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Rede Marista propõe nova matriz curricular para temas cotidianos

12 ago 2012 - 08h52
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Quatro anos após o retorno das disciplinas de Sociologia e Filosofia ao currículo obrigatório do ensino médio nacional, os estudantes dos 17 colégios da Província Marista Brasil Centro-Norte começam a se dedicar ao estudo de Sustentabilidade, Indicadores Sociais e Culturas Contemporâneas, Economia e Política. Até 2013, todas as escolas da Rede Marista devem ofertar novas matérias incluídas na parte diversificada da matriz curricular, em complemento às integrantes da Base Nacional Comum, como estratégia para abordar temas cotidianos que hoje são trabalhados em disciplinas como Biologia e História.

No início deste ano, o Colégio Marista São José, localizado no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, agregou à grade curricular dos ensinos fundamental e médio nove disciplinas que visam a aprofundar o estudo e a discussão de temas transversais determinados pela Lei de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação, como Iniciação Científica (6º ano), Educação Patrimonial (7º ano) e Desenvolvimento da Aprendizagem Pessoal e Social (6º, 7º e 8º anos). Segundo a assessora educacional da escola, Andréia Moutella, se os assuntos fossem trabalhados apenas dentro das disciplinas já existentes não teriam a devida importância. "São temas contemporâneos e que vem ao encontro de aprendizados necessários ao nosso tempo, da atualidade, com conteúdos significativos", comenta sobre a iniciativa.

Andréia afirma que os conteúdos tradicionais continuam sendo valorizados para, em conjunto com as novas disciplinas, atenderem às competências avaliadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Os alunos aprendem de forma mais contextualizada e ampliam as habilidades de leitura, interpretação e resolução de problemas", diz. Todas as novas disciplinas incorporadas ao currículo do colégio têm carga horária de 50 minutos semanais.

As aulas são ministradas pelos professores que já integravam o corpo docente da instituição, de acordo com a capacitação profissional. Com formação em Filosofia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e responsável pelas aulas de Cultura Religiosa do ensino médio da escola, a professora Roseli Veloso assumiu as disciplinas de Ética Relacional e Urbanidade (8º ano) e Educação em Direitos Humanos (9º ano) e avalia o saldo do primeiro semestre como muito positivo. "Como educadora, acho muito interessante porque coloca não o professor como protagonista, mas o aluno, é ele quem faz as coisas", explica.

Anteriormente, Roseli já havia passado por uma experiência semelhante no Colégio Pitágoras de São José dos Campos, em São Paulo, onde ministrou por cinco anos a disciplina de Empreendedorismo e Ética. Para a professora, a iniciativa é vantajosa por abordar assuntos que fazem parte do cotidiano dos estudantes, colocá-los em contato com realidades diferentes e conscientizá-los do contexto em que estão inseridos. "No todo, são disciplinas que dão um diferencial muito grande. O maior objetivo é formar homens e mulheres com uma visão mais humana e não tão capitalista, é uma parcela a mais que a gente dá para a sociedade em si", afirma.

A avaliação nas novas disciplinas é de caráter processual, pouco apegada a provas escritas, incentivando a pesquisa e a discussão dos assuntos em sala de aula e a realização de trabalhos integrados com outras disciplinas. Para Educação em Direitos Humanos, a professora menciona o projeto de uma revista científica produzida pelos alunos para a disciplina de Português, explorando a questão do aborto, e o desenvolvimento de projetos sociais com o Abrigo Ayrton Senna para Ética Relacional e Urbanidade. "Às vezes o falar é bonito e o vídeo choca, mas é a vivência que vai dar um resultado positivo, é ali que eles se transformam", comenta. Roseli acrescenta que a troca de experiências entre os professores dos colégios maristas que já adotaram os novos componentes curriculares também auxilia na adequação do ensino a cada escola e entre as turmas, assim como o suporte à formação continuada dado pelas instituições.

Reformulação das disciplinas tradicionais é necessária

Embora os colégios tenham liberdade de incluir disciplinas adicionais àquelas definidas como obrigatórias pela Lei, a incrementação do currículo não determina a qualidade do ensino e da aprendizagem por parte dos alunos. A professora Dirce Zan, doutora em Educação pela Unicamp, relembra que a implementação de novas disciplinas não é uma decisão puramente pedagógica. "O currículo é uma fonte de disputa de diferentes interesses, desde os do campo profissional até os ideológicos e de mercado", afirma.

Dirce ressalta também que a escola não é o único espaço de formação dos alunos, mas, por vezes, a instituição termina esvaziada de suas funções primárias, como a alfabetização e o ensino da ciência e da cultura, na tentativa de dar conta de problemas sociais. "Muitas vezes se joga sobre a escola uma responsabilidade além das condições que ela pode oferecer. Em Educação para o Trânsito, por exemplo, o tipo de comportamento exigido é um aprendizado para a vida como um todo, não só para o trânsito", comenta a professora.

Para ela, a constante reavaliação das disciplinas "convencionais" quanto a sua validade e mesmo permanência na grade curricular é necessária para comportar novos temas relevantes para a formação dos estudantes. "É muito mais o caso das disciplinas tradicionais se reorganizarem internamente, incorporando essas novas demandas atuais", diz. A professora também menciona a necessidade de maior integração entre as disciplinas e uma reformulação da metodologia de trabalho para aproximar o conteúdo visto em aula da vida cotidiana dos estudantes. "Existe uma indissociabilidade entre teoria e prática. A dificuldade da escola é manter esse diálogo, apontar para o adolescente essa relação, e esse não é um desafio que o professor consiga dar conta sozinho", afirma.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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