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Intercambistas dão aulas sobre sustentabilidade em escolas públicas

25 jun 2012 - 15h35
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"Vamos fazer um círculo com as cadeiras. Hoje, teremos um jogo". A turma organiza a roda, acompanhada pela professora, enquanto uma dupla de jovens passa as instruções. Os alunos devem se dividir em dois grupos. O primeiro precisa sair da sala - serão os estrangeiros. O segundo, que permanece no local, é orientado a reagir de acordo com as perguntas feitas pelos visitantes. Mulheres não respondem a homens e vice-versa. Novamente reunidos, precisam conversar e descobrir características de nativos e estrangeiros.

Na imagem, a britânica Naomi Martin e o venezuelano Juan Dávila comandam as brincadeiras na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro
Na imagem, a britânica Naomi Martin e o venezuelano Juan Dávila comandam as brincadeiras na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro
Foto: Lílian Stein / Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra

A britânica Naomi Martin e o venezuelano Juan Dávila comandam a brincadeira na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro, em Porto Alegre (RS). Sugerem perguntas e frequentemente ouvem "como é em seu país?". Aos 23 e 24 anos, os dois saíram de seus países e desembarcaram no Rio Grande do Sul para participar do EduAction, projeto da AIESEC, organização formada por estudantes presente em 11 países.

Desde março até o início de junho, eles deram aulas para alunos de 7ª e 8ª séries de dez escolas públicas de Porto Alegre. Segundo o diretor do EduAction, Felipe Ledur, a cada semana, os "professores" do projeto se preparam para falar sobre um dos oito temas previstos no programa: apresentação, em que abordam sua língua e costumes; global village, que envolve toda a escola em uma espécie de feirinha, para a qual os estrangeiros trazem artefatos e pratos típicos de seus países; diversidade cultural; sustentabilidade; criatividade e inovação; motivação, com espaço para debates sobre desejos e dúvidas relacionadas ao futuro; e despedida, aula final em que os jovens encerram o programa e recebem avaliações dos alunos. ¿A ideia é aproveitar a presença dos estrangeiros, que despertam atenção, para passar conteúdos importantes, mas que nem sempre são tratados em sala de aula¿, diz.

Para alunos, aulas quebram preconceitos

Durante as lições sobre diversidade cultural, os alunos da escola Rio de Janeiro foram perguntados sobre preconceito. Naomi mostrou a imagem de Haggis, prato típico da culinária escocesa que leva partes de ovelha. "Eu nunca comeria isso", diziam alguns. "Tenho certeza de que é ruim", disse outra. "Era a mesma coisa que eu pensava sobre comer coração de galinha", rebateu a intercambista. "Depois de comer, gostei. Por isso, temos que conhecer antes de julgar". Todos concordaram.

Naomi e Juan admitiram não ser fácil manter em silêncio uma turma de adolescentes. Por isso, apostavam em jogos e permitiam que os estudantes contassem histórias e dessem opiniões. O ambiente é de troca constante - e eles aprovam. "Primeiro, achamos estranho, eles falavam de um jeito muito diferente e a gente não entendia. Hoje, eu entendo tudo e adoro saber mais sobre os países deles", diz Rafaela Oliveira Neto, 12 anos. Maxyane Costa, 14, acompanha a colega. "No início, eles disseram que os pais tinham medo de que viessem para cá. Acho que meus pais sentiriam a mesma coisa, mas essas aulas nos ajudam a conhecer a outra cultura. Se eu for viajar, vou saber lidar com eles", afirma.

O sonho do intercâmbio ganhou espaço na escola. Se antes essa era uma realidade distante, a chegada dos jovens movimentou a turma. Gabriel Roberto Dias Cauduro, 14 anos, afirma que já está pesquisando sobre outros países na internet. "Eu sempre quis fazer, agora fiquei com ainda mais vontade", diz. Maxyane completa: "Agora que eu sei, quero saber mais".

Cinco duplas se dividem entre cerca de 40 turmas

Normalmente, o EduAction envolve dez escolas de Porto Alegre. Semanalmente, cerca de 40 turmas recebem uma dupla de intercambistas para um período de uma hora e meia. A iniciativa teve início em 2009 e, desde então, expandiu-se para outras quatro cidades brasileiras - São Paulo, Campinas, Sorocaba e Belo Horizonte - e para escolas no Uruguai e na Colômbia. Desde o início da edição que se encerrou neste mês, dez jovens do Uruguai, México, Argentina, Colômbia, Venezuela, Canadá, Reino Unido, Eslovênia, Quênia e Alemanha dividiram o apartamento da AIESEC em Porto Alegre.

Os selecionados para o trabalho voluntário nas escolas passaram cerca de três meses no Brasil. Primeiro, tiveram aulas de português e conheceram a cidade. Com o início das aulas, passaram cerca de oito períodos nas escolas, além de receberem capacitação semanal sobre os temas da vez. "Eles preparam a aula, elaboram dinâmicas, planejam tudo. Depois, realizam uma simulação para a equipe da organização, que dá sugestões", explica Ledur. A presença dos estrangeiros é sempre acompanhada por um professor da escola. "Nem todos os voluntários são professores. Essa não é uma exigência, então sempre há um profissional da turma para acompanhar os alunos", afirma.

Jovens têm histórico de viagens e trabalho voluntário

O currículo dos jovens envolvidos nos projetos da AIESEC é bastante diversificado, mas desponta uma característica em comum: a maioria já havia realizado intercâmbio e trabalho voluntário. ¿São pessoas que viveram essas experiências, têm espírito de liderança e procuram boas iniciativas¿, enumera Ledur.

Formado em Administração e Contabilidade, Juan era voluntário na Venezuela, onde dava aulas a adultos. "Eu sempre quis vir ao Brasil. Tenho aprendido muito. Vivo com estrangeiros e ainda tenho contato com nativos. Isso é o melhor de tudo", diz. O venezuelano planeja outros dois intercâmbios antes de voltar para casa. "Quero estudar mais, talvez na Argentina. Mas depois volto para a Venezuela. Acho que o meu país precisa de pessoas como eu", destaca.

Naomi quer continuar viajando. Seus planos para depois de junho eram de passar dois meses conhecendo o Brasil, para depois voltar ao Reino Unido - provavelmente por pouco tempo. "Tenho saudades de casa, que fica muito longe daqui, mas aprendi o português, me tornei mais independente e gosto muito da rotina. Eu não tenho um vínculo muito grande com a minha cidade. Eu quero criar vínculos com outros lugares", diz.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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