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Alemanha: a queda do Muro de Berlim

18 nov 2013 - 12h57
(atualizado às 12h57)
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Foto: Getty Images

Em novembro de 1989, depois de terem ouvido pelo rádio um confuso comunicado das autoridades comunistas sobre a possibilidade dos cidadãos da Alemanha Oriental, a RDA, terem naquele momento mesmo o direito de viajar para o Ocidente, uma massa de gente começou a amontoar-se frente às cancelas que davam passagem pelo muro de Berlim. Assim, espontaneamente, deram os primeiros passos para por fim à existência daquele paredão hediondo que desde agosto de 1961 separava os alemães em dois corpos distintos, que por igual apartava a humanidade inteira em duas facções inimigas.

Nós somos o povo!

Anoitecia em Berlim. A concentração humana foi se dando aos poucos. Era uma daquelas tardes-noite gélidas de novembro, mas a exaltação dos que se apinhavam nas cancelas da fronteira da cidade dividida fez com que ignorassem tudo, do frio e ao medo.

Como se fora uma imensa escultura expressionista, o grande muro de cinco metros de altura que os separava do mundo, cinzento, farpado, medonho, se estendia para todos os lados formando um cinturão de mais de 45 quilômetros de extensão (sendo que 37 deles dentro da zona residencial). Era a última noite daquela horrorosa muralha, erguida a mando dos soviéticos em 1961, ainda inteira.

Os gritos começaram. O coro aumentava, o refrão era cada vez mais forte:

O longo cativeiro deles estava por terminar.

O 9 de novembro

Os guardas orientais, os outrora tão temidos Vopos, perplexos, embaraçavam-se frente à multidão que afluía de todas as partes. Os milicianos entravam nas guaritas e, em telefonemas desesperados, pediam instruções. Os seus superiores sumiram. Os comunistas se volatilizaram. Do outro lado do muro, em Berlim Ocidental, outra massa de gente que para lá correra gritava para que erguessem as cancelas, que deixassem os do leste sair. E assim se deu. Naquela noite de 9 de novembro de 1989, entre os abraços e vivas de irmãos desencontrados, a Alemanha voltava a ser uma só.

Tudo passa pela Porta de Brandeburgo

Confirmava-se o que Heinrich Heine, o poeta lírico, dissera certa vez sobre o alemão ser lerdo em dar o primeiro passo, mas "uma vez se movendo nalguma direção, segue-a até o fim com a mais tenaz perseverança". Assistiu-se nas cercanias do Portão de Brandeburgo um duplo fenômeno: a reunificação alemã sepultou a Guerra Fria e a aceleração do fim da União Soviética (ocorrida em 1991).

Para W. R. Smyder, um americano estudioso da política do após-guerra, isso não causou nenhuma surpresa:

As desavenças em torno da posse da Alemanha provocaram o confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética. O consenso entre Reagan e Gorbachev em desocupá-la encerrou-o. Ela atou e desatou a Guerra Fria.

O azar e a sorte da Alemanha

Nesta história, os alemães até que tiveram sorte. Se a geografia antes lhes fora madrasta, colocando-os bem no centro de uma Europa quase que permanentemente convulsionada, envolvendo-os obrigatória e diretamente em todas as guerras lá travadas nos últimos três séculos, a posição estratégica que ocupam os salvou de coisa pior depois de 1945. Os vencedores, tanto os americanos como os soviéticos, em crescente hostilidade, trataram de erguer e fazer prosperar o "seu" lado da Alemanha, dividido entre eles desde os tratados de Yalta e Potsdam.

Estimulados a voltar ao trabalho e pacificados, o resultado não demorou a aparecer. A parte ocidental, tocada pelo Wirtschaftwunder, o Milagre Econômico, de 1948-1952, logo galgou a posição do país mais bem-sucedido da Europa. A oriental, por sua vez, tornou-se a mais avançada do bloco socialista. Encolhida a mão dos ocupantes 45 anos depois, retirados os exércitos de ocupação, ambas as Alemanhas, como poderosos imãs, voltaram a se juntar.

Hegel e a unificação alemã

Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o grande filósofo, num ensaio constitucional sobre o futuro da Alemanha, o Die Verfassung Deutchlands, de 1802, não apostou então nem um níquel no povo alemão, ou suas assembleias provinciais, vir a desempenhar algum dia um papel significativo numa possível unificação. "Eles nada sabem em absoluto", escreveu o pensador, pois para o alemão comum a questão da unidade nacional era "algo completamente estranha".

O que os alemães precisavam era de um Teseu, um estadista-guerreiro como fora o ateniense, um conquistador capaz de organizá-los e compeli-los à unidade. Se isso foi premonitório do papel que Napoleão desempenhou durante a ocupação francesa da Alemanha (entre 1806-1813), e mesmo da ascensão do IIº Reich de Bismarck em 1871, o que diria o velho Hegel se visse o que testemunhamos na Porta de Brandeburgo? Lá estava o povo alemão desmentindo-o.

O fim do muro

Confraternizando nas brechas já abertas do muro – àquela altura assaltado por centenas de picaretas e martelos –, sem que ninguém tivesse ordenado, era a gente simples da cidade, jovens na maioria, quem no final pôs fim naquilo, seguindo apenas os seus sentimentos mais profundos. Nenhum titã os guiava, sequer um pseudo-salvador da pátria arengava para eles. Não estavam armados nem furiosos, apenas davam vazão à embriagadora sensação de estarem juntos e livres novamente.

Fonte: Especial para Terra
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