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O segredo dos professores de Xangai para colocar seus alunos no topo do ranking mundial da educação

23 mai 2016 - 06h44
(atualizado às 08h05)
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Qualidade do ensino e capacitação dos professores são fatores chave no sucesso de Xangai em educação, aponta o Banco Mundial
Qualidade do ensino e capacitação dos professores são fatores chave no sucesso de Xangai em educação, aponta o Banco Mundial
Foto: Vanessa Co / BBCBrasil.com

A qualidade do ensino é o ingrediente mais importante para o sucesso de Xangai em educação, segundo um estudo do Banco Mundial.

Os estudantes da metrópole chinesa ocupam os postos mais altos em exames escolares internacionais, e o Banco Mundial, que oferece assistência financeira e técnica a países em desenvolvimento, publicou um relatório sobre o êxito acadêmico do município.

A pesquisa descobriu que a qualidade do ensino é a principal vantagem, além do sistema de treinamento e capacitação constante dos professores.

Em média, os professores em Xangai passam apenas um terço do tempo ensinando. A maior parte do dia é dedicada a treinamentos, capacitações e sessões com supervisores.

Há requisitos rigorosos para a docência, que é vista como uma ocupação de prestígio. E ainda que candidatos ao magistério possam ser rechaçados, o estudo identificou que isso é raro.

Em contrapartida, há um sistema com ênfase no treinamento e uma carreira construída a partir de incentivos para os melhores docentes.

Trabalho de prestígio

Em Xangai, que é a maior cidade do país em população, 30% da renda do professor pode ser formada por pagamentos de bônus adicionais ao salário base, que dependem do nível em que ensinam.

Espera-se ainda que professores que exercem cargos de direção em escolas continuem ensinando, e parte de seus salários se vincula ao desempenho das instituições.

Há incentivos para docentes e diretores que trabalham em escolas de baixo rendimento e escolas rurais, para ajudá-los a avançar mais rápido em suas carreiras.

Também pode haver rotação de professores que trabalham em colégios menos favorecidos.

"Um dos aspectos mais impressionantes do sistema educacional de Xangai é o modo como cuida, apoia e administra os professores, que estão no centro de todo esforço para elevar a qualidade da educação nas escolas", afirma Xiaoyan Liang, autora do relatório.

Segundo Liang, o nível de respeito do público pelos professores em Xangai é outro reflexo do bom trabalho desses profissionais.

O Banco Mundial também descobriu que a cidade se beneficia de um sistema de "colégios encarregados", em que escolas de nível mais alto se associam a instituições mais fracas para que elevem sua performance.

Como EUA e Reino Unido

Com população de mais de 23 milhões de pessoas, Xangai tem seu próprio sistema de educação descentralizado, e participa das provas Pisa, uma avaliação internacional de desempenho educacional, como um ente próprio.

Nas avaliações mais recentes, realizadas pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Xangai aparece nos primeiros lugares em matemática, leitura e ciência, em uma tabela global de países e sistemas escolares regionais.

Em solução de problemas, por exemplo, Xangai ficou em 6º lugar no Pisa 2012 entre 44 países ou sistemas regionais - o Brasil ficou na 38ª posição.

A população de Xangai tem acesso a uma melhor educação do que a média da China.

Embora tenha um número significativo de alunos pobres, o relatório destaca o bom desempenho desses alunos menos favorecidos.

Segundo o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher, estudantes que se encontram entre os 10% mais pobres de Xangai são tão bons em matemática como os 20% de adolescentes mais privilegiados do Reino Unido e dos Estados Unidos.

O estudo descreve Xangai como cidade dotada de "um dos sistemas educativos mais igualitários" e com melhores resultados do mundo.

Público e privado

O estudo indica ainda o alto número de estudantes que chegaram a Xangai de outras partes da China.

Quase a metade do 1,2 milhão de alunos do ensino primário e dos primeiros anos do ensino médio foram classificados como migrantes internos.

A maioria frequenta escolas públicas, mas quase um quarto está em colégios privados, com mensalidades pagas por autoridades locais.

Cerca de 10% dos alunos estuda em escolas particulares. Espera-se que os colégios ofereçam um currículo comum, mas cerca de 30% do horário pode ser definido pela escola.

Há, contudo, outros fatores sociais a considerar. O sistema não prevê prestação de contas aos pais ou mecanismos para impugnar decisões das escolas ou de autoridades educativas.

Também há questionamentos sobre a pressão que esse sistema altamente competitivo, focado em provas, exerce sobre os alunos. Assim como os concursos públicos, o sistema escolar tem muitas provas e avaliações internas.

Alguns críticos questionam se o sistema focado em provas não compromete o bem-estar emocional dos alunos, convertendo-os em robôs
Alguns críticos questionam se o sistema focado em provas não compromete o bem-estar emocional dos alunos, convertendo-os em robôs
Foto: Getty Images

E há advertências sobre a falta de "bem-estar emocional" derivada desse foco no sucesso nas provas.

Xangai, que relaciona a ambição econômica com o investimento em educação, tem servido de exemplo para outros países que desejam elevar os níveis de suas escolas.

Na última semana, representantes de 25 países em desenvolvimento, entre eles Brasil, Afeganistão e Etiópia, visitaram escolas em Xangai para avaliar maneiras de melhorar seus sistemas de educação.

"O ensino de alta qualidade está diretamente relacionado com um forte crescimento econômico e uma rápida redução da pobreza, daí a utilidade das ideias oriundas do êxito de Xangai para um mundo onde 250 milhões de crianças não sabem ler nem escrever, apesar de terem frequentado a escola", diz Harry Patrinos, gerente de educação do Banco Mundial.

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