PUBLICIDADE

Resultados do Ideb expõem abismo entre escolas no Rio de Janeiro

31 ago 2012 - 13h58
Compartilhar
Juliana Prado e Paula Bianchi
Direto do Rio de Janeiro

O resultado do Índice de Avaliação do Ensino Básico (Ideb) colocou em campos opostos e expôs o abismo entre muitas escolas, alunos e professores. De um lado, as escolas com bons resultados no levantamento, realizado em 2011, passaram dias comemorando. De outro, as instituições com números ruins amargam o baixo desempenho e a pressão em razão da desempenho insatisfatório.

Segundo diretora da Escola Municipal Carmélia Dramis Malaguti (MG), o ótimo desempenho dos alunos da 5ª série nos exames do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, se deve à preparação dos professores e também ao fato da escola ser muito bem equipada
Segundo diretora da Escola Municipal Carmélia Dramis Malaguti (MG), o ótimo desempenho dos alunos da 5ª série nos exames do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, se deve à preparação dos professores e também ao fato da escola ser muito bem equipada
Foto: Divulgação

Veja as 50 melhores e as 50 piores escolas no Ideb 2011

A reportagem do Terra esteve em duas das escolas cariocas que tiveram resultado abaixo da média no índice, criado para medir a qualidade do aprendizado e estabelecer metas para a melhoria da educação nacionalmente. Na Escola Municipal Desembargador Oscar Tenório, na Gávea, Zona Sul, a nota alcançada foi 2,5, a pior do Estado para as séries iniciais do Ensino Fundamental. Já no Colégio Estadual Lauro Sodré, em Higienópolis, Zona Norte, os dados são ainda bem mais alarmantes: nota 0,8 para as séries finais.

Enquanto as unidades bem avaliadas abriram suas portas durante dias para a divulgação dos números favoráveis, o clima na Oscar Tenório era de constrangimento. "Tem muita gente com receio de falar. As diretoras das escolas às vezes são orientadas a dar entrevistas bem neutras", disse um professor que chegava à escola e aceitou falar com a reportagem desde que não fosse identificado.

Com discurso indignado, ele lamentou o resultado da instituição, lembrando que há muitos alunos bons, mas que, segundo ele, "muitas vezes são esculhambados" pela realidade do ensino e pela falta de condições para estudar. "Eu sou a favor de avaliação sim, mas queria ver avaliar também o governador e o prefeito", disparou.

O diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação (SEPE), Haroldo Teixeira, confirma a pressão sofrida pelas direções das escolas que obtiveram baixas médias no Ideb. "A pressão é grande. Se o resultado é ruim, quem acaba aparecendo como culpado? Sobra para o professor. E ele é o menos culpado nessa história. As nossas condições de trabalho são horríveis", desabafou o dirigente.

Para Haroldo, a avaliação do Ideb acaba criando nos alunos das escolas bem avaliadas a "ilusão" de que a Educação está melhorando. E defende os professores e alunos da Oscar Tenório. "Avaliar qualidade de ensino é muito mais do que isso. Os professores da Oscar Tenório não têm culpa do resultado. É toda uma conjuntura".

A portas fechadas

Enquanto tentava conhecer de perto a realidade da Escola Oscar Tenório, a reportagem recebia a informação, passada por telefone pela diretoria adjunta, de que somente a titular do cargo poderia autorizar a entrada. No mesmo dia, a Secretaria Municipal de Educação foi contatada para intermediar a entrada em nova data, mas não retornou o pedido.

Do lado de fora do portão, um pequeno grupo de alunos "barrados" na entrada em função do atraso ensaiavam algumas reclamações. Um deles dizia que queria uma piscina na escola, "como a que tem lá na escola da Rocinha", que fica próxima à escola da Gávea. Ele ainda contou que em 2012 ficou um período sem professor de matemática, justamente a disciplina que, ao lado do Português, integra o levantamento do Ideb. Outra adolescente também reclamava da recorrente falta. A Secretaria Municipal de Educação negou que faltem docentes na rede. "Desde 2009, quando havia um déficit de 7,5 mil docentes, foram convocados 18.685 novos professores e realizados 12 novos concursos".

A rotatividade de professores, no entanto, foi confirmada pelo diretor do Sinpro-Rio, Afonso Celso Teixeira, que também é professor da Escola Oscar Tenório. "Foi justamente pela falta de professores que fui trabalhar lá. A rotatividade geralmente é muito grande. Inclusive, me ofereceram duas regências lá (duas turmas)", conta o dirigente.

Professor do oitavo e nono anos, Teixeira não era o titular da pasta em 2011. No entanto, ele sai em defesa dos professores e dos alunos da instituição da Gávea. "As pessoas ficaram meio surpresas com a nota da Oscar Tenório. E qual a razão para essa nota? São diversos os fatores. É tão calhorda avaliar pelo Ideb...".

O diretor do Sinpro diz que é favorável a que se tenha uma avaliação como forma de diagnosticar problemas, mas não para expor escola e professor. "A gente questiona é essa divulgação (dos números ruins). Se é para divulgar, temos que analisar: por que tem evasão (um dos critérios que entra no resultado do Ideb), por que tem notas ruins? Não é culpa do professor".

Em nota, a Secretaria de Educação informou que "tem uma sistemática que prevê que todas as escolas municipais com baixo desempenho no Ideb têm a gestão revista". A informação também é de que estas unidades de ensino "precisam apresentar à secretaria um plano de melhoria da aprendizagem de seus alunos, elaborado em parceria com uma escola madrinha escolhida entre unidades assemelhadas".

Sobre os constrangimentos a que estariam expostas as escolas com baixo desempenho, a secretaria disse que "não faz ranking das unidades, divulga e prestigia apenas as dez melhores escolas da rede" e que "entre as de 2011 estão uma na Pavuna e outra na Taquara, regiões controladas por milícias ou pelo narcotráfico".

Na escola Lauro Sodré a situação não é diferente, a instituição que atende do oitavo ano do fundamental, antiga sétima série, até o terceiro ano do Ensino Médio, ficou em último lugar no Estado do Rio na avaliação das séries finais, além de amargar a quinta pior colocação no ranking nacional - 30.838 de 30.842.

Enquanto a Secretaria de Estado de Educação aponta o fato de apenas uma turma de 9º ano ter sido avaliada e de a escola contar com "alunos adultos, com defasagem idade-série e que trabalham durante o dia e estudam somente no horário noturno" como motivos para última posição, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ (Sepe) diz que o resultado é fruto de uma política de sucateamento do ensino noturno.

"Faltam investimentos. Um dos motivos do aumento de 15 posições do Rio no Ideb foi o fechamento de escolas noturnas como a Lauro Sodré¿, afirma Alex Trentino, coordenador do Sepe. Segundo ele, 70 escolas noturnas foram fechadas pelo Estado apenas no ano passado.

"As verbas são distribuídas de acordo com o número de alunos e as escolas noturnas acabam sendo as mais prejudicas. No geral, esses alunos são trabalhadores que se esforçam para frequentar a sala de aula, e precisam de mais, não menos investimento", argumenta.

Para o secretário estadual de Educação, Wilson Risolia, o Estado apresenta um "crescimento robusto", e é preciso focar nos bons resultados. "Eu prefiro olhar que temos duas entre as cinco melhores. As escolas que geralmente tem o Ideb baixo são noturnas, são na capital e tem muita carência", diz ao afirmar que o Estado se esforça para corrigir esses casos.

"Muitos desses jovens trabalham, nós encontramos muitas turmas em que a idade varia de 15 até 70, 80 anos. Isso não é razoável, porque não aprende nem quem tem 15 nem quem tem 75." Além de noturna, a Lauro Sodré durante o dia atende pelo nome de escola municipal Dom João VI e é uma das 194 unidades educacionais do Estado do Rio que dividem espaço com colégios municipais.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade