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Para especialistas, legado olímpico em escolas britânicas é improvável

Legado olímpico em escolas britânicas é improvável, dizem especialistas

1 set 2012 - 16h37
(atualizado às 17h48)
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Melissa Becker
Direto de Birmingham

Um dos principais legados prometidos por Londres 2012 para seu país-sede pode ter ficado apenas no papel. Estimular a prática de esportes desde cedo para uma vida mais saudável era um dos tópicos da proposta da cidade para receber as últimas Olimpíadas. Especialistas britânicos ouvidos pelo Terra, no entanto, consideram que a educação física nas escolas públicas do Reino Unido perdeu uma oportunidade de ser melhorada.

Passada a empolgação pelos jogos, os estudantes não devem encontrar uma herança olímpica nas quadras escolares ao voltarem às aulas em setembro, após as férias de verão do hemisfério norte - uma experiência que escolas brasileiras podem levar em conta ao mirar o evento no Rio de Janeiro, em 2016.

"Baseando-se nas Olimpíadas anteriores, seria pouco provável que existisse um legado dos jogos de Londres. Participação é algo desenvolvido por bons programas para jovens e um forte projeto de educação física. As Olimpíadas são inspiradoras, mas, sozinhas, não podem compensar uma prática pobre do sistema", argumenta a professora Kathleen Armour, diretora da Escola do Esporte e de Ciências do Exercício da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

Mais do que ensinar regras de um determinado esporte, a educação física desempenha um papel importante para moldar a confiança e a forma física das crianças, e por isso a quantidade e a qualidade do que é oferecido nas escolas se torna essencial na preparação de jovens saudáveis, observa Sarah Williams, professora da área de ensino primário com especialização em educação física da Universidade Sheffield Hallam. Segundo ela, pesquisas recentes indicam que um terço dos alunos ingleses estão acima do peso ou obesas ao começarem a vida escolar, e, no norte do País, crianças entre 8 e 10 anos são ativas por apenas 20 minutos por dia.

"O tempo gasto em educação física corresponde a apenas um 1% do tempo total da vida durante o dia de uma criança. Não sei de nenhuma experiência nesse tempo que tenha uma influência poderosa. Não vejo como oferecer mais esporte para estudantes que já não gostam de esporte pode encorajar eles a praticá-los. Não faz sentido", critica o professor James McKenna, diretor do Centro de Pesquisa para Estilo de Vida Ativo da Universidade Metropolitana de Leeds.

"Inspire uma geração"

Enquanto o sistema de fundos para o esporte de elite gera resultados positivos (como a 3ª posição dos donos da casa na tabela de medalhas nas últimas Olimpíadas), a política para a educação física nas escolas públicas tem falhas reconhecidas pelo próprio governo britânico. Para inspirar uma geração, como sugeria o slogan de Londres 2012, são necessárias mudanças.

No Reino Unido, professores treinados e especializados em educação física estão apenas no ensino secundário (com alunos com idades entre 11 e 18 anos), e não no primário (dos quatro aos 11 anos).

Autora de livros sobre pedagogia do esporte, a professora da Universidade de Birmingham acredita que alunos devem ser ensinados desde cedo por especialistas em movimento, para que eles se sintam competentes nas atividades físicas. Sem orientação, estudantes chegam aos 11 anos com habilidades de crianças de seis anos - como coordenação e equilíbrio.

"Esperar que todas as crianças gostem de esportes tradicionais é algo simplesmente não realista. As Olimpíadas oferecem às escolas muito pouco, se professores e treinadores não estão aptos a corresponder a diferentes necessidades de aprendizado", complementa Kathleen, que ressalta a importância de a disciplina ser mais contemporânea na sua estrutura e organização nas escolas.

Aprendizado para o Brasil

Mas como o Brasil pode aproveitar os próximos jogos olímpicos para estimular uma geração na prática de esporte?

Sarah Williams acredita que as Olimpíadas têm o poder de inspirar uma nação e, com isso, proporcionar uma oportunidade de debate e desenvolvimento de programas de atividade física. A ênfase precisa ser em educação de alta qualidade que desenvolva habilidades genéricas nos jovens, para que então eles possam acessar uma variedade de esportes.

"Sabemos que o esporte tem o poder de transformar vidas. No entanto, sem jovens em forma e confiantes, que tiveram uma experiência física positiva, se torna muito difícil encorajar um estilo de vida saudável mais tarde", afirma.

Já McKenna ressalta que escolas brasileiras devem começar a trabalhar desde agora, quatro anos antes dos jogos, se quiserem oferecer algo duradouro para seus estudantes.

"Nossas Olimpíadas foram sobre legado, que é algo após o evento. Mas isso não é sobre o após, é sobre ter mais pessoas prontas para capitalizar a experiência enquanto a experiência acontece. Nós tivemos os jogos, e agora vamos ver o que fazer. É totalmente doido e destinado ao fracasso", lamenta.

Fonte: Especial para Terra
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