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PMs dão aula de música e reforço escolar em comunidades do Rio

29 jul 2010 - 10h27
(atualizado às 10h29)
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Os acordes um tanto desafinados que saem do violão soam suaves para crianças do Ciep Presidente João Goulart, no Cantagalo, em Ipanema. Acostumadas a fugir de sons ensurdecedores de tiros e granadas, elas agora se aproximam, sem medo, dos professores-policiais, como o terceiro-sargento Edson Dutra Borges, da Unidade de Polícia Pacificadora. Duas vezes por semana, ele se reveza com o comandante da UPP, capitão Leonardo Nogueira, nas aulas de Música para estudantes e moradores. Como ele, dezenas de policiais reforçam o ensino regular nas 13 comunidades pacificadas, beneficiando mais de 41 mil estudantes.

Silvio, 12, e Maria Suellya, 11, estão aprendendo a tocar violão com Edson Dutra Borges, terceiro-sargento da UPP do Cantagalo
Silvio, 12, e Maria Suellya, 11, estão aprendendo a tocar violão com Edson Dutra Borges, terceiro-sargento da UPP do Cantagalo
Foto: O Dia

Os PMs dessa comunidades estão indo além da rotina policial e se transformando em educadores para levar crianças de volta às salas de aula. "Tentamos mantê-los ocupados com atividades extras e mostrar que eles podem confiar na PM", explica o terceiro-sargento Borges. Ele lembra que no início as famílias ficavam com pé atrás. "Os pais vinham ver o que estávamos fazendo, até verem que o trabalho é sério", recorda Borges. Para Silvio Júnior, 12 anos, e Maria Suellya, 11, a música ajuda nos estudos. "Tocar um instrumento acalma, aprimora a concentração e facilita o aprendizado", reitera o professor Borges.

No Batan, em Realengo, policiais da UPP preenchem o tempo dos estudantes com aulas de reforço escolar, Capoeira e Natação. No Borel, na Tijuca, a rotina mudou com a UPP. "As crianças ficavam até meia-noite na rua. Hoje eles já não ficam até mais tarde", compara o PM Pedro Ferreira, 29 anos. "Mais descansados, aprendem melhor na escola", reconhece a diretora Lenita Vilela, do Ciep Dr. Antoine Magarinos. Torres Filho.

Lição que ensina a repartir
Divida duas pipas entre dois garotos. Com quantas cada um ficará? Um problema simples? Não para Luiz Gabriel de Souza, 8 anos. Pelas regras dele, aprendidas nas vielas do Morro Chapéu Mangueira, a solução só viria após sair na mão com um colega. Quem levasse a melhor ficava com as duas. "Era assim que ele resolvia tudo. Hoje, depois de muito diálogo, está reaprendendo a repartir", conta o policial militar Douglas Rocha, 25 anos, que é o técnico do time de futebol infantil da comunidade no Leme, Zona Sul do Rio.

Há um ano, ele faz trabalho educativo com 80 crianças. Ensina futebol na escolinha da UPP. Luiz Gabriel é um dos muitos que foram resgatados pelo esporte. "Tenho um carinho muito especial por ele. Estava largado e não estudava mais", conta o policial. Depois de dois anos longe da escola, só agora, aos 8 anos, Luiz Gabriel está sendo alfabetizado. No entanto, para fazer parte desse time, é preciso estar matriculado, frequentar as aulas e não se envolver em confusões. "Procuramos os pais para saber como está o comportamento da criança no colégio. Quem está de castigo não participa dos treinos, e se brigar na rua é suspenso dos jogos", explica o soldado Douglas.

Com a ajuda de doações e patrocinadores, os policiais providenciam lanches, uniformes e troféus para a garotada. Um incentivo para a prática de esportes e o aprendizado em sala de aula. "Estou indo na escola. E quero ser jogador como o Robinho e o Ronaldinho", sonha Gabriel.

Livres da presença armada de traficantes, desde a instalação da UPP, há sete meses, jovens dos morros do Tabajaras e dos Cabritos, em Copacabana, ganharam nova quadra, batizada de Centro de Esporte Rei da Bola. Além de melhorar a disciplina, o projeto pretende descobrir talentos de olho na Olimpíada de 2016, no Rio.

Para Vera Peçanha, diretora da Escola Municipal Costa do Marfim, no Batan, o reforço dos PMs no colégio ajudou a elevar o Ideb - principal índice da qualidade do Ensino Fundamental brasileiro, medido pelo MEC - para 5,3, batendo a meta prevista para a unidade em 2011. "Os policiais são muito parceiros e estão criando laços com a comunidade", atesta Vera.

Fonte: O Dia
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