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Expulsão de crianças não é medida educativa, diz especialista

5 ago 2012 - 10h01
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Em uma sala de aula da educação infantil, todos os alunos dormem. Todos, exceto Pedro, três anos, que fingiu estar dormindo para, em meio ao sono coletivo, estragar trabalhos dos colegas, molhar seus sapatos e colocar pais e escola frente a um dilema: o que fazer quando uma criança passa dos limites? No caso ocorrido em São Paulo (SP), a alternativa foi a expulsão - desfecho cada vez mais comum para crianças cada vez mais jovens.

Nem sempre longas conversas entre professora e aluno funcionam. À medida que o panorama piora, torna-se necessário chamar os pais e propor o acompanhamento de um profissional. O problema é que a real gravidade de certas atitudes - como incomodar a vida da professora, por exemplo - dificilmente é compreendida por uma criança em seus primeiros anos de vida. Expulsar da instituição de ensino não serve como medida educativa, dizem especialistas.

"A expulsão não vale nem como punição, nem como medida educativa. Ela só aumenta o problema, porque, quando a criança é expulsa da escola com três, quatro anos, ela é prejudicada em seu processo de socialização", diz o psicopedagogo Eugênio Cunha.

Para o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Rio de Janeiro, a tarefa de educar deve ser dividida entre escola e família. "As regras existem na sociedade. Se a criança não tem contato com elas, se não é ensinada em casa, não vai agir diferente na escola. Desde cedo, ela deve reconhecer a autoridade dos pais, para então reconhecer a autoridade do professor", afirma.

No caso de Pedro, nome fictício para proteger a identidade do menino citado do início da reportagem, as tentativas de corrigir a postura do aluno com conversas e diálogo com os pais não deram resultado. Para não prejudicar a turma, a família foi convidada a procurar outra instituição de ensino. Apesar de acreditar que a expulsão não é a melhor alternativa para casos semelhantes, a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, que acompanhou o caso, defende a instituição. "A escola não tinha como lidar com essa demanda. É um caso atípico, em que é preciso lidar também com os outros pais, que se perguntam por que o sapato do filho está molhado, por exemplo. Uma decisão dessas é tomada porque a questão saiu do seu controle", diz. Paula reforça que a expulsão é a medida final, à qual se deve recorrer apenas quando as outras tentativas tiverem falhado. "Não deve ser uma surpresa. A escola não deve expulsar na primeira vez. Ela tenta contornar e, quando vê que fica difícil, toma essa medida. Mas, antes disso, os pais é que têm de tomar uma atitude", acrescenta.

Expulsão pode servir em casos de crianças muito agressivas

Cunha discorda enfaticamente da expulsão e afirma que evitar esse desfecho depende de um esforço conjunto. "A educação se sustenta sob um tripé, que é formado pela família, pela estrutura da escola e pela boa formação dos professores. A solução está nesses três pontos. Quando se institui a expulsão, se admite que todos fracassaram na educação daquela criança", diz.

A pouca idade dos alunos também preocupa Paula. "A criança não entende essa medida. O caminho começa antes, e deve haver conhecimento da situação, para que ela possa ser contornada, inclusive com ajuda profissional. A única coisa que o aluno entende é que está mudando de um lugar para o outro", destaca. "Mas, às vezes, é necessária para proteger os outros, principalmente se é uma criança extremamente agressiva", acrescenta.

Quando não há o que fazer e a expulsão é consumada, o psicopedagogo alerta: a criança não pode ficar longe da escola. "Em caso de expulsão, a família deve dar todo o suporte ao filho, buscar compreender o que ocasionou o problema e tentar resolvê-lo. É preciso buscar outra escola, em que ele continue crescendo e aprendendo a conviver com os outros", diz.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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