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MG: universidade causa polêmica com curso para difundir o comunismo

Programa de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) tem enfoque na difusão do comunismo, principalmente das ideias de Karl Marx

9 jul 2013 - 09h22
(atualizado às 09h29)
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As ideias do pensador alemão Karl Marx são discutidas no curso
As ideias do pensador alemão Karl Marx são discutidas no curso
Foto: Getty Images

A universidade é um espaço de debate, pesquisa e produção de conhecimento. Porém, colocar em destaque determinadas linhas ideológicas pode gerar polêmica. É o caso do Centro de Difusão do Comunismo (CDC), programa de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Minas Gerais, que causou comentários nas redes sociais especialmente por usar a palavra "difusão" para nomear um projeto de pesquisa dentro da academia.

"O site deles fala em debate e militância anticapitalista, e isso acontece dentro de uma universidade federal com dinheiro público", afirma o coordenador do blog Escola Sem Partido, Miguel Nagib. No site, Nagib publica casos em que acredita que espaços educacionais são usados para fins políticos e ideológicos.

Para o coordenador do CDC, André Mayer, a crítica ao uso da verba pública não se sustenta. "Questiono todos os outros programas de extensão das universidades brasileiras que não têm a proposta de fazer uma crítica à sociedade. Vejo como centros de difusão do capitalismo", comenta. Mayer afirma que a verba recebida por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é destinada ao pagamento dos 20 bolsistas do programa.

Para o coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Paulo Moura seria incorreto uma universidade se posicionar ideologicamente. Ele diz que a presença da palavra "difundir" no nome do programa pode causar a impressão de propaganda ideológica.

O Conselho Departamental do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Ufop, departamento ao qual o CDC está vinculado, não restringe os temas tratados nos projetos da universidade. Em nota oficial, o conselho se posiciona a favor do projeto coordenado por Mayer. "O teor da referida atividade acadêmica é público e pode ser conhecido no endereço eletrônico www.cdc.ufop.br. Uma leitura minimamente atenta observará não haver qualquer vínculo partidário nesta atividade, que está assentada nos três principais pilares da universidade pública: ensino, pesquisa e extensão", diz a nota.

"A ideia principal do CDC é pesquisar, questionar, debater e pensar uma sociedade diferente dessa", explica Mayer. O coordenador do CDC afirma que, sendo um programa de extensão, o mesmo não faz parte da grade curricular de qualquer curso na universidade, portanto, frequentam as atividades os alunos interessados no tema. "Faz pesquisa nessa área quem quer, frequenta o curso de extensão quem quer. Essa é uma escolha acadêmica e política do aluno, do trabalhador", completa.  

O que se aprende no CDC

Moura observa que a natureza das ciências sociais é estudar ideologias, mas que o posicionamento de uma instituição colocaria em xeque o caráter científico da pesquisa. Estudar diferentes autores e observar as linhas ideológicas propagadas ao longo da história forma o pensamento crítico. "O conhecimento sobre qualquer área do comportamento humano em sociedade contribui para a compreensão dos fenômenos sociais e políticos, ajuda a estabelecer critérios", afirma.

O CDC foi criado a partir de uma posição crítica do curso de Serviço Social em relação ao sistema capitalista. Por esse motivo, em 2009, surgiu o núcleo de pesquisa Liga dos Comunistas, primeira atividade do centro. "Tivemos a intenção de divulgar uma crítica e apontar outra sociedade que seria de comum acordo: o comunismo", explica Mayer. O comum acordo citado pelo professor é uma reprodução do pensamento de Karl Marx - pensador alemão que escreveu o Manifesto Comunista em 1848. Marx acreditava na promoção de uma sociedade igualitária, sem classes sociais, baseada no bem comum e no controle dos meios de produção.

"As ideias de Marx são extremamente atuais, porque a teoria social do autor trouxe à luz o movimento do capital, sua estrutura e dinâmica que constituem as relações sociais", completa Mayer. Além do núcleo de pesquisa chamado a Liga dos Comunistas, o programa possui outras três atividades. A equipe de debates Rosa de Luxemburgo, que tem como objetivo discutir questões ligadas ao movimento dos trabalhadores da mineração e a educação na universidade, o curso Relações Sociais na Ordem do Capital, centrado na teoria social de Marx, e o curso Mineração e Exploração dos Trabalhadores na Região, feito em parceria com o Sindicato Metabase Inconfidentes com a intenção de discutir o início dos movimentos sindicais no mundo, a mineração e seus impactos, história da Vale, crise econômica e lutas sociais.

Premiado como melhor projeto de extensão pela pró-reitoria de extensão da Ufop, em 2012, o CDC conta com uma equipe de 20 bolsistas, vinculados ao CNPq e 10 voluntários, em sua maioria, estudantes do Serviço Social. O programa de extensão é aberto para participação da comunidade.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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