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Professores são omissos em casos de homofobia, diz ONG

15 mai 2012 - 19h45
(atualizado às 20h11)
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A Câmara dos Deputados sediou nesta terça-feira o 9º Seminário Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), organizado pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Educação e Cultura. No evento, a coordenadora do Projeto Escola Sem Homofobia, Lena Franco, apresentou alguns depoimentos de estudantes que mostram o preconceito dentro das escolas. Alguns dos relatos apontam a omissão dos professores em casos de homofobia. "Os professores passam um pano grosso para esconder o assunto. Não brigam com o aluno, mas também não ficam do lado do estudante agredido, ficam em cima do muro", conta um dos alunos.

Em 2010, Marina Reidel (dir.) recebeu prêmio nacional por promover a diversidade sexual na escola, em Brasília (DF)
Em 2010, Marina Reidel (dir.) recebeu prêmio nacional por promover a diversidade sexual na escola, em Brasília (DF)
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Lena apontou, ainda, que a homofobia está presente em todas as 44 escolas pesquisadas, entre 2010 e 2011, pela ONG Instituto Ecos - Comunicação e Sexualidade. "A percepção da homofobia é maior entre os alunos do que entre as autoridades e os educadores", ressalta a coordenadora.

De acordo com Lena, os depoimentos revelam ainda que as consequências da homofobia para a vítima podem ser depressão, violência e até suicídio.

Kit homofobia

Lena também lembrou o kit sobre homofobia que foi produzido para ser entregue às escolas de todo o País pelo Ministério da Educação, mas teve sua distribuição cancelada. "Esse material foi criado para municiar educadores, trabalhar a homofobia na escola e em seu entorno. Contribuir para alterar concepções e rotinas que alimentam o preconceito na escola", sustenta.

O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) faz críticas ao governo federal por não ter levado adiante o Programa Escola Sem Homofobia, que previa, entre outros pontos, a distribuição do kit. "A politica foi suspensa devido à pressão de forças políticas aqui dentro do Congresso. Infelizmente, a presidente Dilma cedeu. A mídia também abraçou os argumentos fundamentalistas. Primeiro, criticaram a estética do material, depois questionaram a necessidade de algo específico sobre a homofobia. Ora, porque essa prática é mais comum nas escolas do que outras formas de discriminação, como mostram as pesquisas", argumenta Wyllys.

Desempenho escolar

O coordenador-adjunto do Projeto Diversidade Sexual na Escola da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, Alexandre Bortolini, relata que as escolas onde há maior incidência de práticas homofóbicas tendem a ter piores resultados. Segundo ele, uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP), em parceria com o Ministério da Educação, mostrou que há uma relação direta entre a homofobia no ambiente escolar e o resultado na Prova Brasil. "O estudo revelou altos índices de discriminação em todas as escolas, em todas as séries. Isso ia diminuindo à medida que evoluía as séries. Não estamos falando só de algo que tem a ver com relações interpessoais, mas que prejudica o desempenho de todos na escola", afirma.

Bortolini ressalta que não há uma receita pronta para trabalhar a sexualidade e a questão de gênero dentro da escola. Na opinião dele, esses assuntos precisam ser descobertos ao longo do tempo. Ele destaca também que muitos professores acabam reproduzindo no dia a dia escolar práticas preconceituosas.

Família

A representante do grupo Mães pela Igualdade, Maria Cláudia Cabral, falou de sua experiência de ser mãe de uma filha homossexual. Ela ressalta que há diferentes modelos de famílias, já reconhecidas pela sociedade, mas que isso não aparece no material escolar. "A Isabela filha desde pequena não gostava de bonecas, de vestidos. Mas, por alguma razão que não sei qual, para mim isso nunca foi um problema. Aquela era a minha filha, como ela é", conta.

Maria Cláudia sustentou que a questão de gênero deve ser trabalhada desde a infância, como defende a Unesco. Ela lembrou, no entanto, que o assunto é mais complexo do que se pode imaginar. "A sociedade cria limite do azul e do rosa, do carrinho e da boneca. E, assim, a cultura e a sociedade vão criando um modelo único, e tudo que for diferente está à margem", declara.

Agência Brasil Agência Brasil
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