PUBLICIDADE

Ministérios da Educação apontam o que esperam da escola em evento em SP

Feira voltada à tecnologia educacional reuniu lideranças de 30 países para discutir o que esperam da educação daqui para frente

1 nov 2013 - 19h42
(atualizado às 19h42)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Richard Culatta, representante dos Estados Unidos, defendeu a utilização das tecnologias para acelerar o aprendizado</p>
Richard Culatta, representante dos Estados Unidos, defendeu a utilização das tecnologias para acelerar o aprendizado
Foto: Vagner Magalhães / Terra

Como a tecnologia pode contribuir para a melhoria do aprendizado? Considerada uma pergunta central em quaisquer que sejam os debates sobre inovação em educação, foi esse o questionamento que também permeou as discussões do I Latin America Leadership Summit, realizado pela Bett, reconhecida feira de eventos britânica voltada à tecnologia educacional. O encontro de lideranças ocorreu na quinta-feira e hoje em São Paulo e reuniu palestrantes de mais de 30 países, a maioria deles representantes de ministérios de Educação e governos latino-americanos. Estiveram presentes também autoridades educacionais de Finlândia, Coreia do Sul e Estados Unidos.

Em comum, os mais diversos países compartilharam o que esperam da educação que oferecem daqui para frente. Alguns dos mais bem colocados nos rankings internacionais de qualidade da educação compartilharam seus desafios, que passam por flexibilizar e humanizar o ensino ou melhorar a formação de quem já saiu da escola. Entre os latino-americanos, que ainda não superaram totalmente a discussão da garantia da infraestrutura adequada, já há movimentos que colocam a inovação em sala de aula na pauta.

Finlândia: preocupação com adultos

No país nórdico, que tem um dos sistemas de educação mais inclusivos e eficientes do mundo, conforme pesquisas internacionais e avaliações como o Pisa, a preocupação agora está voltada para as crianças (hoje adultas) que não tiveram acesso ao novo modelo de educação implantado há 50 anos.

"Já não é mais um segredo para o mundo que fazemos bem. Confiamos totalmente nos nossos professores e na educação como ponto-chave para o desenvolvimento. No entanto, observamos que os adultos que hoje têm entre 50 e 65 e não puderam frequentar esse modelo de escola que criamos recentemente precisam de mais atenção do Estado e de mais instrução e qualificação", afirma Krista Kiuru, ministra da Educação do País.

Coreia do Sul: humanização do ensino

Referência em bons resultados na educação entre os países da OCDE, a Coreia do Sul tem dado sinais de que entende a importância de se centrar cada vez mais em tipo de revolução que vai além da tecnologia: a da humanização. Reconhecido como um dos sistemas educativos mais competitivos do mundo, o país ostenta uma grave estatística que preocupa o representante convidado para a Bett, Sang Kon Kim.

Segundo ele, a cada cinco alunos da educação básica, um já tentou o suicídio. A principal razão é a competição disseminada no ambiente escolar. "Buscamos as ferramentas tecnológicas como uma aliada para transformar esse cenário. Estamos iniciando uma batalha paradigmática que busca substituir a competição por mais colaboração, menos disciplina e mais liberdade de escolha", disse Kim, que é superintendente do escritório de Educação da província sul-coreana de Gyeonggi.

Estados Unidos: personalização e banda larga

Já os Estados Unidos, trouxe detalhes sobre o seu atual Plano Nacional de Tecnologia Educacional, atualmente em discussão no país. Richard Cullata, diretor do escritório de tecnologia educacional, falou sobre a importância personalizar o aprendizado dos alunos, "mas de forma eficiente". Segundo ele, mais de 20 estados americanos já possuem escolas que utilizam plataformas de ensino adaptativo apoiada em lógicas de ensino híbrido (wiki) capazes de deixar os alunos "traçarem seus próprios percursos de aprendizagem".

"Os estudantes têm diferentes níveis de aprendizagem, por isso eles devem ser tratados de forma diferente. A tecnologia só será usada de forma eficiente se ela for inserida em conjunto com novas técnicas e formas de ensino. Não podemos achar que a digitalização do tradicional é algo inovador", falou Cullata ao Porvir.

O representante do governo norte-americano ainda trouxe uma outra preocupação relacionada à infraestrutura de acesso. "Queremos que todas as nossas escolas tenham acesso a um banda larga de 100 MB. Atualmente, ainda 20% das 100 mil escolas tem menos que 100MB", disse Cullata. Só a título de exemplo, no Brasil, o padrão de banda larga estipulado pelo IBGE é de apenas 1MB. O diretor de tecnologia educacional dos EUA ainda destacou a importância das escolas monitorarem essa velocidade. Por meio da pesquisa on-line Test my School, o governo americano conseguiu traçar de forma mais fidedigna o mapa de acesso à internet de suas unidades escolares. No encontro, Cullata ainda destacou portais de conteúdo colaborativo voltados a criação de redes de cooperação entre professores, o Connected Educators, e focados na disseminação de objetos de aprendizagem digitais abertos, como o piloto Free (Federal Registry for Educational Excellencec).

Uruguai: plataformas adaptativas

A experiência de universalização do acesso ao computador e à internet para alunos da educação básica e a criação de uma plataforma adaptativa Glossário - compartilhado de termos de inovação em educação  para o ensino da matemática - foram as principais iniciativas detalhadas por um dos representantes do Uruguai. Com a plataforma, estudantes do ensino fundamental e médio têm acesso a um ambiente virtual interativo que simulam competições de matemática. A plataforma consegue mapear as dificuldades de aprendizagem do estudante e registrar seu histórico de evolução.  "Para estimular ainda mais a participação dos alunos, chegamos até a sortear ingressos para partidas entre Uruguai e Argentina. É incrível como eles participam ativamente, até durante os finais de semana", comenta Michel Brechner, diretor do Plano Ceibal.

Foi com esse plano que o país foi o primeiro da América Latina a distribuir para todos os alunos computadores com conexão à internet. Iniciada em 2007, a ação foi fortemente inspirada no projeto um computador por aluno, fundado por Nicholas Negroponte, do MIT. Hoje, mais de 570 mil alunos e professores têm seus próprios laptops. Destes, 99% tem conexão com a internet. "Com o plano conseguimos diminuir o abismo digital entre estudantes ricos e estudantes pobres. Para nós, antes de falarmos do impacto da tecnologia na educação, precisamos conceder o acesso a ela", afirma Brechner.

Mais destaques América Latina: infraestrutura e colaboração

A ideia de democratizar o acesso à tecnologia também é defendida pelo representante do Peru, Sandro Flores. Segundo o diretor geral de tecnologia ministério de Educação do país, "o acesso à internet deve ser considerado tão vital quanto o acesso à luz e à água". A principal inovação, no entanto, ficou por conta do portal Peru Educa, uma plataforma de educação que disponibiliza cursos virtuais e objetos virtuais de aprendizagem. O mais interessante, segundo Flores, é que a o ambiente digital foi desenhado não só para professores, como para alunos e também pais. "Todos os dias cadastramos mais de 900 internautas na plataforma", comenta.

Já o Chile, reconhecido com um país de vanguarda em termos de projetos ligados à inovação de políticas públicas em educação, trouxe sua experiência com o site Enlaces. Trata-se de um portal criado com o objetivo de estimular a aplicação da tecnologia na sala de aula. Dividido por seções temáticas, o site traz materiais com estratégias de uso das tecnologias voltadas para o aprendizado para os professores, além de dar publicidade a atividades docentes nessa área e a projetos desenvolvidos por escolas de todo o país.

Países como Bolívia, Paraguai, México, Honduras e Panamá também apresentaram iniciativas institucionais. O representante panamenho, por exemplo, detalhou o projeto Entre Pares. "A iniciativa é desenvolvida em várias escolas do país. Buscamos com projetos envolvendo tecnologia, aproximar o aprendizado dos alunos, que se sentem mais estimulados para aprender", fala Arturo Rivera Aguilar, diretor de avaliação do ministério de educação do Panamá. Grande parte dos projetos envolve o uso da robótica.

Porvir Porvir
Compartilhar
Publicidade
Publicidade