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Professor não detém exclusividade do saber, diz pesquisador da Nasa

Venezuelano defende o uso da tecnologia em favor do aprendizado - e acredita em uma certa obsolescência do professor na atualidade

13 set 2013 - 08h36
(atualizado em 16/9/2013 às 13h50)
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O pesquisador acredita que a inteligência artificial irá alcançar a inteligência humana entre 2029 e 2045
O pesquisador acredita que a inteligência artificial irá alcançar a inteligência humana entre 2029 e 2045
Foto: Sinepe/RS / Divulgação

No centro de pesquisa em que o venezuelano Jose Luis Cordeiro trabalha, nos Estados Unidos, a missão é ambiciosa: "educar, inspirar e capacitar líderes para aplicar tecnologias exponenciais para enfrentar os grandes desafios da humanidade". Pudera: Cordeiro é pesquisador da Nasa, na Singularity University – mais conhecida como a Universidade do Futuro, localizada na Califórnia (EUA).

Nascido em Caracas há 51 anos, o venezuelano correu o mundo para chegar à concepção atual que tem de educação e tornar-se uma referência mundial na defesa do uso da tecnologia em favor do aprendizado. Passou pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge (EUA), onde se formou e fez mestrado em engenharia mecânica; estudou economia internacional e política comparada na Georgetown University, em Washington (EUA); e fez MBA no Institut Européen d’Administration des Affaires, em Fontainebleau (França). Já o doutorado foi realizado entre o MIT, o Institute of Developing Economies, em Tóquio (Japão), e a Universidad Simón Bolívar, em Caracas.

A experiência ao redor do mundo – foram mais de 130 países visitados, em cinco continentes – alimentou suas teorias sobre educação. Entre as ideias que defende estão o uso da internet para democratizar o ensino, a liberdade para que as potencialidades dos estudantes apareçam e uma certa obsolescência do professor, que não detém mais a exclusividade sobre o saber, e sim as ferramentas para facilitar o aprendizado. Mas ele tem uma esperança. "Finalmente, a educação parece estar mudando e se tornando mais independente e personalizada", afirma.

Em recente passagem pelo Brasil, em julho deste ano, Cordeiro pôde acompanhar qual o estágio da educação no País. Para o pesquisador, qualquer cidade tem potencial para produzir singularidades. Porém, ele alerta para a urgência de uma mudança na proposta de aprendizagem, já que, acredita, a inteligência humana corre o risco de ser ultrapassada pela artificial em breve. Ele falou sobre essas e outras ideias envolvendo educação e tecnologia nesta entrevista exclusiva para o Terra. Confira:

Terra – Por que a inteligência artificial irá ultrapassar a humana?

Jose Cordeiro –

Nós, continuamente, criamos computadores mais poderosos, baratos e rápidos. De acordo com a Lei de Moore, computadores dobram de capacidade a cada 18 meses. Se essa tendência continuar, a inteligência artificial irá alcançar a inteligência humana entre 2029 e 2045.

Terra – Se isso ocorrer, qual deverá ser o estímulo dos estudantes para acumular conhecimento?

Cordeiro –

As pessoas precisam decidir se elas querem se juntar ao futuro ou permanecer no passado. A comunidade Amish, nos Estados Unidos, e algumas tribos indígenas na Amazônia decidiram ficar no passado, enquanto a maior parte da humanidade continua andando para frente. No futuro, nós vamos nos misturar mais e mais com a tecnologia, não só com óculos e próteses, mas também com implantes cerebrais.

Terra – Se a diferente apropriação destas tecnologias está na singularidade das pessoas, como lidar com uma educação que molda os estudantes e não respeita suas particularidades?

Cordeiro –

A educação precisa mudar radicalmente se as pessoas querem seguir adiante. Nós ainda usamos métodos de ensino que estão séculos defasados, enquanto muito mudou no mundo. Agora, finalmente, a educação parece estar mudando e se tornando mais independente e personalizada. Os MOOCs (sigla, em inglês, para Curso Online Aberto e Massivo) são somente um exemplo de como as tecnologias estão radicalmente mudando a educação hoje.

Terra – Com a experiência de ter passado por mais de cem países, o que o senhor acredita ser crucialmente diferente no ensino nos cinco continentes?

Cordeiro –

A educação é, em geral, muito conservadora, em quase todos os lugares. Mas, agora, a tecnologia permite o aprimoramento de todo o processo educacional. Dois países estão fazendo grandes mudanças na área da educação: Finlândia e Coreia do Sul, e ambos deveriam ser estudados e entendidos como exemplos de um novo sistema educacional.

Terra – O senhor vê a internet e os bancos de dados como formas de imortalizar o conhecimento?

Cordeiro –

Sim. Assim como os livros permitiram imortalizar nosso conhecimento depois da invenção da escrita, a internet irá continuar este processo e tornar todo conhecimento da humanidade disponível para qualquer um, em qualquer lugar e a qualquer momento. Projetos como o Google Loon (no qual serão usados balões para levar internet a áreas mais remotas) irão tentar tornar a internet livre e disponível para todos, em todos os lugares e a todo momento.

Terra – Para o senhor, a internet pode ser comparada com qual outra invenção histórica?

Cordeiro –

A internet pode facilmente ser considerada a terceira mais importante tecnologia da história da humanidade, depois da língua falada e da escrita.

Terra – E a inserção da internet nas escolas é comparável a que outro momento histórico?

Cordeiro –

A internet irá democratizar a educação e a aprendizagem muito mais do que a criação das primeiras escolas e a invenção dos livros.

Terra – A partir das suas ideias, uma humanidade mais evoluída seria centrada no conhecimento, a partir também da revisão de valores que temos hoje. Qual o papel dos professores neste quadro?

Cordeiro –

Professores são parte integrante do processo educativo, não só como doadores de conhecimento, mas também pela troca de sabedoria. Os professores, no futuro, serão mentores e instrutores da experiência de aprendizado dos estudantes.

Terra – Se as escolas não preparam para o futuro, elas podem se tornar obsoletas?

Cordeiro –

Sim. Se as escolas não adotam tecnologias para o futuro, elas serão ignoradas pelos estudantes. MOOCs são um exemplo de mudança radical, porque fazem justamente isso, contornam a educação formal.

Terra – Quais características básicas devem ter os professores que preparam os alunos para o futuro?

Cordeiro –

Em espanhol, nós temos este famoso ditado: "El diablo sabe mas por viejo que por diablo" (em português, "o diabo é mais sábio por ser velho do que por ser o diabo"). O mesmo pode ser dito sobre os professores: que sabem mais por sua longa experiência com estudantes do que por algum conhecimento específico sobre um assunto em particular. Hoje, estudantes podem rapidamente aprender mais sobre qualquer assunto do que a maioria dos professores sabe, mas os professores ainda têm a vantagem da pedagogia e da experiência.

Terra – Como você enxerga a educação brasileira neste contexto de transformação?

Cordeiro –

A educação no Brasil precisa adotar as tecnologias mais recentes se o País realmente quer se mover para frente. Os jovens são curiosos, eles querem aprender, e nós precisamos de uma ativadora e inspiradora educação que permita aos estudantes usar estas tecnologias inovadoras para melhorar e ampliar seus processos pessoais de aprendizado.

Terra – Mesmo fora do eixo EUA-Europa, o Brasil tem potencial para formar singularidades?

Cordeiro –

Com certeza. Qualquer país, qualquer cidade, qualquer indivíduo tem potencial para se sobressair. E, nos próximos 10 anos, uma rede mundial de computadores livre irá realmente democratizar o aprendizado ao redor do planeta.

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