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Luta das ruas precisa estar dentro da escola, diz pesquisador americano

Michael Apple defendeu os protestos no Brasil e disse que essa visão crítica do Estado deve fazer parte da escola

19 jul 2013 - 11h43
(atualizado às 11h52)
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Michael Apple (dir.) fez a palestra de abertura do Seminário de Educação do Rio Grande do Sul
Michael Apple (dir.) fez a palestra de abertura do Seminário de Educação do Rio Grande do Sul
Foto: Cristhine Genro / Secretaria da Educação RS / Divulgação

Os protestos que tomaram as ruas do Brasil no mês de junho também precisam estar dentro das escolas públicas. Essa é a avaliação do pesquisador americano Michael Apple, que falou para uma plateia lotada de professores na noite de quinta-feira no salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Pesquisador sobre educação há 40 anos na  Universidade de Wisconsin-Madison, ele defendeu uma escola crítica, aberta, que respeite a diferença.

"Temos um Estado que finge ser democrático, mas o povo do Brasil nas ruas mostrou que ele (Estado) não pode fazer mais isso. Isso também precisa estar dentro da escola", afirmou durante palestra de abertura do Seminário Internacional de Educação, promovido pelo governo do Rio Grande do Sul. Segundo ele, essa escola que absorve a indignação das ruas é um espaço de crítica, de diáologo, que questiona, que abra espaço para a arte, para a cultura das comunidades. "As escolas são parte do aparato social e cultural da sociedade. Hoje se demoniza tudo o que é conhecimento popular, mas esse conhecimento precisa estar dentro da escola e ser legitimado por ela", afirmou ao criticar o que classifica como currículo tecnicista.

O pesquisador, que começou a carreira como professor da educação básica, disse que o "protesto" dentro da escola se dá ouvindo os alunos e sempre propondo questionamentos. "O professor é peça chave nesse processo", defendeu ele, ao afirmar que é preciso romper com a cultura de apenas repassar conteúdos pré-estabelececidos. Para ele, a educação pode transformar a sociedade, mas não sozinha, mas envolvendo a comunidade.

Segundo Apple, a escola precisa estar aberta para aqueles que menos tem se beneficiado com o modelo de educação em vigor, como negros e gays. Ele ainda contou os desafios que enfrentou dentro de casa para garantir a inclusão. "Eu e minha mulher, que está aqui na plateia, somos pais de pessoas negras, e acompanhamos o preconceito enfrentado durante o seu desenvolvimento. Isso não é educação. As crianças podem transformar a escola, e a escola precisa estar aberta a essa mudança", disse. Para ele, a educação crítica desafia as identidades sociais, de classe, gênero e raça, em um momento histórico que tende a uma "restauração conservadora".

Crítico da “direita" dominante, Apple afirmou que existe um movimento mundial, presente com força nos Estados Unidos, de privatização da educação. "As escolas são compradas e vendidas, estão sendo vistas como um local para o lucro. Os professores estão sendo avaliados com metas", disse ao criticar o presidente Barack Obama, que estaria estimulando o pagamento dos professores a partir de resultados. "O professor está virando um operário de fábrica e a educação, se transformando num negócio". Ele ainda emendou: "Precisamos interromper essa privatização, a venda dos nossos alunos como se fossem um carro, um um papel higiênico", disse em tom de indignação.

A palestra começou com um pedido de desculpas por não falar português. "Isso faz parte do projeto imperial americano, de achar que as crianças pobres, como eu, não precisavam falar outro idioma que não fosse o inglês. Então, eu não falo o português que é uma língua que eu adoro", disse. O encerramento veio com um agradecimento à Porto Alegre, cidade que visitou pela primeira vez na década de 1980 e que, segundo ele, aprendeu a admirar. Apple é autor de diversos livros, entre eles Ideologia e Currículo e Política Cultural e Educação.

Fonte: Terra
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