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UC-Chile: sucesso vem do investimento em pesquisa e docência

À frente da melhor universidade latino-americana, Ignacio Sánchez Díaz comenta melhorias e reforma estudantil no Chile

11 ago 2014 - 16h46
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O reitor Ignacio Sánchez Díaz no III Congresso Internacional de Reitores Universia
O reitor Ignacio Sánchez Díaz no III Congresso Internacional de Reitores Universia
Foto: Della Rocca Imagens / Divulgação

À frente da Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC-Chile), considerada a melhor universidade da América Latina em 2014 pelo ranking da empresa de consultoria educacional QS, o reitor Ignacio Sánchez Díaz explica a ascensão da instituição do segundo ao primeiro lugar com a contratação de mais professores, investimentos em pesquisa científica e uma melhor apresentação da universidade na internet. O topo do ranking era ocupado pela Universidade de São Paulo (USP) nos últimos três anos.

A contratação de novos professores possibilita um estreitamento dos laços entre os docentes e alunos. “Temos uma política de contratar mais professores para ter uma relação entre aluno e professor mais adequada para o ensino, favorecendo reuniões de grupos pequenos, seminários, não apenas classes amplas”, explica. Em média, as classes da universidade têm cerca de 60 alunos, mas os grupos de estudos e seminários têm apenas 10 ou 20.

Mesmo com investimento em novas tecnologias para ensino a distância, Díaz acredita que o contato do aluno com o professor não deve ser substituído. “É importante que, quando um aluno estuda um tema, ele possa conversar com professores”. Entre os investimentos, estão os MOOCS, cursos de larga escala, a educação a distância e programas de Master Blending, realizados metade presencialmente e outra metade no ambiente virtual.

Na onda de melhorias, o reitor chileno também destaca que a pesquisa científica na universidade não está apenas sendo fomentada, mas que também existe preocupação com sua qualidade. “Nos últimos anos, nossa universidade veio crescendo muito em pesquisas, 10 ou 12% ao ano, sendo que, em 10 anos, esperamos que o número de publicações duplique. A qualidade da pesquisa científica tem sido cada vez maior. Já vemos isso nos índices de citações e de impacto, onde temos diferenças com as outras universidades da região. Cada uma de nossas publicações é citada cerca de 30 vezes a cada 10 anos e as de outras universidades, 22 ou 24 vezes".

Díaz também comenta a preocupação da UC chilena em unificar os endereços na internet das faculdades que fazem parte da instituição (por exemplo, a de medicina inclui a abreviação med, a de engenharia, a abreviação ing, do espanhol),o que causa um alcance baixo em índices como o Google Metrics. A unificação possibilitaria que toda a produção científica, quando buscada na internet, leve à universidade no geral e não somente a alguma faculdade.

Além disso, o fato de a UC publicar muitos artigos internacionalmente, incentivando seu aluno a aprender inglês para que publique mais no idioma global, também aumenta a visibilidade da instituição. Ao ingressar na universidade, os alunos da graduação fazem um exame para medir sua proficiência na língua inglesa. Caso não passem, a UC oferece três cursos da língua dentro da formação, para que o aluno aprenda a ler artigos científicos e a se expressar no idioma. Na pós-graduação, é possível optar por cursos que também são ministrados em inglês, além do espanhol.

"Neste ano, tivemos cerca de 1.600 publicações em revistas internacionais, 90% delas em inglês nos Estados Unidos e na Europa, e uma porcentagem menor na América Latina. E as que estão publicadas aqui também têm versões em inglês, em revistas bilíngues. O impacto da ciência em um idioma comum chega a muito mais pessoas, isso é muito claro”.

Essas publicações também contribuem para uma maior internacionalização na instituição, assunto muito lembrado quando se fala no futuro do ensino universitário. Díaz informa que, em 2014, a universidade, que tem 26 mil estudantes no total, já recebeu 1.600 alunos estrangeiros e envia para o exterior cerca de 600 alunos por semestre.

“No nosso caso, a internacionalização tem mais ou menos 25 anos de história. E cresce muito. A cada ano, são 100 ou 150 estudantes a mais. Em 2015, esperamos 1.800 estrangeiros. Eles vêm dos Estados Unidos, da Europa, da Austrália. Do Brasil, chegam mais ou menos 50 a cada ano, e 40 saem do Chile para o Brasil. Nossa principal universidade relacionada é a USP. Também mantemos projetos de química e literatura com a Unicamp e de engenharia na PUC do Rio de Janeiro”.

A reforma educacional no Chile

Desde 2011, o cenário educacional chileno vem sendo alvo de protestos pelo país, com estudantes insatisfeitos com a qualidade e o preço da educação. Em 2013, a presidente Michelle Bachelet se reelegeu tendo como um dos principais pilares de seu programa de governo a reforma educacional.

No Chile, a disparidade de qualidade entre a educação pública e privada é grande. O reitor Díaz explica que existem duas frentes na reforma. A primeira foca na reforma escolar, no aumento do número de alunos na pré-escola. A segunda fala em aumentar a qualidade da educação pública. “Hoje em dia, aqueles que não têm recursos vão à educação pública e os que têm, à educação privada. A qualidade das duas é muito distinta. Então a reforma escolar quer aumentar a qualidade da pública. Também quer promover uma igualdade de oportunidade entre os dois grupos”, explica. Ainda segundo o reitor, o Chile, que tem cerca de 17 milhões de habitantes, registra 4 milhões na educação escolar.

Na educação universitária, as grandes linhas da reforma pretendem avançar na gratuidade do ensino e no fomento às pesquisas. Hoje, todas as universidades chilenas têm uma taxa para o estudante, tanto públicas quanto privadas. A diferença é um custo de 20% a mais nas privadas. A gratuidade é reservada para os 60% mais pobres da população. Díaz explica que o governo atual quer subir essa taxa de ensino grátis para 70% ou 80%, mas os estudantes a reivindicam para todos.

“O problema é que há outras necessidades também, como a saúde. Eu pessoalmente penso que não tem por que ser grátis se eu posso pagar. Prefiro que esses recursos sejam direcionados para quem não pode pagar, os 80% da população. Se o aluno tem um problema e está nos 20% que tem como pagar, pode pedir um empréstimo, um financiamento, e depois pagar em 3 ou 5 anos” opina Díaz.

O impacto financeiro seria inevitável. Quando recebe um estudante que está dentro dos 60% mais pobres, o Estado repassa apenas 75% do valor que a universidade privada cobraria de um pagante. “É um impacto forte. Teríamos de ver como cobrir essa diferença, que impactaria nos professores, que em 30% do tempo fazem docência e em 70% fazem pesquisa. Se o Estado não nos permite isso, a qualidade da pesquisa vai diminuir. Precisamos seguir avançando na qualidade e também em como vamos apoiar as universidades para que formem bons núcleos de pesquisa”, aponta Díaz, citando os centros de pesquisa brasileiros como exemplos a serem seguidos pelo Chile.

Atualmente, 90% do financiamento de pesquisas na UC vem do Estado e 10% de empresas. O valor do repasse anual totaliza cerca de US$ 40 milhões.

Reitor da USP critica ranking

O reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antonio Zago, comentou a perda do primeiro lugar no ranking para a UC do Chile em um encontro com jornalistas, realizado no III Congresso Internacional de Reitores Universia, promovido pelo banco Santander em julho, no Rio de Janeiro.

“A colocação nesses rankings têm variações próprias nas medidas, que variam de ano para ano, não têm uma consistência muito grande. E também nós não podemos comparar a missão de duas universidades tão diversas quanto essas, uma altamente abrangente e gratuita. A outra é mais restrita”. De 2011 a 2013, a USP ocupou a primeira posição no ranking da QS, seguida pela UC.

Ao mesmo tempo, Zago também afirmou que é preciso olhar para os indicadores como medidas que “ajudam a promover modificações na universidade, não como um jogo”. O ranking leva em consideração critérios como reputação acadêmica da instituição, artigos e suas citações, corpo docente com doutorado e impacto na internet.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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