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Educar para as diferenças é papel da escola, diz pedagoga

8 fev 2011 - 12h12
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CARTOLA - AGÊNCIA DE CONTEÚDO
Especial para Terra

Matheus, que teve o nome trocado por solicitação do entrevistado, tem 13 anos e entrou recentemente no Ensino Médio de um colégio da capital paulista. Cadeirante, o menino precisa de fraldas para ir à escola. Apesar de adorar esportes, principalmente basquete - coleciona pôsteres de ídolos americanos -, ele se recusa a participar das aulas de Educação Física por vergonha do barulho que a fralda faz durante os movimentos. Receosa e preocupada em respeitar sua decisão, a professora de educação física não interveio, mas também não o procurou para entender os verdadeiros motivos do estudante.

O caso de Matheus não é único. Segundo o Censo Escolar 2010, existem mais de 500 mil estudantes com deficiência física ou mental nas escolas públicas do País. Entre eles, os números de inclusão parecem ser promissores: 85% estudam em colégios regulares. Porém, apenas 30% das escolas de ensino médio e 12% das de séries iniciais estão preparadas fisicamente para recebê-los. Além disso, muitas vezes, professores e funcionários não estão preparados para lidar com as diferenças e educar os demais alunos para a inclusão social.

Para a pedagoga Priscila Pereira Boy, mestre em Ciência da Educação, um dos principais problemas da convivência com deficiências físicas na sala de aula é a atitude que alguns professores têm de ignorar o problema, fingir que ele não existe e não confrontar o aluno simplesmente para não tocar no assunto: "A primeira coisa a ser feita é não ignorar que existe um 'problema'. Crianças com algum tipo de necessidade especial não são piores dos que as outras, mas estão em desvantagem. Os professores devem dialogar com os alunos, perguntar a eles em que podem ajudá-los. Muitas vezes há um constrangimento, um medo de falar sobre o assunto e isto não contribui em nada. É necessário problematizar as situações cotidianas e envolver os outros alunos na busca de soluções", afirma a também autora do livro Inquietações e desafios na Escola.

A especialista destaca que os professores precisam estar preparados para educar os demais alunos para a convivência com a diferença em ambiente de estudo. Segundo ela, a principal questão é o preconceito, que hoje tomou forma de piedade. "Olhamos pessoas com deficiência e achamos que elas devem ser umas coitadinhas. Achamos também que estamos fazendo uma grande caridade aceitando estas pessoas no nosso meio, no nosso convívio. Isto ocorre porque fomos educados em uma sociedade que não aceita erros. Pois bem, chegamos ao século XXI. Há espaço para todos. Há leis que obrigam as escolas a aceitar pessoas diferentes, obrigam as empresas a contratar pessoas com necessidades especiais. Agora, querendo ou não, temos que conviver com as diferenças", diz, se referindo a Lei Federal nº 7.853, que garante os direitos às pessoas portadoras de deficiência.

Foi percebendo o déficit que a maioria das escolas tem em profissionais qualificados para lidar com portadores de deficiência que a Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), em parceria com o Centro de Apoio Pedagógico Especializado da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Cape) promove o Programa de Especialização e Capacitação (PEC), que prepara professores da rede pública estadual de São Paulo a fim de aprimorar as relações nas salas de aula.

"O objetivo é fornecer recursos para que o professor possa melhorar sua prática docente em relação aos alunos com deficiência intelectual, contribuindo para uma reflexão frente às questões inclusivas", afirma Viviane Heredia Vivaldini, coordenadora do PEC. Segundo ela, o curso já atingiu mais de mil docentes, tendo atuado em 31 das 91 diretorias do estado paulista.

O curso intitulado "Identificando e atendendo o aluno com deficiência intelectual em suas necessidades especiais em sala de aula" tem um módulo de 40 horas de duração e é ministrado por uma equipe multiprofissional da Avape. Para participar, basta as diretorias de ensino entrarem em contato com a instituição filantrópica. Depois disso, a equipe formada por médicos, fisioterapeutas, pedagogos e psicólogos prepara as aulas na própria escola. "Podem participar tanto professores, como funcionários, coordenadores e diretores. Nosso objetivo é que aqueles que participem possam multiplicar esse conhecimento, criando um ambiente de inclusão", diz Viviane.

Fonte: Especial para Terra
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