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Apartheid, luta social e esporte: como Mandela pode cair no vestibular

Nelson Mandela completa 95 anos nesta quinta-feira. A história do homem que rompeu com a segregação racial deve ser cobrada nas provas

18 jul 2013 - 09h36
(atualizado às 09h39)
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<p>O líder sul-africano completa 95 anos nesta quinta-feira</p>
O líder sul-africano completa 95 anos nesta quinta-feira
Foto: Getty Images

Nelson Mandela não sai dos noticiários por causa de sua saúde. E são grandes as chances de que o ex-presidente da África do Sul apareça, também, nas provas de vestibular e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O estudante deve saber que toda sua trajetória está ligada a temas sociais. Tanto que em 18 de julho, seu aniversário, é comemorado o Dia Internacional de Nelson Mandela, instituído pela ONU como símbolo da luta por paz, direitos humanos e igualdade racial.

Para o professor de atualidades e história do pré-vestibular Cursinho do XI Samuel Loureiro, há uma grande probabilidade de Mandela cair nos exames, não só por causa do agravamento da doença, mas também devido às manifestações recentes no Brasil, que podem ser comparadas às de outros períodos históricos. Além disso, há também a Copa do Mundo, cuja edição passada foi na África do Sul, enquanto a próxima será no Brasil. Confira estas e outras formas do líder sul-africano ser abordado nas provas.

Apartheid

Segundo Loureiro, para entender a importância de Mandela é preciso conhecer também a história do apartheid. O regime de segregação racial foi adotado entre 1948 e 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo, formado por uma minoria branca.

Loureiro explica que o racismo tornou-se obrigatório. "Havia leis diferentes para brancos, negros, mestiços e indianos, com separações em relação a território (muitas vezes com remoções forçadas), segregação na saúde, na educação e em outros serviços públicos, fornecendo aos negros condições inferiores às dos brancos", diz. Na década de 1970, os negros foram privados até mesmo de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das pátrias tribais autônomas chamadas Bantustões.

O apartheid trouxe violência e uma nova dimensão ao movimento de resistência interna, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul. Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a detenção de líderes antiapartheid, como Mandela, o principal deles. Loureiro ressalta que, apesar do forte papel exercido pelos protestos internacionais contra o regime segregacionista, o apartheid foi derrubado principalmente em função do grande bloqueio econômico organizado contra o país, que desestabilizou a economia sul-africana.

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Rolihlahla Madiba Mandela

Este foi o nome dado a Mandela quando nasceu, em 1918, no vilarejo de Qunu. De origem Xhosa, foi o primeiro da família a frequentar a escola, onde recebeu o nome inglês Nelson. Mais tarde mudou-se para Fort Beaufort com o objetivo de cursar a Faculdade de Direito da Universidade de Fort Hare. Ainda no início da graduação, ingressou no movimento estudantil, e por sua luta contra as políticas acadêmicas foi expulso da universidade. Mudou-se para Johanesburgo e concluiu por correspondência o curso, na Universidade da África do Sul.

Na mesma época também se envolveu com a luta pelos direitos dos negros, uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA), lançando a Liga Jovem do CNA e liderando protestos pacíficos, que em sua maioria consistiam em frequentar espaços destinados a brancos. Nos anos seguintes, tornou-se comandante do Umkhonto we Sizwe (Lança de uma Nação, também conhecido como MK), braço armado do CNA e se engajou na luta armada. Em 1962, Mandela foi sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Dois anos depois, foi condenado à prisão perpétua por sabotagem e por conspirar para ajudar outros países a invadir a África do Sul.

Durante os 27 anos em que esteve preso, Mandela se tornou um símbolo antiapartheid, mesmo em uma prisão de segurança máxima e isolado. Seu nome foi associado tão fortemente à luta que o slogan "Libertem Nelson Mandela" virou lema das campanhas ao redor do mundo. Quando foi libertado, em 1990, um marco no fim do apartheid, Mandela já tinha 72 anos e uma saúde debilitada. Sua soltura, ocorrida por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk, rendeu a ambos o Prêmio Nobel da Paz, em 1993.

Só em 1994 foram realizadas eleições multirraciais e democráticas na África do Sul, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Mandela, primeiro presidente negro do país, cargo que ocupou até 1999. Como governante, enfrentou o grande desafio de reunificar o país após décadas de segregação, por isso, pode ser citado em questões ligadas ao preconceito racial nas provas.

A força do esporte

"A luta pelo final do apartheid começou no campo político, mas foi na área esportiva que ganhou uma dimensão maior, com projeção internacional", afirma Loureiro. Durante a vigência do regime de segregação, a África do Sul sofreu boicotes em todos os esportes e foi proibida de participar de competições internacionais. Até mesmo no rugby, em que os boicotes foram mais brandos, houve episódios marcantes de hostilidade.

À época, o rugby era o esporte mais popular do país, mas praticado por brancos, enquanto o futebol era de negros. Por isso, apesar da Copa do Mundo de Rugby de 1995 ter se tornado famosa por promover a união da população, o Mundial de Futebol de 2010, realizado no país, também foi um marco nos esforços pela reunificação do país.

"O racismo não terminou com o fim do apartheid, e foi muito simbólico ter brancos e negros na mesma arquibancada, unidos para torcer por um esporte 'de negros'. Apesar de não ser mais presidente, Mandela teve forte influência na realização da Copa na África, que fazia parte do projeto de unidade nacional a que ele deu início na década de 1990", explica Loureiro. Para o professor, com a proximidade da Copa no Brasil, em junho do ano que vem, é possível que o assunto seja abordado nas provas.

Luta pelos direitos humanos e contra a Aids

Com o término de seu mandato como presidente, em 1999, Mandela não abandonou a vida pública, voltou-se novamente ao ativismo. Mantêm o Nelson Mandela Foundation e o fundo de arrecadação de recursos para o combate da Aids chamado 46.664 - número pelo qual era designado quando estava na prisão.

Em 2004, Mandela anunciou que se retiraria da vida pública devido a seu delicado estado de saúde. No entanto, fez algumas exceções, em eventos de fundações que apoia, na celebração de seu aniversário de 90 anos (um ato público com shows, que ocorreu em Londres em 2008) e durante a Copa de 2010.

Sugestões de filmes

Para aliar estudo e lazer, Loureiro recomenda dois filmes que contam momentos importantes da trajetória do líder sul-africano: Mandela: Meu Prisioneiro, Meu Amigo (2007) e Invictus (2009). De acordo com o professor, os dois são fiéis à história original. O DVD de Invictus até contém, entre os extras, um pequeno documentário sobre a história contada pelo filme, inclusive com entrevistas com os personagens reais.

Mandela: Meu Prisioneiro, Meu Amigo conta a história de James Gregory, um sul-africano branco, carcereiro e vindo de uma família com tradição na profissão (bastante valorizada no país, à época), que é designado para ser o guarda prisional de Mandela e seus companheiros. Falar o idioma Xhosa e poder atuar como espião levaram Gregory à função. Na prisão de segurança máxima, dentre suas funções estava a de censor de toda a comunicação entre os prisioneiros e seus visitantes, além de inspecionar a correspondência. No entanto, com o passar do tempo, Gregory tem sua visão de mundo progressivamente alterada pela convivência com Mandela, que se torna um amigo.

Já Invictus trata da Copa do Mundo de Rugby de 1995, a primeira realizada na África do Sul. Mandela havia sido eleito presidente recentemente e tinha a difícil tarefa de promover a união do país, dividido por décadas de aparthaid. O rugby era o esporte mais popular, mas era considerado "de brancos", motivo pelo qual não atraía a simpatia da população negra. Com a proximidade da Copa, Mandela buscou no capitão da seleção, François Pienaar, um aliado e convocou brancos e negros a torcerem juntos. "Invictus" ainda é o título de um poema do britânico William Esnest Henley, que Mandela usou como oração durante o cárcere e foi adotado como a oração oficial da seleção de rugby durante a Copa.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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