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Novo reitor da Unesp descarta usar Enem: não podemos correr riscos

11 jan 2013 - 10h00
(atualizado às 10h02)
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Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) há quase 40 anos, Julio Cezar Durigan assume nesta sexta-feira a reitoria da instituição com um plano ousado para que a "caçula" das universidades de São Paulo seja conhecida não só em todo o território nacional, mas que seja vista com "bons olhos" por pesquisadores e estudantes de todo o mundo. Em entrevista ao Terra, Durigan falou sobre o foco de sua gestão e abordou temas polêmicos, como a adoção de uma política de cotas e a resistência das universidades paulistas em adotar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma única de ingresso dos seus alunos.

Julio Cezar Durigan toma posse nesta sexta-feira como reitor da Unesp
Julio Cezar Durigan toma posse nesta sexta-feira como reitor da Unesp
Foto: Chello Fotógrafo/Divulgação

O novo reitor fez questão de deixar claro que não tem "absolutamente nada contra o Enem", mas critica as falhas na segurança, que teriam prejudicado a credibilidade do exame nacional. "O Enem tem apresentado problemas ao longo do ano, não podemos correr riscos. Temos na Unesp, USP e Unicamp uma estrutura fantástica, com vestibulares que selecionam em nível muito bom. Para fazer a mudança de algo que funciona bem para algo novo, precisa de confiança, mas o Enem não tem demonstrado isso nos últimos anos". Posicionamento semelhante já havia sido dado pela USP, que desistiu de utilizar a nota do exame nos últimos anos.

Segundo Durigan, as três universidades estaduais de São Paulo desenvolveram uma grande estrutura para aplicar as suas seleções de ingresso, modelos que são reconhecidos em todo o País e que selecionam o perfil de alunos que as instituições almejam. Para o novo reitor, não há certeza ainda se o Enem é eficiente, assim como os vestibulares, para selecionar alunos para cursos mais concorridos, como medicina. "Hoje o Enem tem um padrão bom de exame, mas não atende totalmente o que se espera para essas universidades. Quem sabe o tempo possa dizer que todas as universidades brasileiras possam aderir a esse sistema". Esse tempo, no entanto, parece distante: "Precisaria de muitos anos, primeiro é preciso ter uma confiança estabelecida para que isso aconteça". Atualmente, a Unesp utiliza o Enem apenas para compor a nota final dos vestibulandos.

Apesar de ser um ferrenho defensor do sistema de ingresso das universidades paulistas, Durigan concorda que o vestibular é excludente e defende a necessidade, urgente, de implantação de cotas, beneficiando estudantes de escolas públicas, negros e indígenas. Ele participou da elaboração de uma proposta pelo Conselho dos Reitores (Cruesp), apresentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no final do ano passado e que ainda vai depender de aprovação nos conselhos universitários este ano.

"Se os conselhos não aprovarem, corre-se o risco de que a Assembleia (Legislativa) aprove uma lei baseada na federal (Lei de Cotas, que entrou em vigor em 2012) e teremos que cumprir igual. É melhor que a proposta parta das próprias universidades e seja feita com qualidade", afirma. Pelo projeto do Cruesp, 50% das vagas nas três universidades estaduais até 2014 serão reservadas a alunos de escolas públicas. A iniciativa ainda prevê um subsídio mensal para os estudantes de baixa-renda e a criação de cursos superiores com duração de dois anos a esses alunos.

Internacionalização

Aos 58 anos, Durigan ocupa o cargo de reitor desde 2011, quando Herman Voorwald deixou o posto para ser secretário estadual de Educação. No ano passado, ele venceu a disputa pela reitoria com um plano de internacionalização da universidade. "Temos a necessidade de interagir com outras universidades do mundo", afirmou em entrevista ao Terra por telefone. De acordo com o professor, a meta é investir R$ 7,5 milhões somente este ano para garantir a mobilidade de alunos e docentes no exterior. "Até um tempo atrás não se investia nada em internacionalização na Unesp. Tudo era feito a partir da boa-vontade dos professores, que conseguiam uma bolsa com uma agência de fomento".

Segundo ele, a meta de sua gestão é mandar para o exterior 10% dos alunos que entram na universidade todo ano. "Recebemos 7 mil alunos, queremos mandar pelo menos 700 ao exterior por ano", afirmou ao ressaltar que a integração com pesquisadores de diferentes países é fundamental para a formação acadêmica e para elevar o conceito das instituições no exterior.

Durigan ainda exalta o desempenho da Unesp em rankings internacionais. No ano passado, a instituição entrou na lista das 100 melhores universidades do mundo (entre as que possuem menos de 50 anos de existência), pelo ranking Times Higher Education, um dos mais conceituados. No entanto, o desempenho internacional ainda é bem aquém das outras duas universidades paulistas. "Estamos indo muito bem, mas claro que precisamos levar em conta que somos a caçula das universidades estaduais. A USP tem toda uma tradição, são 80 anos comparados aos 36 da Unesp".

Os recursos também são diferenciais, segundo Durigan. Enquanto a USP tem um orçamento de 5,02% do total de quase 10% do total reservado às universidades, a Unesp fica com 2,34% e a Unicamp com 2,19%. "Proporcionalmente o nosso orçamento é um menor, já que temos uma estrutura bem mais complexa que a Unicamp", afirma. Lutar pela ampliação dos investimentos também está entre as prioridades do novo reitor. "Passamos de 14 unidades para 34 e os recursos continuam os mesmos".

Fonte: Terra
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