Escola iogue usa princípios indianos na educação infantil
Sentadas no chão, com as pernas cruzadas em oposição às coxas e as mãos sobre o ventre, muitas pessoas conseguem esvaziar a mente e livrar-se do estresse do cotidiano, na tentativa de chegar mais perto da sua própria espiritualidade. A meditação, que costuma ser vista como uma atividade para adultos, também pode ser realizada por crianças e fazer parte do ambiente escolar.
É o caso da Escola de Ensino Fundamental Ananda Marga, na Restinga, bairro de classe baixa em Porto Alegre. O nome parece feminino, porém significa "o caminho da boa aventurança" em sânscrito, língua indiana usada para fins religiosos. Ou seja, se você seguir a filosofia, achará o caminho do bem. E é esse o objetivo do colégio, que surgiu há 13 anos: apresentar bons rumos de vida para os seus alunos.
A Ananda Marga é mantida por uma associação beneficente indiana, chamada Amurt-Amurtel. Ela ocupa-se da educação infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental. O colégio segue a educação neo humanista, cujo objetivo é o desenvolvimento integrado das potencialidades do ser humano. Assim, além do currículo oficial de acordo com o Ministério da Educação (MEC), há períodos semanais de ioga e de meditação. "É quando se educa o espiritual e não apenas, o intelectual", explica a coordenadora pedagógica do local, Letícia Gomes.
A yoga está relacionada às posturas, e cada uma trabalha uma parte do corpo. Já a meditação deve provocar uma viagem ao ser interior. Quando esta é realizada por crianças, o processo é um pouco diferente da dos adultos. "Porque a realidade da criança é diferente", conta Letícia.
Assim, elas cantam um mantra em vez de ficarem em silêncio. Depois de cantarem, ficam no máximo três minutos sem falar. O mantra entoado na aula chama-se Baba Nam Kevalam, que significa "tudo é amor". "A gente diz pra eles que se poderia cantar que tudo é amor, mas em sânscrito cada som vibra um chacra", lembra. Chacras seriam canais dentro do corpo humano por onde circula energia.
Além de ser cantada, a meditação na escola é coletiva e procura ter a ajuda dos próprios alunos para ser organizada. Cada turma fica responsável por prepará-la uma vez por semana. Os grupos costumam levar uma música ou uma história para refletirem juntos.
Letícia garante que a atividade faz efeito nas crianças. No seu trabalho de pós-graduação, a coordenadora focou uma turma de 2ª série que apresentava casos de brigas frequentes. "No dia em que meditavam, eles rendiam mais na aula e havia menos conflitos", orgulha-se sobre o resultado na concentração dos pequenos. "Mas mesmo sem a pesquisa, a gente nota no dia a dia que a própria resolução dos problemas do cotidiano costuma ser feita de maneira pacífica, na conversa".