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Países ibero-americanos criam fundo para história do povo negro

19 nov 2011 - 18h44
(atualizado às 19h10)
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Ao fim do Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescentes (Afro XXI) neste sábado os países da região acordaram a criação de um fundo com contribuições voluntárias para financiar projetos dedicados à preservação cultural africana, que servirá de reparação histórica à população negra.

O fundo será administrado pela Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib), referendou a declaração assinada no encerramento do evento realizado em Salvador, na capital da Bahia, que teve a presença de quatro presidentes e altos representantes de 16 países latino-americanos e africanos.

Entre as autoridades que participaram do encontro realizado por causa do Ano Internacional dos Afrodescendentes estavam a presidente Dilma Rousseff; o mandatário uruguaio, José Mujica; da Guiné, Alpha Condé, do Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca; e o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves.

O vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, o secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias, e altos cargos de organismos da ONU fecharam o rol de representantes políticos e de organizações presentes.

Além da criação do fundo, na reunião foi acertado instaurar um observatório de dados estatísticos sobre afrodescendentes na América Latina e no Caribe, para compilar os dados sobre a população negra na região com o objetivo de contribuir ao desenvolvimento de políticas públicas.

A declaração propôs uma década dedicada aos afrodescendentes, englobando iniciativas contra o racismo e em favor da inclusão dos negros nos próximos dez anos.

De forma simbólica, a declaração incluiu a proposta de nomear a cidade de Salvador como a "capital ibero-americana dos afrodescendentes".

Um segundo documento foi elaborado no Afro XXI, a Carta de Salvador. O texto reuniu uma longa lista de princípios e recomendações para melhorar o acesso de negros à educação, à justiça e aos cargos públicos, assim como medidas para eliminar a discriminação e o racismo.

A Carta pediu aos países do grupo proteger os jovens negros que vivem o "genocídio" da violência derivada da pobreza e denunciou as práticas de intolerância religiosa e o desprezo à cultura africana.

No plano político, a sugestão foi constituir um fórum permanente de afrodescendentes nas Nações Unidas e a fundação de um centro histórico para preservar a memória da escravidão.

A presidente Dilma disse na cerimônia que até os dias de hoje são sentidas as "consequências dramáticas" da escravidão, como a "invisibilidade" dos pobres, a miséria, a violência, a discriminação e o racismo.

"A pobreza no Brasil tem a face negra, feminina e muitas vezes infantil. Resgatar essas povoações é um objetivo essencial de meu Governo", afirmou Dilma, quem defendeu a aplicação de medidas inclusivas e de redistribuição da riqueza.

Na mesma linha, o mandatário uruguaio anunciou que seu Governo vai beneficiar os negros com medidas políticas de inclusão na educação a partir de 2012.

"Que nenhum negro, nenhum homem ou mulher que traga em suas veias sangue africano fique sem educação de qualidade", afirmou Mujica, quem ressaltou que nunca será possível pagar a dívida histórica com a população originária da África.

O líder do Cabo Verde insistiu na importância da defesa da liberdade religiosa e cultural como parte da promoção da igualdade racial.

"Não podemos esquecer que as maiores violências relacionadas ao racismo são contra a cultura e a religião dos afrodescendentes", afirmou Fonseca.

Por sua vez, o titular da Segib falou sobre a necessidade de superar a exclusão e a desigualdade entre as raças, erradicando o racismo, que segundo ele é um sentimento "muitas vezes incorporado à sociedade".

"A mestiçagem é o maior ativo social da América Latina e do Caribe, deve ser reconhecido com um olhar ao passado, ao presente e ao futuro", destacou Iglesias em seu discurso de encerramento, que reuniu cerca de 2 mil pessoas, entre estudantes, políticos, gestores e ativistas desde a última quinta-feira.

EFE   
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