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Fotógrafo inglês registra salas de aula ao redor do mundo

Fotógrafo inglês registra salas de aula ao redor do mundo

26 out 2012 - 08h51
(atualizado às 08h55)
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Melissa Becker
Direto de Birmingham

Alunos brasileiros ilustram a capa do livro Classroom Portraits 2004-2012, do fotógrafo inglês Julian Germain
Alunos brasileiros ilustram a capa do livro Classroom Portraits 2004-2012, do fotógrafo inglês Julian Germain
Foto: Julian Germain/Classroom Portraits 2004-2012 / Divulgação

Quadro, carteiras, livros didáticos. A descrição de uma sala de aula varia pouco. Mas, ao enquadrar centenas de turmas no visor de sua câmera, o fotógrafo inglês Julian Germain procurou fazer um registro detalhado do espaço e de seus alunos - de todas as idades, em todas as disciplinas - ao redor do mundo. O resultado mostra as diferenças da realidade escolar de cada país no livro Classroom Portraits 2004-2012, da editora Prestel (Retratos de Sala de Aula, 2004-2012, em tradução livre).

Foi quando levou sua filha para o primeiro dia na escola que Germain se deu conta que não entrava em uma sala de aula havia mais de 20 anos. Seus primeiros cliques foram na região onde mora, Northumberland, nordeste da Inglaterra. Outro projeto, em 2005, o levou para Argentina e Brasil, onde fotografou as primeiras classes no exterior.

Duas escolas estaduais mineiras constam no livro: Dona Francisca Josina, na Serra do Cipó, e Nossa Senhora do Belo Ramo, em Belo Horizonte, da qual uma turma de 6ª série de 2005, em uma aula de matemática, ilustra a capa de Classroom Portraits. Antes disso, Germain já visitava a capital mineira com frequência em um projeto com artistas brasileiros e crianças de rua. Entre outras razões, a diversidade do grupo brasileiro levou a sua escolha para a capa.

"Sendo um livro publicado no Reino Unido, queria dar a noção de que é uma série internacional de retratos. Se eu colocasse uma escola britânica na capa, pensariam que todas seriam britânicas. Essa é uma classe miscigenada, o que é bom em um projeto internacional, e o Brasil é famoso por ter uma mistura de culturas. Ao mesmo tempo, tem a globalização presente, com um menino com a camiseta da Nike", conta o fotógrafo em entrevista ao Terra.

Global x local

Ao todo, foram mais de 450 retratos em mais de 20 países. O livro se restringe a 87 imagens, suficientes para dar a dimensão de similaridades e disparidades nas salas de aula do mundo."Muito da economia é global hoje em dia. Há poucos países que não têm uma economia de mercado. Acredito que educação também esteja globalizada, em termos de práticas e de como é feita. Claro que há diferenças culturais bem fortes, de como manter a disciplina e o tipo de relação entre professores e alunos", destaca.

O fotógrafo tinha apenas 15 minutos, no final de cada aula, para fazer o registro - mantendo o ambiente exatamente como ficou depois da lição e garantindo uma composição na qual nenhum rosto ficasse escondido.

De escolas rurais na África, com alunos dividindo o livro didático, ao Japão, com cada estudante atrás de uma tela de computador - passando por jovens russos vestidos como empresários antes de ir para a universidade -, Germain destaca uma impressão positiva de sua experiência. "Minhas expectativas eram de que tudo seria muito básico na Etiópia, o que, em muitos sentidos, realmente é. Mas depende muito das pessoas que a gente encontra. Visitei quatro escolas no país, não muitas. O que me impressionou foi que eles têm um monte de materiais didáticos, todos caseiros. Eles não têm computadores, mas têm ábacos feitos à mão e diagramas de células humanas feitos em cartolina, montados com fios. Um grande esforço é feito nestas escolas para encontrar meios criativos para ajudar os alunos a entenderem as coisas".

A atitude dos estudantes também difere. Se, em países ocidentais, crianças e adolescentes encaram as aulas como uma obrigação, um aluno iemenita olhou para Germain "como se ele fosse louco" quando perguntado se gostava da escola: "Claro!". Em um país em que muitos pais não tiveram acesso às carteiras escolares, poder ir mesmo a uma instituição rígida e muito básica, como a desse menino, representa uma grande oportunidade.

Visão de fora

O fotógrafo não é um profissional da área da educação. Por isso, na opinião do professor de pedagogia Leonid Ilyushin, da universidade russa St Petersburg State University, o livro oferece uma visão de fora do sistema. "É comumente dito que nossas escolas públicas são espelhos das nossas sociedades, mas esses retratos oferecem uma vista com lupa de toda uma geração", ressalta o especialista na introdução de

Classroom Portraits

.

Um detalhe que chama a atenção é que não há professores nas fotos. Germain explica no livro que decidiu não inclui-los porque se tornariam figuras muito dominantes nas imagens, mas a influência dos adultos é visível em todo o livro. Ao deixar apenas as faces jovens encarando a câmera em seu ambiente diário de ensino, fica uma provocação. "Talvez o Classroom Portraits ofereça algum tipo de desafio para os adultos de hoje, para considerar suas responsabilidades com os jovens, que serão os adultos de amanhã".

Fonte: Especial para Terra
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