PUBLICIDADE

Hobsbawm deixa obras essenciais para a história, diz professor

Hobsbawn deixa obras fundamentais para a história, diz professor

1 out 2012 - 16h47
(atualizado às 16h58)
Compartilhar

Um dos intelectuais mais influentes do século 20, o historiador britânico Eric Hobsbawm morreu nesta madrugada em Londres, aos 95 anos. Ele deixa para trás uma vasta obra, considerada essencial para a compreensão da história atual. Luiz Dario Teixeira Ribeiro, professor de história contemporânea na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), descreve algumas obras do historiador - tais como a série A Era das Revoluções, Era do Capital, A Era dos Impérios e a Era dos Extremos - como fundamentais para o estudo da história contemporânea.

O historiador Eric Hobsbawm concede entrevista em Viena, na Áustria, em janeiro de 2008. Hobsbawm, um dos pensadores mais importantes do século XX, morreu nesta segunda-feira, em Londres, aos 95 anos. Hobsbawm é autor de quatro volumes considerados definitivos sobre a história dos séculos XIX e XX, abordando a trajetória europeia da Revolução Francesa à queda da União Soviética, entre outras obras
O historiador Eric Hobsbawm concede entrevista em Viena, na Áustria, em janeiro de 2008. Hobsbawm, um dos pensadores mais importantes do século XX, morreu nesta segunda-feira, em Londres, aos 95 anos. Hobsbawm é autor de quatro volumes considerados definitivos sobre a história dos séculos XIX e XX, abordando a trajetória europeia da Revolução Francesa à queda da União Soviética, entre outras obras
Foto: EFE

"Hobsbawm tem uma visão metodológica muito clara. Embora seja marxista, não se prende ao 'economicismo'. Ele traz uma história total, se preocupa com a totalidade da sociedade", afirma o professor. Ribeiro diz que, em parte por isso, os estudantes são "admiradores incondicionais" da obra do historiador. "Os alunos, muitas vezes, buscam seguir Hobsbawm como modelo, talvez também pela independência que ele tinha - apesar de não ter abandonado suas posições políticas fundamentais", assinala. Ribeiro menciona ainda o livro Invenção das Tradições, que, para ele, não pode ser deixado de lado na história contemporânea, por trazer a crítica das tradições existentes, além das obras Rebeldes primitivos e Bandidos.

Os quatro volumes da série mencionada por Ribeiro são considerados definitivos para a história dos séculos 19 e 20, abordando a trajetória europeia da Revolução Francesa à queda da União Soviética, entre outras obras. A publicação de Era das Revoluções dá início à análise, que abrange o período de 1789 a 1848. Na sequência vêm A Era do Capital (1848-1875) e A Era dos Impérios (1875-1914). As três obras abrangem o que ele denominou "o longo século 19". Em 1994 publicou A Era dos Extremos, que abrange o período subsequente à Revolução Russa de 1917 e que vai até queda do regime soviético, em 1991. O livro sobre o "breve século 20" foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu prêmios internacionais.

No site do jornal britânico Guardian, o historiador Niall Ferguson lamentou a morte de Hobsbawm, de quem era amigo. Ele destaca que os dois eram de polos políticos opostos e que ficou desapontado ao ler a autobiografia de Hobsbawm, na qual esperava que houvesse algum remorso pela decisão de se manter membro do Partido Comunista mesmo após a exposição dos crimes de Stálin. "Suas visões políticas não o impediram de ser um historiador verdadeiramente grande. Eu continuo crendo que sua tetralogia segue como a melhor introdução à história do mundo moderno em inglês", afirma, apontando que Hobsbawm nunca foi "escravo da doutrina marxista-leninista".

Ainda no jornal britânico, o também historiador David Priestland afirma que Hobsbawm é, entre todos os historiadores marxistas britânicos "provavelmente, o autor mais lido atualmente, e isso é uma marca de sua extraordinária flexibilidade intelectual". Para Priestland, o historiador "reformulou o modo como os historiadores olham para o passado".

A professora de história Catherine Merridale, da Universidade de Londres, define Hobsbawm como um historiador brilhante. "Para um grupo de leitores, as gerações de estudantes que usaram suas obras como livros didáticos, a clareza e o dinamismo de sua escrita era muito mais importante do que a sua mensagem ideológica", acredita. "A maioria dos historiadores são, por natureza, escritores ou novelistas. Eric Hobsbawm era os dois", descreve o historiador Roy Foster.

Veja algumas frases de Hobsbawm destacadas pelo Guardian:

Sobre a carreira acadêmica: "Todo historiador ou historiadora tem seu tempo de vida, um poleiro privado do qual se examina o mundo. Meu próprio poleiro é construído, entre outros, de uma infância na Viena de 1920, os anos de ascensão de Hitler em Berlim, que determinou minha posição política e meu interesse em história, e a Inglaterra, e especialmente a de Cambridge, de 1930, que confirmou ambos." - 1933, aula em Creighton

Sobre história: "A história está sendo inventada em grandes quantidades... é mais importante ter historiadores, especialmente historiadores céticos, do que jamais foi." - entrevista ao Observer em 2002

Sobre comunismo: "Eu fui um membro leal do Partido Comunista por duas décadas antes de 1956 e, portanto, silenciei sobre uma série de coisas sobre as quais é razoável não ficar em silêncio." - entrevista dada em 2002

Sobre socialismo e capitalismo: "Impotência, portanto, enfrenta tanto aqueles que acreditam no que equivale a um puro capitalismo de mercado, sem Estado, uma espécie de anarquismo burguês internacional, e aqueles que acreditam em um socialismo planejado não contaminado por fins lucrativos privados. Ambos estão falidos. O futuro, como o presente e o passado, pertence a economias mistas nas quais público e privado estão juntos de uma forma ou outra. Mas como? Este é o problema para todos, atualmente, mas principalmente para aqueles à esquerda." - em artigo no Guardian, em 2009

Sobre a guerra no século 20: "Eu vivi a 1ª Guerra Mundial, quando de 10 a 20 milhões de pessoas foram mortas. Na época, os britânicos, os franceses e os alemães achavam que era necessário. Nós discordamos. Na 2ª Guerra, 50 milhões morreram. O sacrifício valeu a pena? Eu, francamente, não posso encarar a ideia de que não valeu. Eu não posso dizer que teria sido melhor que o mundo fosse dirigido por Adolf Hitler." - perfil no Guardian, em 2002

Sobre a guerra no século 21: "Uma previsão tímida: a guerra no século 21 não é susceptível a ser tão mortífera quanto era no século 20. Mas a violência armada, criando sofrimento e perda desproporcionais, seguirá onipresente e endêmica - ocasionalmente epidêmica - em grande parte do mundo. A perspectiva de um século de paz é remota." - artigo publicado no Counterpunch em 2002

Sobre as prateleiras de seu quarto de escrever: "A maioria delas, no entanto, está cheia de edições estrangeiras dos meus livros. Seus números me surpreendem e agradam, e continuam chegando na medida em que novos títulos são traduzidos e alguns mercados de vernáculos frescos - hindi, vietnamita - se abrem. Como eu não posso ler a maioria deles, eles não servem de nada além de como um registro bibliográfico e, em momentos de desânimo, como um lembrete de que um velho cosmopolita não falhou inteiramente em 50 anos tentando comunicar a história aos leitores do mundo." - artigo publicado no Guardian, em 2008

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade