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Ruanda aposta em tecnologia para superar passado e se transformar

20 out 2013 - 20h14
(atualizado às 20h25)
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<p>Projeto Um Laptop por Criança já levou 200 mil computadores portáteis a mais de 400 escolas do país</p>
Projeto Um Laptop por Criança já levou 200 mil computadores portáteis a mais de 400 escolas do país
Foto: BBC News Brasil

Olive Uwineza, 12 anos, sonha em se tornar presidente quando crescer. Ela estuda em uma sala de aula com outros 30 alunos, em uma escola primária de alta tecnologia em Kigali, Ruanda.

Cada estudante tem um laptop, que usa animações para tornar as aulas mais divertidas.

As matérias favoritas de Olive são matemática e ciências, e ela acha que seria "muito difícil fazer as lições" sem o computador.

Cinco anos atrás, o projeto Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês) foi lançado na escola de Olive, com apoio do governo e de ONGs. Desde então, 200 mil computadores portáteis foram distribuídos em mais de 400 escolas do pequeno país do leste africano.

A infraestrutura da escola de Olive também melhorou - foi modernizada com conexão wi-fi e softwares adaptados ao currículo escolar.

O projeto é um dos pilares da iniciativa Visão de Ruanda para 2020, que tem a ambiciosa meta de transformar o país em um de economia baseada em tecnologia, semelhante ao papel desempenhado por Cingapura no leste asiático.

Genocídio

Ruanda é mais conhecida pelo genocídio de 1994, em que integrantes da etnia hutu massacraram cerca de 1 milhão de pessoas - a maioria da etnia tutsi, mas também hutus contrários à carnificina.

Superar o genocídio e cicatrizar as feridas do país é uma das motivações do atual presidente, Paul Kagame, com o projeto 2020. Em entrevista à BBC, ele argumenta que o melhor acesso à informação poderia ter dado outras possibilidades políticas a Ruanda.

Diz, também, que a transformação do país em um polo tecnológico regional pode ajudar os ruandeses a "obter (melhores) empregos, alimentar suas famílias e reconquistar sua dignidade".

Ruanda cresceu mais de 7% no ano passado, e reformas governamentais têm estimulado investimentos estrangeiros. O Banco Mundial colocou o país como o terceiro melhor "para fazer negócios" na África Subsaariana.

Mas essas conquistas estão ameaçadas por recentes tensões diplomáticas com doadores, já que o país está sendo acusado de ajudar a treinar soldados mirins na vizinha República Democrática do Congo - acusações estas negadas pelo governo.

Em outubro, os EUA impuseram sanções contra Ruanda, algo que deve abalar a capacidade do governo em atrair apoio econômico externo para a iniciativa 2020.

Comunicações

Por enquanto, porém, os projetos continuam.

Clare Akamanzi é a executiva-chefe do Conselho de Desenvolvimento de Ruanda, criado para transformar a Visão para 2020 em programas tangíveis.

A meta, diz ela, é se tornar um país de renda média em 2020 e "evoluir de uma economia agrícola para uma baseada em conhecimento, sobretudo de alto valor agregado".

Neste ano, foi assinado um acordo com a empresa Korea Telecom para oferecer tecnologia 4G ao redor do país, com investimento estrangeiro de US$ 140 milhões.

O Estado instalou 3 mil quilômetros de cabos de fibra ótica nos últimos quatro anos e quer que a tecnolgia 4G ajude a melhorar a deficiente comunicação fora da capital Kigali.

"(Também) instalamos telecentros e pontos de serviço - infraestruturas comunitárias onde colocamos computadores", diz Akamanzi.

<p>Ônibus com salas de aula circulam pelo país ensinando informática à população rural</p>
Ônibus com salas de aula circulam pelo país ensinando informática à população rural
Foto: BBC News Brasil

E ônibus acoplados com salas de aula passaram a circular pelo país ensinando informática à população rural.

Resistência

Mas as novas tecnologias ainda não funcionam para todo o mundo.

Em um mercado nos arredores de Kigali, comerciantes compram grãos de agricultores locais.

Em 2007, esses agricultores receberam um aplicativo de celular, chamado e-Soko, criado para facilitar esse comércio por meio de mensagens de texto automáticas com os preços dos grãos.

Não funcionou: muitos agricultores dizem preferir o estilo tradicional de negociação cara a cara.

"Com o e-Soko (...) os preços não eram confiáveis", diz o agricultor Jean Baptiste Nzabamwita. "(Com a interação) podemos pechinchar."

Esse é um pequeno exemplo de como a sociedade pode resistir a mudanças tecnológicas.

Ruanda ainda é, em grande parte, um país rural. Por isso, tentativas de modernizar a economia terão de levar em conta o ritmo da população.

O governo diz estar ciente da brecha tecnológica em grande parte de Ruanda, mas Kagame alega que sua população começa a ser "recompensada pelo progresso".

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