PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Professora diz que observa "festas e cantorias" para ensinar indígenas

15 out 2013 - 10h21
(atualizado às 10h30)
Compartilhar
Exibir comentários

O sol nasce e Herminia Wôôpar Krahô já está de pé. Ela passa o café, toma banho e às 7h cruza o centro da aldeia até a escola. Às 7h30, o sino chama os estudantes, de 4 a 10 anos. Logo, as carteiras ficam cheias de kraré, como são chamadas as crianças pelos indígenas da etnia Krahô na Serra Grande, uma das 27 aldeias que formam a Kraolândia, no nordeste do Tocantins.

Única professora indígena entre os quatro que ensinam na região, Wôôpar estudou em Paraíso do Tocantins (TO), a 63 quilômetros da capital Palmas. Começou a lecionar em maio de 2010 quando o antigo professor, também indígena, deixou a escola.

"Ele não tava cuidando bem", diz a professora, que ainda não concluiu o curso superior. O conteúdo é todo na linguagem dos "mehin" - como chamam a si mesmos. É com Wôôpar que os pequenos aprendem a ler e escrever. "Tudo na língua [krahô], eu não ensino o português", explica.

A aula dura cerca de uma hora e os alunos são dispensados. Alguns não aguentam até o fim, saem para brincar. Outros esperam o lanche, servido na escola, quando tem merenda. À tarde, os alunos cuidam da tarefa. "Pra mim, [dar aula] é muito importante. Devagar eu vou aprendendo mais", diz a professora. Ela se orgulha de ver que alguns alunos já estão conseguindo ler e escrever. Dentro de casa, incentiva o filho Gabriel Ihôjawên Krahô, de 12 anos. "Estudar é importante", reforça.

A escola de Serra Grande tem duas salas de aula que atendem às 17 famílias que moram no local. Os pais costumam assistir uma ou outra aula dos filhos, para acompanhar o aprendizado. No turno oposto, a escola oferece educação para os adultos. Wôôpar era uma dessas alunas, mas resolveu se dedicar ao preparo das próprias aulas. Ela busca capacitação nos materiais didáticos distribuídos e em conversas com os outros professores.

A formação inicial e continuada de professores indígenas em nível superior, a produção de material didático específico em línguas indígenas, bilíngues ou em português cabe ao Ministério da Educação, que também oferece apoio político-pedagógico e financeiro às escolas indígenas.

Em Serra Grande, o autor do material usado em sala de aula é o indígena Renato Yahé Krahô. O livro é usado pela professora Luana Barbosa Pimentel, que mora em Alto Lindo (TO), cidade próxima à terra indígena. Ela dá aula do 1° ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, os alunos se misturam e tem entre 7 e 20 anos. Ensina história, geografia, português. E, mais recentemente, cultura, saúde e educação indígena.

Para essas disciplinas, além do material didático, muito do que leva para a sala de aula aprende também na própria aldeia. "Eu observo as festas, as cantorias", conta. Luana passa a semana na aldeia, dormindo na escola. No fim de semana, sai e enfrenta mais de quatro horas de estrada de chão para ver o namorado. "É um pouco difícil para ele, mas tem que aceitar".

Para ela, trabalhar com os indígenas é um sonho de criança. "Eles precisam de alguém que venha de fora da aldeia, que ajude com a língua e com outras relações que são diferentes na cidade e que eles não entendem".

Cotas, uma nova discussão Indígenas na universidade
Cotas, uma nova discussão Indígenas na universidade

Com a consolidação das cotas étnico-raciais nas universidades brasileiras, nasce uma nova questão: se entrar no ensino superior ficou mais fácil com as cotas, o desafio agora é garantir a permanência do novo perfil de aluno.

Do advogado Luiz Henrique Eloy à recém-formada enfermeira Denize Letícia Marcolino, o Terra conta a história de quatro indígenas graduados na educação superior e as dificuldades enfrentadas para ingressar na universidade.

Em Serra Grande, pelo menos uma vez por mês os indígenas vão às cidades próximas, como Itacajá (TO) ou Goiatins (TO), para fazer compras com o benefício do Bolsa Família. Alguns têm também um emprego na cidade. A relação com os "kupen" (os não indígenas) está presente no cotidiano. O português e a matemática são necessários.

Luana diz que muitos querem continuar na aldeia, mas há também a vontade de seguir estudando, fazer uma faculdade. "Tem indígenas que estão fazendo faculdade em Itacajá. Muitos fazem magistério", relata a professora, que começou a dar aula em 2010 e concluiu o curso superior este ano, aos 25 anos.

A experiência é positiva também para Vitor Aratanha, professor desde 2012 em outra aldeia krahô, Pedra Branca. Vitor trabalha com a etnia há cinco anos. Antes de ser professor, era funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai).

"A educação é um caminho mais profundo para se conseguir outra formação e poder ajudar um pouco na história deles. Os caminhos a que a educação te leva são mais profundos nas aldeias, tenho mais contato com os jovens", diz.

A escola de Pedra Branca atende a 200 alunos, pouco mais de 100 têm aula com Aratanha. Segundo ele, um dos desafios é trabalhar pensando na perspectiva do próprio indígena. "Há muitos jovens desconectados dos saberes tradicionais. O esforço é trazer isso para dentro da escola. E trazer também para os velhos".

Outro desafio é adaptar o formato de ensino, ainda voltado para os centros urbanos, para a educação indígena. Ele defende mais capacitação e produção de material específico. "Para trabalhar com outras culturas é preciso ter outras perspectivas", disse.

Dia do Professor: mestres relatam como é educar para a diversidade

<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/quanto-ganha-um-professor-no-brasil/iframe.htm" href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/quanto-ganha-um-professor-no-brasil/iframe.htm">veja o infográfico</a>
Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Publicidade