PUBLICIDADE

Dicas de espanhol: conheça diferentes sotaques a partir de filmes

14 abr 2012 - 08h34
Compartilhar

O espanhol é o idioma oficial de 21 países, mas isso não significa que sua forma seja uniforme. De uma nação para outra, ou mesmo de uma região de um mesmo país para outra, palavras, modos de pronúncia e entonação podem variar. "Existem diferenças, mas não chegam a prejudicar a comunicação. O espanhol é uma língua diversa, mas unida", garante a professora do Instituto Cervantes de Curitiba, no Paraná, Tania Alonso. Portanto, quem aprende o espanhol a partir da pronúncia de algum lugar da Espanha, por exemplo, pode conversar perfeitamente com alguém da Argentina ou do México.

Pedro Almodóvar dirigiu Penelope Cruz em Volver, um dos filmes que pode ajudar o aluno a identificar sotaques da língua espanhola
Pedro Almodóvar dirigiu Penelope Cruz em Volver, um dos filmes que pode ajudar o aluno a identificar sotaques da língua espanhola
Foto: Getty Images

Mas é possível que um estudante brasileiro reconheça essas diferenças? De acordo com a professora, sim, pois cada tipo de pronúncia imprime traços peculiares que podem ser aprendidos. Segundo ela, alguns métodos educativos têm como objetivo principal ensinar a gramática e o significado das palavras, e a prática da pronúncia acaba sendo deixada em segundo plano, enquanto deveria ser exercitada desde os níveis básicos.

Os filmes, nesse sentido, podem contribuir para identificar o sotaque e incorporá-lo à sua pronúncia. "O filme ajuda a consolidar conhecimentos que foram previamente adquiridos em sala de aula", avalia Tania. "Cabe ao aluno escolher o sotaque com o que ele se identifique mais, o qual é útil para seus objetivos", orienta a professora.

Conheça a seguir cinco filmes que podem ajudar na hora de perceber diferentes tipos de sotaque do espanhol e outras características regionais:

Amores Brutos (Amores Perros, de Alejandro Iñárritu)

O mexicano indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2001 é um bom instrumento de observação do sotaque mexicano. Em geral, essa região se diferencia pela pronúncia de LL e Y como DJ (assim, o som de calle fica cadje, bem como ayer é pronunciado adjer).

Outra diferença que pode ser mais sensível aos brasileiros é a realização fonética de S e Z. As duas letras têm som do que seria, no português, um duplo S. Por isso, asar tem o mesmo som da palavra no idioma falado no Brasil (assar). Já cerveza (cerveja) seria pronunciada como cervessa.

A professora ainda ressalta diferenças na prosódia, onde entram questões como o ritmo e a entonação - essa mudança ocorre não só na mexicana, mas em todas as variedades do espanhol.

Um mesmo sotaque dificilmente abrange todo o país. O México também registra variações de pronúncia - sem contar dialetos herdados pelo passado indígena e que podem influenciar na utilização de determinadas palavras. A professora indica o filme E sua mãe também (Y tu mamá también, de Alfonso Cuarón) para poder contrapor outro tipo de sotaque.

Volver (Volver, de Pedro Almodóvar)

Pode-se dizer que Almodóvar é um dos principais representantes do cinema espanhol e o mais conhecido internacionalmente. Pois seus filmes também possibilitam ao público tornar-se conhecedor do sotaque da Espanha. A principal diferença é o uso de vosotros (2ª pessoa do plural). Apesar de estar na gramática espanhola, independentemente do país em que se estude, vosotros só é utilizado pelos espanhóis, assinala a professora Tania Alonso. Nos demais lugares, o emprego de ustedes (vocês), conjugado como 3ª pessoa do plural, é mais comum.

Quanto ao sotaque, há variações internas, mas os espanhóis são conhecidos pela diferença na pronúncia do Z quando combinado com as vogais, ou de C quando seguido de E ou I. Na região centro-norte do país, o som de cerveza, corazón (coração) e empecé (comecei) é pronunciado como se a língua estivesse entre os dentes ao dizer a palavra. No Sul e nas Ilhas Canárias, a reprodução desses fonemas se aproxima dos falados na América do Sul. A pronúncia do LL e do Y também muda: é mais comum ouvir-se caie (som de calle) e aier (ayer).

Para quem deseja ver variações do sotaque espanhol, outra dica da professora é o filme Mar Adentro, de Alejandro Amenábar.

Um Conto Chinês (Un Cuento Chino, de Sebastián Borensztein)

O filme de Borensztein protagonizado por Ricardo Darín pode ser um bom exemplo da interculturalidade na Argentina, atesta a professora Tania Alonso. Na trama, um argentino e um chinês têm os destinos cruzados e passam a conviver sem que um fale a língua do outro. Os chineses formam uma comunidade bastante considerável no país: estima-se que 125 mil imigrantes dessa nacionalidade vivem na Argentina, 80% na região da Grande Buenos Aires.

Filmes argentinos costumam ser um bom exercício de observação e audição de estruturas que são utilizadas especialmente nos países em torno do Rio da Prata, como o voseo. A prática consiste no uso do pronome vos no lugar de tú (nessa região, o usted só é usado em situações formais, próximo ao tratamento "o senhor" em português). "A diferença está no pronome e no verbo nos tempos presente e imperativo", ensina a professora Tania Alonso.

Outro aspecto que pode ser observado no espanhol falado na Argentina é que, de modo geral, o ele (grafado como LL) é pronunciado com som de X ou CH. Assim, a palavra calle (rua), em uma assimilação com os fonemas do português, poderia ser dito como caxe. O mesmo ocorre em palavras que tenham a letra Y, como ayer (ontem), que será ouvida de um argentino como axer.

Nove Rainhas (Nueve Reinas, de Fabián Bielinsky)

Também protagonizado por Ricardo Darín, o filme narra a história de dois golpistas que acabaram de se conhecer e decidem participar de uma negociação milionária. "Por estar ambientado no mundo do crime, eles com certeza utilizam termos de Lunfardo", diz a professora de espanhol.

O Lunfardo não é um idioma, mas um vocabulário que surgiu entre as classes mais baixas da sociedade argentina, especialmente em ambientes criminosos. "O objetivo era não ser entendido pelas autoridades", explica Tania.

Os termos derivam de misturas com palavras em italiano, francês e, mais recentemente, até português, e podem ser encontrados com frequência em letras de tango (estilo musical e de dança que, assim como o Lunfardo, tem uma origem popular). Algumas palavras foram incorporadas como gírias e empregadas até hoje, como mina (mulher, garota), guita (grana, dinheiro) e pibe (garoto, moleque).

Outra prática do Lunfardo que se disseminou na Argentina é o vesre, o ato de falar palavras com as sílabas invertidas - a própria denominação vesre é o inverso de revés. "Em vez de falar gorda, eles dizem dagor. É um fenômeno que acontece também em outros países da Hispano-América", explica a professora. Outros exemplos de vesre são goima (para amigo), gotan (para tango) e feca (para café).

O Banheiro do Papa (El Baño del Papa, de César Charlone e Enrique Fernández)

Coproduzido entre Uruguai, Brasil e França, o longa retrata o impacto da visita do Papa João Paulo II, em 1988, a uma cidade uruguaia próxima à fronteira brasileira. Além disso, é um exemplo para evidenciar pequenas diferenças de sotaque registradas nesse país. O Uruguai, também localizado na região do Rio da Prata, também utiliza o vos no lugar de , como fazem os argentinos. A pronúncia de LL e Y sofre uma variação parecida.

O mais comum é observar que palavras com esses fonemas com o som de X. No caso dos exemplos já citados, calle se escuta como caxe, e ayer, como axer. "As diferenças entre os países rio-platenses são mais perceptíveis no que diz respeito à entonação e ao léxico", acrescenta a professora.

Quer conferir outros filmes em espanhol? Conheça o SundayTV .

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
Compartilhar
Publicidade