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Especialista: Educação Física ainda não é vista como prioridade

27 dez 2010 - 10h17
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Toda aula de educação física é a mesma coisa. Uma turma corre para bater uma bola e se desestressar; outra parte arrasta os pés para chegar à quadra de esportes, isso quando não simula uma dor de barriga para escapar. Enquanto, em algumas disciplinas, os alunos quebram a cabeça para aprender expressões numéricas, regras de crase ou o processo da mitose celular, é na educação física que crianças e adolescentes podem exercitar o corpo, sem provas ou estudos. Ainda assim, muitos torcem o nariz quando chega a hora de correr para o pátio. Por quê?

Para o presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, não há apenas uma resposta para a questão. Um dos motivos é que não é passada para os estudantes a importância dessa disciplina.

"Você pode não gostar de matemática ou de português, mas estuda por saber que é importante para a sua vida", compara. Se o aluno tiver consciência de que com a educação física ele tem mais disposição, fica menos doente, ele acaba aderindo à proposta.

Outro ponto a ser melhorado nas aulas de educação física são os esportes oferecidos. É preciso diversificar. "Não apenas futebol para os meninos, e vôlei para as meninas", exemplifica o também ex-assessor de educação física na secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro. Nesse caso, os mais hábeis acabam jogando, e os outros simplesmente não gostam. A ideia é que a disciplina tente ir ao encontro dos interesses do aluno. Steinhilber dá a dica: "Em aula, pode-se discutir a violência dos estádios".

Nos colégios privados, o presidente do conselho nota uma situação ainda mais complicada. Por entender que os estudantes têm condições de pagar espaços para desenvolver atividades físicas, muitas vezes a escola abre mão de oferecer a disciplina ou possibilita substituir a presença na educação física por um exercício fora. "Aí você perde a função agregadora da matéria, o papel como formadora de cidadania e conscientizadora da qualidade de vida", lamenta o professor. "Se eu vou a um clube jogar futebol, eu vou apenas aprender a jogar futebol e perco o conteúdo da cidadania, que é parte do objetivo da escola", completa.

Por serem atividades normalmente coletivas, a educação física é também um bom momento para avaliar o comportamento dos estudantes. Ali se podem notar os extrovertidos, os tímidos, os que estão com dificuldade de se integrar no grupo.

Nos colégios públicos, há também falhas quanto ao ensino da educação física. Existem os casos extremos, como quando a disciplina nem consta na grade. "Às vezes é por falta de espaço físico, outras por falta de professores", explica o presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber.

Segundo o especialista, uma das causas para a questão é que a educação física ainda não é não é vista como prioridade. Por falta de políticas públicas focadas na disciplina, ela carece de metas curriculares claras dentro do ensino público. "Uma coisa puxa a outra: enquanto o governo não vê importância na disciplina, não se desenvolve um currículo voltado à promoção da saúde", explica. Assim, as aulas acabam tendo um tom recreativo ou são completamente voltadas à atividade esportiva, sem a busca por um projeto pedagógico de qualidade de vida.

A valorização da educação física poderia ajudar a combater a obesidade o sedentarismo, e os jovens poderiam ser mais bem orientados para uma vida mais ativa. "Não sou contra o computador, mas a tecnologia nos levou a um desgaste, a uma 'desqualidade' de vida física e temos que equilibrar essa situação", alerta. "Podemos ter toda modernidade, mas com a consciência de que não se pode deixar o corpo enferrujar".

Apesar de ainda não ser prioridade, especialistas afirmam que Educação Física é uma disciplina importante
Apesar de ainda não ser prioridade, especialistas afirmam que Educação Física é uma disciplina importante
Foto: Getty Images
Fonte: Redação Terra
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