano. Assim, esse curso adicional que oferecemos é para o aluno que quer realmente revisar, o que é feito pela escola apenas no último bimestre. Mas de forma alguma ele existe para suprir eventuais falhas do colégio; tem apenas esse caráter de revisão, com um preço razoável, utilizado apenas para cobrir despesas", ressalta.

Para professor, serviço é estratégia de mercado

Para o professor Remi Castioni, da faculdade de educação da UnB, esse novo serviço terceirizado de revisão é adotado pelos colégios como uma estratégia de mercado, visando firmar-se como responsáveis pela aprovação de um grande número de estudantes no Enem. "É apenas uma inversão da lógica que tínhamos pouco tempo atrás, quando esses colégios diziam que aprovavam diversos estudantes nas universidades particulares; agora o foco é o Enem, pois a aprovação no exame é mais um valor agregado que as escolas vão anunciar, para continuarem com a sua clientela cativa de estudantes", opina.

Evaldo Colombini está à frente da direção da Educon, que desde 2007 oferece o serviço terceirizado de revisão para as provas do Enem e de vestibular para o Piaget, o Jardim São Paulo, o Parthenon e outros colégios de São Paulo. Colombini comanda uma equipe de 24 professores, que realizam nas escolas, segundo ele, o serviço de revisão de conteúdos que não foram aprendidos de forma plena pelos alunos, suprindo assim uma falha do sistema educacional brasileiro. "Quando fazemos a revisão, voltamos a esses conteúdos tentando lidar com essa deficiência, e isso não é falha do colégio, mas do sistema educacional como um todo, que faz com que o aluno receba uma carga muito pesada de informações, sem conseguir absorvê-las plenamente", afirma.

Para Colombini, a facilidade do ingresso nas universidades particulares e a adoção do Enem como sistema de entrada em instituições públicas em todo o país foram responsáveis pela perda de força dos cursinhos pré-vestibulares. "Houve uma diminuição considerável no número de alunos dos cursinhos, mesmo nas aulas diurnas, onde se concentram os alunos que vão pleitear as vagas dos cursos mais disputados dos vestibulares. A tendência é que se estabilize o número de alunos, mas em contingentes muito menores do que antes", analisa.

Castioni também acredita que esses fatores causaram uma diminuição da força dos cursinhos pré-vestibulares no país ao longo dos últimos anos. "A estabilização na renda da chamada nova classe média, o aumento de vagas nas universidades federais e o barateamento das universidades privadas diminuíram muito a presença dos cursinhos", destaca. Dessa forma, nos próximos anos, a tendência é que ocorra um desaparecimento gradual destes cursos. "Os cursinhos tendem a desaparecer no futuro; não sei precisar exatamente quando, mas eu creio que a pressão sobre o sistema educacional, provocada pela taxa de fecundidade, que vem caindo bastante, tende a reduzir muito até 2030, o que seria determinante para o fim dessas instituições", ressalta.

Coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, a professora Marcia Malavasi afirma que a terceirização da preparação para o Enem e para o vestibular feita pelas escolas prova como o sistema educacional brasileiro ainda é deficitário, mas diferentemente de Colombini e Castioni, não acredita que o mesmo seja uma ameaça à hegemonia dos cursinhos pré-vestibulares. Dessa forma, ele seria apenas mais um serviço similar de capacitação dos estudantes para ingresso em instituições de ensino superior. "O colégio terceiriza o treinamento antes feito apenas pelos cursinhos, e isso mostra como estamos mal em educação, pois não deveríamos precisar desse serviço. Contudo, não acredito no fim dos cursinhos: com uma política educacional tão ruim como a nossa, vão aparecer outros atalhos para que as famílias comprem esses serviços em busca do sonho de seu filho ter um ensino superior de qualidade", destaca.

Enem

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo governo federal com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica. A partir de 2009, o teste passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para ingresso no ensino superior.

Neste ano, as provas serão aplicadas nos dias 3 e 4 de novembro, sábado e domingo, em todo o País, a partir das 13h (pelo horário de Brasília). No primeiro dia, o candidato resolverá as questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, com duração de 4 horas e 30 minutos, contadas a partir da autorização do aplicador para início das provas. No segundo dia, serão realizados os testes de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, e Redação, com duração de 5 horas e 30 minutos, igualmente contadas a partir da autorização. O participante só poderá levar o caderno de questões ao deixar em definitivo a sala nos últimos 30 minutos. O gabarito tem divulgação prevista para 7 de novembro e os resultados, para 28 de dezembro.

Desde o dia 10 de outubro, os cartões de confirmação da inscrição contendo número de registro, data, hora e local de realização das provas, indicação de atendimento diferenciado e/ou específico, opção de língua estrangeira e solicitação de certificação (quando for o caso) estão sendo remetidos por via postal para o endereço informado pelo participante. As informações também estarão disponíveis no site http://sistemasenem2.inep.gov.br/. É obrigatória a apresentação de documento de identificação original com foto para a realização das provas.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo exame, recomenda que todos os candidatos compareçam ao local de realização das provas até as 12h (de Brasília). Participantes guardadores de sábado serão acomodados em salas e aguardarão até as 19h para iniciarem as provas no primeiro dia.

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