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Projeto promove integração entre escolas via internet

13 mai 2014 - 10h56
(atualizado às 11h09)
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A vontade de mostrar para estudantes de outras escolas no Brasil a receita do “bolinho da avó” ou da “comidinha da mamãe” é o que empolga os alunos da professora Derci Aparecida de Faria Campos a participar do Projeto Crescer em Rede.

Promovida pelo Instituto Crescer, a iniciativa começou no dia 1° de abril de 2014 e pretende conectar estudantes de escolas públicas e particulares de diversos Estados por meio de atividades colaborativas na internet.

Moradores de um distrito de Mogi das Cruzes, no interior do estado de São Paulo, a turma do segundo ano do ensino fundamental, com 19 alunos, está animada para conhecer crianças de outras localidades. Segundo a professora, eles vivem em um local afastado do centro, na área rural, onde as crianças têm acesso "a uma paisagem linda" no próprio local onde estudam mas que, pelo isolamento, faz com que, aos oito anos, eles não tenham ideia de como é uma escola em qualquer outro local do país. “Eles estão muito empolgados para se apresentar para os outros Estados”, diz Derci.

Nessa primeira etapa do projeto, os alunos falaram muito da cultura que está próxima deles e nem imaginam a diversidade que existe do lado de fora. “Imagino que eles vão se encantar de conhecer a realidade de outras crianças”, diz. Segundo ela, os alunos estão pesquisando junto com os pais receitas feitas com caqui, fruta muito comum na região e que faz parte da cultura local que eles querem compartilhar.

No Sul, alunos fotografam a cidade

O professor Antônio Leite, responsável pelo laboratório de informática de duas escolas públicas na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, inscreveu quatro turmas no Crescer em Rede. Segundo ele, seu papel é facilitar o acesso dos alunos a projetos diferenciados e que dão resultado porque envolvem mais a participação direta dos alunos, inclusive os que têm dificuldade de aprendizagem e problemas de comportamento.

No turno da manhã, com alunos de duas turmas do 7° ano, o professor trabalha em conjunto com a professora Miriam Rigo, na escola Municipal Ramiro Pigozzi. Os alunos fotografam a cidade e fazem textos sobre as fotos. Segundo o professor, a maioria das imagens feitas até agora mostra a paisagem serrana do município, e eles estão buscando também fotografias antigas tiradas na neve, fenômeno raro no País e que ocorreu no ano passado na cidade. “Eles estão procurando caracterizar a região com as fotos, mas acho que não se deram conta que também vão receber imagens feitas por alunos de diversos locais do Brasil”, diz.

No turno da tarde, participam do projeto duas turmas do 5° ano da escola Dezenove de Abril. Antônio, em parceria com as professoras Zelma de Araújo e Cátia Cilene Garcia, trabalha receitas regionais com alunos de 10 a 11 anos. Segundo o professor, “o mais importante é que os estudantes são autores, eles são os produtores de um conhecimento que vai ser divulgado para outros alunos”.

O professor destaca que, apesar da cidade ter uma forte herança da colonização italiana, a maioria das receitas trazidas pelos alunos é de comidas típicas gaúchas como o arroz de carreteiro e o churrasco, pratos em que o principal ingrediente é a carne bovina. A pesquisa das receitas deu tão certo, que a escola vai produzir um pequeno livro para comportar todas elas e deixar à disposição na escola.

Professores trocam conhecimento via Facebook

A diretora técnica do Instituto Crescer, Luciana Allan, diz que o foco do projeto é propiciar trocas de experiências entre os alunos, principalmente com relação à cultura e à identidade regional. As inscrições já estão encerradas, mas não está descartada a possibilidade de uma nova edição, após o término desta, em 6 de junho.

Os professores inscritos vão desenvolver ações breves na sala de aula, sempre dentro de temas que façam parte do seu plano pedagógico. O projeto tem 44 professores inscritos, entre os ensinos fundamental e médio. Cada professor que se inscreve representa uma classe com uma média de 25 alunos. Segundo dados do Instituto Crescer, apenas 10% dos docentes trabalham em escolas particulares. As turmas participantes são dos Estados do Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e do Distrito Federal.

A base do projeto são três grupos no Facebook onde serão compartilhados os trabalhos feitos em sala de aula pelos alunos e participantes, e apenas os professores terão acesso. “É uma proposta que usa a tecnologia para levar a educação para fora dos muros da escola, valorizando o desenvolvimento da criatividade”, diz.

Os estudantes serão divididos em temas de acordo com a escolaridade. Os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental irão trabalhar como “pequenos chefs” e vão realizar pesquisas sobre as comidas típicas de sua região e compartilhar as receitas com os outros participantes de todo o Brasil. Em uma segunda etapa, eles vão preparar a receita na escola. Segundo Luciana, a culinária foi o tema para essa etapa escolar porque permite que o professor trabalhe frações, a importância da alimentação saudável, que ingredientes vêm de determinado clima, os tipos de solo e a vegetação de cada região.

Para a segunda metade do ensino fundamental, o projeto propõe que os alunos contem a história do lugar onde vivem, seja do bairro onde fica a escola até um pouco da história da cidade. O professor pode usar o tema para exemplificar conteúdos de geografia, ao pedir que os estudantes localizem-se no espaço, contando e descrevendo a cultura e o ecossistema do local onde vivem. “É como se eles fossem embaixadores da própria cidade”, diz Luciana.

Para os alunos do ensino médio, o projeto será o “Pedalada”, focado na mobilidade urbana. A ideia central é que os alunos pesquisem como é a mobilidade na sua cidade, se as bicicletas têm fácil acesso e podem circular com facilidade, por exemplo, para que os adolescentes desenvolvam cidadania e criatividade. “Nessa pesquisa, eles podem conhecer as leis do seu município, e se a cidade não tiver legislação sobre bicicletas, eles devem pensar e propor melhorias”, explica a diretora.

Com uma estrutura básica de tecnologia, que seja fácil de acessar mesmo nas escolas públicas, o professor vai elaborar um material que ficará disponível para os outros professores da rede. “O projeto será um meio de integração entre a escola pública e particular para que o aluno conheça outras realidades e desmistifique o olhar sobre o outro”, diz Luciana.

A percepção da escola dos outros

Qual a imagem que os estudantes têm das escolas dos outros? O Terra perguntou para alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas de Porto Alegre (RS) como eles imaginam o lugar de estudo da rede que não é a deles. Na imaginação de jovens das escolas públicas como Lucas da Silva Rodrigues, de 17 anos, a escola particular tem “uma educação mais eficiente, com ensino melhor”. Marcielle Parallo, 17, acha que os alunos das particulares têm mais oportunidades, "porque devem ter acesso a computadores", e os professores devem ter "mais recursos para dar aula", além de ter um "ensino mais puxado e rigoroso do que na sua escola": “Pra prestar vestibular, o aluno da escola pública precisa fazer cursinho”, compara.

Jean de Mello Balhego, 19, ao falar das escolas particulares, pensa na questão da estrutura, que, para ele, "deve ser melhor que a da pública", onde “o prédio é precário, o esporte é precário e as salas de aula são malcuidadas”.

Em alguns pontos, os alunos das particulares concordam com os da rede pública. Para a estudante da rede privada Gabriela Guelfand, 17, a estrutura física das públicas "deve ser pior, porque recebe menos investimento", e o estudo "deve ser mais precário porque os alunos não têm a exigência de passar de ano". Roberta Ludwig, 17, acha que a violência no colégio público é maior. Quanto à qualidade da educação, ela acha que deve ser "parecida", porque tem professores que dão aula na sua escola e também na escola pública. Luiz Masella, 18, conta que, até o primeiro ano do ensino médio pensava que os alunos da escola pública eram todos desinteressados, mas depois que procurou conhecer mais eles, mudou de opinião: “mesmo com a estrutura ruim de muitas escolas públicas, tem muitos alunos lá que são interessados, mas o preconceito é muito grande”.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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