PUBLICIDADE

Cresce número de pais que apostam na educação em casa no Brasil

11 ago 2012 - 13h48
Compartilhar

Ensino personalizado, a evolução sob o olhar atento de um dos pais, desenvolvimento do autodidatismo. Esses são alguns dos benefícios apontados por quem escolhe educar seus filhos em casa. O número de pais que preferem doutrinar longe das escolas formais saltou de 400 famílias no primeiro semestre de 2011 para mil em 2012, de acordo com o diretor pedagógico da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), Fabio Schebella.

De acordo com Schebella, a personalização do formato é o que permite ao aluno aprender conforme suas facilidades e aptidões. A educação domiciliar, defende o pedagogo, fortalece o vínculo sócio-afetivo entre pais e filhos e favorece o desenvolvimento do autodidatismo. Contudo, apesar de não existir lei que proíba o aprendizado em casa, quem opta por não matricular o filho em escola regular pode ser denunciado e multado. Por isso a luta para que o ensino caseiro seja regulamentado.

Em fevereiro deste ano, o deputado federal Lincoln Portela (PR-MG) apresentou na Câmara o Projeto de Lei 3179/12 que propõe a legitimação do ensino em casa. Atualmente, o PL se encontra com o relator, o deputado federal Maurício Quintella Lessa (PR-AL), que dará o parecer sobre o processo para que, então, a Comissão de Educação e Cultura possa colocá-lo em votação. O Terra procurou o parlamentar, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. De acordo com os assessores do seu gabinete, o parecer deve ser entregue até o final de agosto.

Os motivos que levam pais a apostar no ensino domiciliar são diversos. Há os que desistam do ensino regrado e pré-programado por fugir da visão política, religiosa ou científica que a família adota. Mudanças constantes ou a falta de centros de educação perto da residência também são motivos que levam algumas famílias a centralizar os estudos em casa. Outros, descontentes com o sistema escolar, preferem decidir se, antes de aprender álgebra, os filhos precisam saber logaritmos, por exemplo. Ou, ainda, se são necessárias mais horas de biologia, literatura e linguagens do que física e química. "Como não há uma determinação do governo de como deve funcionar a educação domiciliar, fica a critério de cada família", explica Schebella.

Há famílias que preferem que os filhos sejam instruídos por professores ou orientadores em casa, mas são poucos casos. Segundo o pedagogo da associação, crianças e jovens sentem-se realmente seguros com o pai ou a mãe aplicando questões ou explicando mais uma vez o que não foi bem compreendido - em geral, um dos pais se dedica apenas à família, enquanto o outro trabalha fora para garantir o sustento da casa.

Críticas

Ainda não regulamentado, o ensino em casa é um tema controverso. Professora titular da Faculdade de Educação da USP, Tizuko Kishimoto, acredita que uma educação construída apenas no âmbito familiar acaba sendo pobre, não apenas quanto ao teor cultural, mas também quanto à formação intelectual e social do educando. "A educação é para além dos conteúdos. Conviver com uma diversidade de pessoas, colegas, professores e funcionários faz parte do sistema. Tendo como mestre apenas um adulto e como colega um ou mais irmãos não oferece à criança um aprendizado completo. A interação criança¿criança é fundamental", opina. A educadora ressalta, contudo, que a família não deve jogar todo o peso da educação na escola, uma vez que os pais também têm papel importante nessa etapa.

Por três gerações, a família de Timóteo, 38 anos, optou pelo ensino domiciliar. Morador de uma comunidade religiosa de Santa Catarina, ele faz parte da segunda geração de homeschooling da família. Filho de pai americano e mãe brasileira, nasceu nos Estados Unidos, mas se mudou ainda criança para o Brasil. Instalados no País, os pais da sua mãe, americanos, ensinaram-na em casa. Por sua vez, os pais de Timóteo também fizeram da própria moradia sala de aula, e hoje ele e a esposa são os responsáveis pela educação dos filhos, uma menina de nove e um menino de 11 anos.

Orientado pela mãe, ele sempre teve facilidade para adquirir conhecimento. Filho mais velho de quatro irmãos, Timóteo auxiliava os mais novos conforme aumentava sua instrução. Nunca teve problemas quanto a não ser considerado alfabetizado e conhecedor dos conteúdos ensinados nos colégios. "Tenho interesse em fazer o Enem, mas por curiosidade para ver se seria aprovado", diz ele.

No caso da família, a socialização fica por conta do estilo de vida escolhido pelo casal: os dois fazem parte de uma comunidade religiosa, a qual o pai do americano ajudou a fundar, no interior de Santa Catarina. As crianças interagem com outras na igreja bíblica educacional que a família frequenta, em idas ao mercado e em encontros com os outros 14 primos, contam.

Enquanto a Aned e famílias como a de Timóteo aguardam o resultado favorável da votação que deve sair ainda este ano, Tizuko se opõe à proposta domiciliar: "A constituição precisa considerar os princípios gerais. Pensar no projeto como uma abertura para que pais desavisados caiam nessa armadilha é necessário. Exceções, sim, talvez mereçam um olhar mais atento", diz.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
Compartilhar
Publicidade