PUBLICIDADE

Mais longa da história: greve de professores completa 120 dias

13 set 2012 - 07h53
(atualizado às 15h33)
Compartilhar

Iniciada em 17 de maio, a greve dos professores das instituições federais de ensino superior chega ao 120º dia nesta quinta-feira, colocando a paralisação deste ano no patamar de mais longa da história. O último balanço divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC) aponta que a greve está enfraquecida, professores de 37 das 57 universidades federais do País já decidiram pela suspensão da greve.

Linha do tempo: veja as principais notícias envolvendo a greve

Na quarta-feira, 12, as universidades federais de Uberlândia (UFU), Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e da Paraíba (UFPB) também decidiram pela volta. Das 59 instituições federais de educação superior, duas não aderiram às paralisações - as federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Itajubá (Unifei).

Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em assembleias realizadas entre os dias 3 e 6 de setembro, 13 sindicatos decidiram sair da greve, enquanto 39 mantiveram a paralisação (destas, 18 sugeriram datas para o retorno das atividades) - outras 18 assembleias não informaram o resultado ao Andes.

Desde a última terça-feira, novas assembléias nos sindicatos das universidades decidem se a paralisação continuará ou não. A expectativa, no entanto, é de que o movimento perca força com a saída de universidades como a de Brasília (UnB) e as federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Minas Gerais (UFMG) e de Pernambuco (UFPE).

"A melhor greve é a que dura no máximo uma semana - e que a categoria tem suas reivindicações atendidas", observa o professor doutor em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) José Luis Simões. Para ele, uma das soluções seria criar uma política permanente para promover aumentos ano a ano. "Se tivesse uma lei, isso acabaria com as greves motivadas pela desvalorização do trabalhador", opina Simões.

A proposta apresentada pelo governo prevê um reajuste nos próximos três anos, além dos 4% previstos pela Medida Provisória nº 568/12. A reestruturação da carreira, outra demanda dos grevistas, passa pela redução de 17 para 13 níveis - o que, na prática, significaria uma ascensão mais rápida a títulos como os de professor adjunto e professor titular.

Para Simões, a greve de 2012, além de ser historicamente a maior, é marcante em diversos aspectos. Entre eles, a insatisfação de uma categoria que precisa atender a requisitos como ter mestrado ou doutorado para lecionar e a contradição de um governo de esquerda no discurso. "O programa tem a educação como prioridade, mas isso não é cumprido", avalia o professor.

Além disso, a atuação de diferentes lideranças sindicais também é destacada. Para a vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd), Leda Scheibe, o embate intersindical protagonizado pelo Andes-SN, que permanece em greve, e a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), que aceitou a proposta do governo e declarou o fim da paralisação entre seus associados, torna a questão mais complexa. "Quando havia o projeto de sindicato unificado, conseguiu-se uma situação bastante satisfatória enquanto professores do ensino superior. Hoje, os sindicatos estão desunificados", explica.

Política de Estado

A greve supera a paralisação de 2005, que se estendeu por 112 dias e, até então, era a maior já registrada pelos docentes no ensino federal. Na história, outros três anos tiveram greves com duração maior do que cem dias: 1991, 1998 e 2001. Nos anos 80, as paralisações duravam, em média, 40 dias (exceto a de 1984, que parou as universidades quase três meses). Para Simões, o aumento da duração das greves simboliza a crescente falta de assistência prestada pelo estado à categoria. "Falta uma política de Estado séria para a educação", critica.

Se na época da ditadura os grevistas tinham menos liberdade para expressar suas reivindicações, para Simões, o exercício de um governo com origem sindical é considerado uma vantagem. "Grevista era pejorativo na época da ditadura. Não eram professores tentando garantir condições de trabalho", diz. Por outro lado, o professor aponta que ter um governo composto por pessoas que já dirigiram e participaram de paralisações pode representar também uma desvantagem para o movimento atual, uma vez que elas já estiveram do outro lado das reivindicações e conhecem as fragilidades de uma greve de longa duração.

A principal questão, contudo, é o aspecto político-ideológico. Simões afirma que o atual governo encontra dificuldades para cumprir e atender as bandeiras que defendia em sua proposta inicial, mostrando-se, inclusive, contraditório. "As pessoas assumem posições estratégicas no País e se esquecem do que defendiam antes", avalia. Ele acrescenta que, apesar de sustentar um discurso ressaltando a importância de investir em educação, diferentes forças políticas atuam no governo, e este acaba não atendendo às demandas da categoria. "Os professores universitários têm pouca força para pressionar o governo", entende.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
Compartilhar
Publicidade