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Após o 'boom' de novas entidades, privadas apostam em expansão

22 ago 2012 - 08h31
(atualizado às 09h03)
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Nos últimos 10 anos, o número de instituições privadas de ensino superior mais do que dobrou. Em 2010, quando foi feito o último levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), elas somavam 2,1 mil, enquanto a rede pública contava com 278. Depois do "boom" de novas entidades abertas no início dos anos 2000, os grandes grupos universitários apostam na expansão dos seus negócios.

Originalmente carioca, a Universidade Estácio de Sá hoje está presente em 17 Estados brasileiros. Sua primeira aquisição foi feita em 2007. Em 2012, já foram feitos cinco anúncios de novas compras: duas em São Paulo, uma em Macapá, São Luis e Porto Alegre. O modelo de expansão também vem sendo aplicado pela Anhanguera. Entre 2007 e setembro de 2011, a companhia fechou 29 contratos com instituições voltadas para o ensino superior, algumas mantenedoras de mais de uma faculdade. A União Bandeirante de Educação (Uniban) foi a última compra feita pela companhia.

Em meio aos contratos assinados, surge o questionamento sobre a qualidade e a autonomia das pequenas instituições incorporadas a redes maiores. O presidente do Grupo Estácio, Rogério Melzi, explica que a compra de faculdades menores tem entre seus objetivos preencher as vagas que estes centros têm a oferecer. Melzi cita o exemplo da aquisição mais recente da Estádio de Sá, as Faculdades Rio-Grandenses (Fargs), em Porto Alegre. "Ela tem potencial para 6 mil alunos, mas hoje tem cerca de mil. Com o conhecimento local das pessoas da Fargs, com um bom reforço de capital e da estrutura de marketing, nós acreditamos que estes mil podem virar 6 mil", afirma.

Para a coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Malavasi, não se pode ignorar que são princípios empresarias que movem tais negociações. Segundo ela, o acesso a faculdades privadas se torna mais fácil devido à necessidade do preenchimento de vagas. "Como o vestibular é um processo seletivo ranqueador, quanto mais vagas se tem, mais pessoas conseguem ingressar na faculdade", explica. Ela acredita, porém, que a qualidade de ensino vai depender mais do projeto político da universidade do que do acesso. Este projeto define quais os objetivos da instituição e que tipo de indivíduo ela deseja formar. "Se a universidade for comprometida e for boa, ela recebe alunos com um nível de escolaridade menor e consegue fazer muito com eles".

Melzi admite que a motivação inicial da Estácio em fazer a primeira aquisição em 2007 não era a mais adequada. "A companhia estava crescendo e o objetivo era ganhar mais volume", conta. Hoje, ele vê como intuito principal levar o modelo educacional da empresa para outras partes do País. Melzi afirma que o modelo da Estácio contém diferenciais significativos para levar melhorias às instituições adquiridas, com a ajuda dos professores, diretores e funcionários da faculdade. Um deles é a construção coletiva de conhecimento através de uma plataforma online em que os 3 mil professores definem currículos e conteúdos mediados por líderes da Diretoria Executiva de Ensino. Além disso, Melzi lembra que o grupo faz a entrega do material didático na casa dos alunos: "A cada semestre a Estácio adquire material de autores renomados, paga direitos autorais, imprime em papel reciclável e manda para a casa do aluno uma média de 750 a 900 páginas que estão alinhadas com o conteúdo que será utilizado em classe".

Em geral, os grandes grupos defendem a expansão do negócio como uma forma de passar adiante um modelo de ensino. Mas para tanto, defende Maria Márcia, é preciso estar seguro de que há qualidade suficiente na metodologia. Segundo ela, esta é a primeira responsabilidade que estas instituições devem ter antes de expandir. Também professor da Unicamp, Renato Predosa apoia-se na avaliação do Ministério da Educação (MEC) sobre o Ensino Superior para dizer que as entidades da rede privada não têm mostrado um modelo positivo que possa servir de exemplo para outras faculdades.

Além disso, o coordenador do grupo de Estudos em Ensino Superior vê que as grandes empresas de graduação e pós-graduação podem não saber lidar com as necessidades e peculiaridades do local em que a faculdade se encontra. "Algumas dessas instituições menores atendem a um público local, característico, que está inserido em uma comunidade. A instituição que as compra às vezes não consegue ter uma conexão com aquele ambiente", explica. Maria Márcia argumenta que as menores companhias de ensino conhecem melhor o seu público e as pessoas que nela trabalham, por isso podem se organizar de forma mais efetiva. "Muitas vezes, as instituições menores conseguem ter um controle da qualificação do seu pessoal, da sala de aula. Quando as instituições são muito grandes, ela acaba tendo mais dificuldade de acompanhamento", opina a professora da Unicamp. O presidente do Grupo Estácio defende que, através de recursos como a entrega do material didático e o sistema de construção coletiva de conteúdo e provas para aferir o rendimento dos alunos com questões preparadas pelos próprios professores, a Estácio garante um nível de controle de qualidade.

Parcerias surgem como alternativa a novas compras

Outra forma de expandir Brasil afora são as associações entre universidades privadas, como foi o caso da Mackenzie, de São Paulo. A instituição firmou uma parceria com o Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), de Porto Alegre, para promover um mestrado associado. A coordenadora do mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Anna Paula Canez, conta que o projeto foi aprovado em abril pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, depois do processo seletivo, terá seu início em março de 2013.

No mestrado associado, a UniRitter receberá professores da Mackenzie que irão contribuir para a consolidação do curso de pós-graduação em Arquitetura. "Ele inicia com professores de muita experiência. São professores que já orientaram e têm uma produção em pesquisa há muito tempo. Isso qualifica para dar uma boa largada", afirma Anna Paula.

O doutorado interinstitucional, ou Dinter, foi outra forma que a Mackenzie encontrou para expandir a marca. O reitor Benedito Aguiar explica que este projeto consiste em oferecer formação a professores de uma determinada faculdade para que esta possa criar, mais tarde, um programa próprio de pós-graduação. Aguiar afirma que dois projetos de Dinter, um com o Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento (Cesed) de Campina Grande, na Paraíba, e outro com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), foram submetidos a Capes e aguardam aprovação para serem colocados em prática.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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