Com a cabeça dolorida e ainda sem entender os motivos da agressão por um morador de rua, a estudante de Museologia Poliana Romeiro Wanderley narra com espanto o episódio que viveu na manhã de terça-feira, no estacionamento da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB). "Ele apareceu, por trás de um carro, com um pedaço de pau e me atingiu na cabeça. Foi tudo muito rápido”, conta a aluna de 28 anos, que fazia a pé o trajeto para casa, na Asa Norte.
Poliana relata que o ataque ocorreu sem nenhum motivo aparente. O agressor não tentou assaltá-la ou ofendê-la com xingamentos. “Não consigo entender. Acredito que a intenção era me matar”, diz. Ela foi levada por um amigo ao Hospital Regional da Asa Norte, fez uma radiografia do crânio e não precisou ficar internada. Na quarta-feira, com tontura e náusea, a estudante foi avaliada por uma enfermeira da UnB e encaminhada para o Hospital de Base por uma ambulância da universidade.
Apontado por testemunhas como responsável pela agressão, Renato Pereira dos Santos, de 20 anos, foi imobilizado por estudantes e seguranças do campus. A Polícia Militar foi logo acionada e encaminhou o rapaz para a Delegacia de Repressão a Pequenas Infrações (DRPI), onde o caso foi registrado. Renato prestou depoimento e foi liberado no mesmo dia. "Em flagrantes como esse, o autor assina um termo de compromisso e é liberado. A Lei 9.099/1995 dá um tratamento diferenciado aos crimes de lesão corporal leve, considerados de menor potencial ofensivo”, explica um agente da delegacia. A decisão desagradou Poliana. "Ele vai acabar matando alguém”, alerta. "Ele disse que não era a primeira vez que agredia uma mulher, nem seria a última”.
Medidas
Assim que tomou conhecimento do caso, na manhã desta quarta-feira, a decana de Assuntos Comunitários, Denise Bomtempo, solicitou assistência à estudante. “Vamos acompanhá-la da melhor maneira possível. Precisamos garantir a integridade física e psicológica dela”, afirmou. A assistente social e assessora do decanato, Maria Therezinha da Silva foi à casa de Poliana. “Nosso acompanhamento será contínuo. Vamos encaminhá-la ao Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos e auxiliar em tudo o que for necessário”, disse.
Denise Bomtempo solicitou ao prefeito do campus, Marco Aurélio de Oliveira, que, em ocorrências como essa, a comunicação com o decanato seja feita de forma imediata. Em geral, a área de assuntos comunitários toma conhecimento formal dias após a ocorrência dos fatos. “Com esse contato, poderemos atuar com mais eficiência em casos que demandam intervenções rápidas”, diz Maria Therezinha.
Segurança
O reitor Ivan Camargo disse estar “chocado” com o caso e reforçou a necessidade de ampliar as discussões sobre segurança nos campi. “É um fato lamentável. Vamos apurar e agir para combater esse tipo de situação”, afirma. Ivan lembra que audiência pública será realizada para tratar do planejamento de combate à violência na UnB. O evento estava previsto para esta semana, mas precisou ser adiado. "Será uma oportunidade importante para definirmos ações estratégicas”.
A integração física com a cidade é uma característica da Universidade de Brasília. O campus Darcy Ribeiro tem um vasto número de acessos e não há restrições de circulação na maior parte de seus quase 4 km² de área. Esse aspecto faz com que a comunidade acadêmica sofra com problemas comuns aos demais espaços públicos. Nesta semana, o reitor foi vítima da falta de segurança. Ele teve uma moto furtada no estacionamento em frente ao prédio da Reitoria.
Nudez, lama e racismo: veja trotes polêmicos pelo Brasil
Vestindo apenas cueca e com uma máscara sobre a cabeça, cobrindo seu rosto, jovem participa de trote em São Paulo. Na manhã da última quarta-feira (20), ele teve de atravessar a Avenida Paulista agindo de maneira irreverente. Confira, nas imagens a seguir, alguns trotes polêmicos feitos para receber calouros em universidades brasileiras neste ano
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Ele esperou o semáforo fechar e, no meio da faixa de pedestres, corria de um lado para o outro abordando pessoas
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Em trajes sumários e escondido sob a máscara, o estudante chamou a atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A brincadeira faz parte de uma gincana de calouros que estaria sendo realizada por estudantes da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Entre as peripécias, o jovem - que seria calouro do curso de Administração da FGV-SP - dava cambalhotas no chão
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A brincadeira inusitada ocorreu em meio à movimentada Avenida Paulista no final da manhã de quarta-feira (20)
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
As pessoas reagiram com surpresa à brincadeira em São Paulo. O trote - para o qual o aluno teria se voluntariado - é defendido como parte de uma tradicional gincana de calouros
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgou nota de repúdio ao suposto trote realizado por estudantes da Faculdade de Direito no dia 15 de março, durante a recepção aos calouros no prédio que fica localizado na região central de Belo Horizonte. Na primeira imagem, uma jovem está pintada de preto com um cartaz de papelão escrito "Caloura Chica da Silva". A moça está acorrentada pelas mãos e um rapaz de pele clara sorri enquanto segura a corrente
Jovem aparece acorrentada, com o corpo pintado e carregando uma placa na qual se lê Caloura Chica da Silva
Foto: Facebook / Reprodução
Na segunda foto, um estudante está pintado de tinta vermelha e amarrado a uma pilastra enrolado por uma faixa de plástico utilizada em isolamento de acessos. Ao lado e também sorrindo, três estudantes fazem um gesto nazista, com a mão direita estendida para frente. Um deles chegou a colocar um bigode postiço semelhante ao que usava o ditador alemão Adolf Hitler.
Foto: Facebook / Reprodução
Estudantes do curso de direito da UFMG bateram boca após assembleia realizada no dia 19 de março para discutir a repercussão do trote feito por veteranos
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
O estudante Caio Perrone (esq.) negou que o trote tivesse conotação racista. Segundo ele, as brincadeiras são normais
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Segundo o presidente do Centro Acadêmico, Felipe Gallo, atitudes de combate a esse tipo de trote serão tomadas
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
A unidade de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) confirmou que os estudantes que ficaram nus durante um trote no final de fevereiro podem ser expulsos da instituição. Na foto, um estudante simula sexo com boneca inflável
Foto: Frente Feminista / Divulgação
Além de tirar a roupa e mostrar os órgãos sexuais, os alunos teriam feito gestos obscenos contra um grupo de feministas que protestava contra o "Miss Bixete", uma espécie de concurso de beleza a que as novatas são submetidas. Na foto, jovem protesta contra o desfile
Foto: Frente Feminista / Divulgação
Em nota, o Coletivo de Mulheres disse que o Miss Bixete é um concurso pensado para reproduzir "o padrão das mulheres como mero objeto ao fetiche masculino". O desfile aconteceu no dia 26 de fevereiro
Foto: Frente Feminista / Divulgação
O grupo decidiu protestar, de forma pacífica, a um ato questionável feito dentro do espaço público da universidade. "Desde o princípio, no entanto, sofremos todos os tipos de agressão verbal e simbólica"
Foto: Frente Feminista / Divulgação
A USP abriu uma investigação para apurar o que aconteceu e os alunos envolvidos podem ser punidos com advertência ou até com expulsão
Foto: Frente Feminista / Divulgação
No entanto, nem todos os trotes são polêmicos nas universidades do Brasil. Em 18 de fevereiro, estudantes aprovados na seleção da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) foram recebidos com os tradicionais banhos de lama e tinta
Foto: Bruno Santos / Terra
No primeiro dia de matrícula, alunos aprovados para estudar na Universidade de São Paulo (USP) foram recebidos com muita tinta e banho de lama
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Além do banho de lama, os alunos também participavam de brincadeiras como futebol de sabão e "guerra" de cotonetes
Foto: Bruno Santos / Terra
O corte de cabelo era feito, segundo os veteranos, somente nos calouros que aceitavam passar a tesoura
Foto: Bruno Santos / Terra
Ninguém era pressionado a fazer o que não queria, de acordo com os estudantes
Foto: Bruno Santos / Terra
'O trote está tranquilo, não tem maldade', garantiu Bruno Bogato, 17 anos, que vai cursar mecânica naval
Foto: Bruno Santos / Terra
Fernando Caputo (esq.), 20 anos, Willian Murasawa (centro), 28 anos, e Lucas Pereira, 19 anos disseram que ninguém 'pegou pesado' no trote
Foto: Bruno Santos / Terra
O banho de lama já é tradicional no trote da Escola Politécnica da USP (Poli-USP), na capital paulista
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Estudantes participam de trote no dia da matrícula na USP, em São Paulo