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Matofobia: escolas tentam superar a aversão dos alunos pela matemática

Um dos motivos para se comemorar o Dia Nacional da Matemática em 6 de maio é combater a má fama de vilã na escola

6 mai 2013 - 12h39
(atualizado às 17h49)
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Pedro, 9 anos, tinha dificuldade em fazer cálculos, mas superou a fobia pela matemática com aulas complementares
Pedro, 9 anos, tinha dificuldade em fazer cálculos, mas superou a fobia pela matemática com aulas complementares
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Quando soube que ia ter aulas de matemática à tarde, além das que já assistia no colégio, Beatriz Santos Sampaio, 10 anos, jogou os livros no chão e começou a gritar. Embora não admitisse, a cena era um pedido de ajuda. Hoje, cerca de dois meses após começar o complemento escolar na Smartz School em Salvador, a menina já vê resultados e passou a gostar de ir à aula.

A mãe, Rejane, conta que percebeu que a filha, a cada ano, acumulava dúvidas sobre o assunto, e isso tornava a matéria cada vez mais difícil. "Ela dizia que sabia de tudo, que não precisava de ajuda e queria fazer tudo sozinha. Por isso, quando a levei para fazer o complemento ela se sentiu traída", conta. Beatriz só aceitou a ideia e admitiu a importância do curso quando recebeu de volta uma prova da escola e percebeu que agora sabia as respostas de muitas questões que errara no teste.

Mas nem todos conseguem superar as barreiras que rondam essa disciplina. Um dos motivos para se comemorar o Dia Nacional da Matemática em 6 de maio, é combater a má fama de "vilã" na escola. Infelizmente a matofobia, nome dado à aversão à matemática, ainda é uma situação comum nas escolas brasileiras. 

Dados divulgados em março pelo Todos Pela Educação, com base no desempenho dos alunos na Prova Brasil em 2011, indicam que apenas 10,3% dos jovens brasileiros aprendem o esperado em matemática ao concluírem o ensino médio, quando a meta estabelecida pelo movimento é de 20%. Psicopedagoga da Ensina Mais, Thalita Tomé explica que o medo da disciplina é histórico e pode ser passado de uma geração a outra. 

"A matemática é uma linguagem e exige habilidades como qualquer outra. Todo ser humano tem capacidade de aprender", defende, lembrando que as crianças já chegam ao colégio assustadas com a disciplina.

Thalita aponta que a matemática deve ser encarada como um aprendizado cotidiano e que a relação da teoria com a prática deve ser mostrada às crianças constantemente - das medidas e frações utilizadas em uma receita ao tempo feito em uma corrida, por exemplo. A psicopedagoga assinala ainda que é importante que pais não desestimulem os filhos e que as crianças compreendam que as dificuldades fazem parte de todas as fases e aspectos da vida. "É necessário que os estudantes superem as dúvidas a cada etapa do aprendizado, para que o problema não se acumule, por isso trabalhamos com o conceito de complemento escolar", afirma.

Adriana de Quadros Pinheiro Portella percebeu que o filho Pedro, 9 anos, estava com dificuldades quando o pequeno chegou ao 3º ano sem saber somar. Conversou com a professora do colégio e ficou sabendo que o menino não conseguia se concentrar, nem correspondia ao que estava sendo ensinado. "Ele ia às aulas, mas não aprendia", relata a mãe. Para superar o problema, há um ano, ela decidiu matricular o filho na Ensina Mais, em Viamão, para fazer o complemento escolar. Pedro, que antes via a soma como uma operação impossível, hoje diz multiplicar com facilidade.

Sofrimento

Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá e presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Marilda Gonçalves Dias Facci indica que o fato de não conseguir acompanhar as aulas pode fazer com que a criança desenvolva a aversão à disciplina, ou pode ser causado por alguma situação vexatória relacionada à matéria. Na percepção da docente, o fato de não conseguir acompanhar as disciplinas em sala de aula faz com que o aluno sofra psiquicamente.

"As crianças sofrem quando não estão aprendendo, pois a expectativa da sociedade é que elas aprendam. Reprovar é algo difícil para ela, e muitas vezes a indisciplina do aluno é uma reação à falta de aprendizado", afirma.

Desenvolver um trabalho lúdico e personalizado, segundo a professora, auxilia a criança a aprender mais facilmente. Resgatar a sua autoestima também é crucial na superação das dificuldades. Ela ressalta, ainda, que o processo de aprendizado é coletivo, e envolve equipe pedagógica, pais, professores, comunidade escolar e políticas educacionais.

Questão cultural

Professora do mestrado em educação do Centro Universitário La Salle, em Canoas (RS), Vera Lucia Felicetti estudou a matofobia em sua dissertação de mestrado. A docente destaca outro personagem também essencial ao processo de aprendizagem: o aluno. "O estudante deve ser protagonista de sua educação. Não basta comparecer à escola, tem que questionar. É preciso comprometimento", enfatiza. Vera Lucia aponta também a importância da formação continuada do professor, para que ele seja capaz de buscar métodos que estimulem os alunos em sala de aula.

No estudo, a pesquisadora identifica a matofobia como uma questão cultural e aponta que os estudantes, geralmente, não gostam ou tem medo da matemática porque não a entendem. Entre as possibilidades de melhora, indicadas por docentes que obtiveram maior êxito no ensino da disciplina, estão o ensino sob diversos enfoques. Além disso, a professora lembra que os pais devem acompanhar o aprendizado da criança, verificando os deveres de casa para identificar dificuldades.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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