Escola quebra preconceitos ao adotar esportes paraolímpicos
15 nov2011 - 15h28
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Em uma praia lotada, um jovem convence seus amigos a praticarem um esporte que causa certa estranheza no grupo. Luís Filipe Pereira Funari, 17 anos, explica as regras, que são simples, mas prendem a atenção dos companheiros: "é como o jogo tradicional, só que sentado, como se a gente não pudesse mexer as pernas", diz. Trata-se do voleibol sentado, uma modalidade paraolímpica ensinada na escola São Luís, de São Paulo, onde Luís Filipe cursa o terceiro ano do ensino médio.
Semelhante ao vôlei tradicional, a categoria pode ser treinada por atletas sem impedimento de locomoção que, em geral, amarram as pernas para imobilizá-las. O objetivo é simular os obstáculos de quem não tem movimento nos membros inferiores, mas, nem por isso, deixa de se exercitar e, até mesmo, competir. No colégio, além do vôlei sentado, Luís Filipe e os colegas aprendem também as regras do golbol, um jogo especial pensado para atletas cegos ou de pouca visão.
Nessa modalidade, os atletas se dividem em dois times de três titulares e três reservas e, vendados para assegurar ausência total de visão, arremessam com as mãos uma bola no gol do adversário. Os guizos contidos dentro da bola guiam os jogadores pelo som que produzem.
O ensino de modalidades esportivas adaptadas nos estabelecimentos regulares, afirmam especialistas, tem a capacidade de desfazer preconceitos e completar a formação do caráter do aluno. "O contato com crianças portadoras de deficiência muda a percepção das outras", garante Andrew Parsons, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). Para ele, o convívio é fundamental ao garantir o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, para que ele seja mais tolerante e compreensivo com as diferenças. O contato tem a função de desmistificar o outro e, assim, trazer o respeito com as dificuldades dos portadores de necessidades educativas especiais (PNEEs).
José Júlio Gavião de Almeida, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da Academia Paraolímpica Brasileira, concorda. "Praticar é entrar no mundo da pessoa com deficiência", afirma.
As aulas no São Luís foram reivindicação dos alunos, conta o coordenador de Educação Física da escola, Fábio Oliani. "Eles começaram a ver na televisão durante os Jogos Olímpicos e pediram que a entidade incluísse no currículo", lembra. A instituição, afirma, sempre se preocupou em mostrar aos estudantes outras realidades, com palestras e apresentações de dança e basquetebol em cadeiras de rodas, por exemplo. Agora, a prática também está presente nas classes.
Há ainda aulas teóricas, além da indicação de materiais extras que podem ser obtidos na internet. "O aprendizado na sala é indispensável para eles tomarem conhecimento dessa realidade. Excluindo-se a paraolimpíada, eles não têm muita notícia sobre esse tipo de atividade a não ser nos estudos", explica.
Tipos de esportes
Ao todo, são 20 os esportes paraolímpicos existentes, cada um com suas regras específicas. No entanto, o vôlei sentado e o golbol são os mais indicados para as lições de Educação Física pela praticidade e por conseguirem integrar os não portadores de deficiência. "O vôlei sentado é muito fácil de levar para os colégios, já que utiliza as mesmas ferramentas do tradicional, apenas com a rede mais baixa", argumenta o coordenador da Academia Paraolímpica Brasileira.
Nessa modalidade, o desafio é aprender a fazer a alavanca com o corpo, não com as pernas. Já o golbol, explica o professor, não é um esporte adaptado, ele foi criado pensando nos jogadores que não enxergam. As modificações do espaço são um pouco mais difíceis, já que exigem uma quadra especial com marcação em alto relevo no chão.
Em ambos os esportes, adequações pedagógicas são necessárias para a prática nas escolas. O que se vê na TV - e que aguçou o interesse dos estudantes do São Luís -, assim como na Olimpíada tradicional, são partidas de alto rendimento. "É essencial diferenciar dos jogos de iniciação", destaca o pesquisador da Unicamp. As mudanças devem passar por uma preparação do professor para atuar com esse tipo de exercício como uma manifestação pedagógica. Para o presidente do CPB, "é importante não apenas ensinar as regras ou como praticar, mas também como fazer disso um momento de integração entre as crianças". Para Parsons, participar dessas atividades faz com que os alunos acabem entendendo a dificuldade e até mesmo admirando quem consegue contorná-las.
Crianças de rua recebem alimento e educação em uma escola mantida pelo Programa Mundial de Alimentos e por uma agência de ajuda humanitária do Afeganistão; sem espaço para todos, alguns alunos sentam no chão para acompanhar os ensinamentos
Foto: AP
Em uma pequena sala de aula, as crianças que vivem na rua se amontoam para receber os ensinamentos
Foto: AP
Após trabalharem como carpinteiros, mecânicos ou vendedores de cigarro, as crianças vão para a escola na parte da tarde
Foto: AP
Por causa da falta de fundos, o programa que atende as crianças de rua está ameaçado. Escolas de 34 províncias do Afeganistão não recebem mais merenda
Foto: AP
Os estudantes não sabem até quanto poderão continuar recebendo os alimentos na escola, que também abastecem suas famílias
Foto: AP
Os programas sociais dentro das escolas tentam resolver os problemas das famílias que vivem na rua no país
Foto: AP
Na escola de estrutura simples, os pais são chamados para participar das atividades educativas
Foto: AP
Após a aula, as pequenas Lailya (esq.) e Zainab (dir) carregam o alimento que vai atender suas famílias
Foto: AP
Um aluno conta pedras como parte da lição de matemática no campo de refugiados do Congo. Veja fotos que mostram as condições de ensino em diversas escolas pelo mundo
Foto: AFP
No Congo, crianças têm aula em uma tenda improvisada em campo de refugiados nas proximidades da cidade de Goma. No local, um professor voluntário trabalha para ensinar lições básicas aos alunos
Foto: AFP
Estudantes das Filipinas, sem classes e cadeiras, utilizam o chão para fazer as lições em uma escola pública da capital Manila
Foto: AFP
Professores e alunos cobram melhores condições na educação pública das Filipinas
Foto: AFP
Pelo menos 28 milhões de estudantes retornaram às escolas nas Filipinas no dia 7 de junho para o ano 2011-2012
Foto: AFP
Já na Alemanha, além da ótima estrutura das escolas, os estudantes utilizam o jogo de cubos para desenvolver o raciocínio e a criatividade. A iniciativa agradou os alunos na cidade de Dusseldorf, que testaram a brincadeira pela primeira vez no fim de 2010
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Na Tailândia, refugiados islâmicos do Mianmar tentam aprender em uma escola improvisada pelo governo
Foto: AFP
As famílias das crianças fugiram dos conflitos no Mianmar e tentam reconstruir suas vidas
Foto: AFP
Imagem feita em maio de 2011 mostra as crianças sentadas no chão e com um banco como classe na Tailândia
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Imagem feita em dezembro de 2010 mostra o robô Engkey, que dá aulas de inglês para alunos na Coreia. Pelo menos 30 robôs são utilizados nas escolas do país
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Jovens estudam em uma escola para meninas em uma região montanhosa do Paquistão. O exército do país organizou uma visita às escolas no começo de junho de 2011 para mostrar o aparente progresso da educação
Foto: AFP
Escolas para meninas já foram vítimas de diversos ataques no Paquistão pelo grupo Talibã, que proibia a educação das mulheres
Foto: AFP
Na Líbia, alunos são atendidos por voluntários no dia 1º de junho de 2011. Eles tentam manter as crinças engajadas em atividades educacionais
Foto: AFP
Os voluntários fazem atividades para manter os estudantes da Líbia longe das disputas entre rebeldes e apoiadores do líder Kadhafi
Foto: AFP
Em Cingapura os estudantes convivem com uma situação bem diferente. Sem guerras, os jovens aprendem o conteúdo por meio da tecnologia
Foto: AFP
No país asiático, iPads e outros tablets substituem os cadernos em muitas das escolas. Na imagem de maio de 2011, as alunas utilizam o equipamento em uma aula de Arte
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Em Moçambique a realidade educacional é bem diferente. Imagem de maio de 2011 mostra as condições precárias de uma escola primária ondem jovens estudam à noite
Foto: AFP
Carlos Francisco, 29 anos, dá aulas na escola primária do Triunfo, em Maputo. Com classes simples e um quadro negro, cerca de 60 estudantes acompanham a tarefa
Foto: AFP
Após trabalhar o dia inteiro, moçambicano acompanha com atenção a lição deixada pelo professor no quadro negro
Foto: AFP
Em meio à tragédia que abateu o Japão, alunos participaram de cerimônia de formatura no final de março no mesmo ginásio que abrigava 200 pessoas vítimas do tsunami em Sendai
Foto: AFP
Mesmo com a tristeza pela morte de amigos com o tsunami, estudantes cumpriram mais uma etapa da vida escolar
Foto: AFP
Alunos haitianos da quinta série estudam história durante as aulas na Royal Caribbean New School. A empresa de cruzeiro Royal Caribbean construiu a escola para cerca de 200 estudantes
Foto: The New York Times
A escola em si é um refúgio limpo e seguro em relação às várias cidades vizinhas do Haiti onde vivem os alunos
Foto: The New York Times
A situação em outras escolas do país é diferente. Na L'ecole Nationale Mixte a chuva passa pelo telhado, cancelando as aulas
Foto: The New York Times
Na maioria das instituições de ensino do Haiti os alunos convivem com a estrutura é precária, com classes em péssimo estado e sujeira pelo chão
Foto: The New York Times
Crianças dormem em sala de aula de escola primária em Hefei, província de Anhui. A educação dos filhos dos trabalhadores migrantes, que somam 240 milhões na China, é uma das principais preocupações do Conselho de Estado chinês
Foto: Reuters
Imagens feitas no começo de junho mostram as condições enfrentadas pelos alunos da pré-escola que, segundo o conselho chinês, é o ponto mais fraco do sistema educativo do país
Foto: Reuters
No condado de Min, província de Gansu, as crianças sofrem com a precariedade das escolas
Foto: Reuters
Sem transporte escolar, as crianças chinesas caminham longas distâncias para chegar na escola
Foto: Reuters
Repetidamente, líderes mundiais têm denúnciado a situação da educação na China
Foto: Reuters
Crianças cantam durante a aula em uma escola rural da província de Gansu. A localidade é uma das áreas rurais mais pobres da China
Foto: Reuters
No Brasil, uma escola particular do Rio Grande do Sul aposta em tecnologias para ensinar os alunos da educação infantil
Foto: Stúdio Aronis / Divulgação
Os estudantes do Colégio Israelita, de Porto Alegre (RS), aprendem com o auxílio de tablets
Foto: Stúdio Aronis / Divulgação
Também no Brasil, filhos de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estudam em escola de lona improvisada à beira da BR-101 em Eunápolis (BA)
Foto: Joá Souza / Futura Press
O leitor biométrico registra os alunos presentes na Escola Municipal Roberto Mario Santini, em Praia Grande (SP). A tecnologia ajudou a diminuir a evasão escolar na cidade