Escolas são ambientes hostis a homossexuais, aponta pesquisa
- Claudia Andrade
- Direto de Brasília
Uma pesquisa sobre homofobia nas escolas aponta despreparo dos professores para lidar com um tema presente no dia a dia dos estudantes. A escola dificulta que o aluno assuma sua posição homossexual e o conhecimento sobre a existência da homofobia no ambiente escolar é maior entre alunos do que entre professores.
"Em diferentes níveis, a homofobia é constante nas escolas e muitas vezes é entendida como algo natural", diz Carlos Laudari, diretor da ONG (organização não-governamental) Pathfinder Internacional.
A ONG participou da pesquisa, que foi realizada com recursos do Ministério da Educação (MEC) e apresentada nesta terça-feira (23) durante o seminário "Escola sem Homofobia", promovido pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados.
O levantamento foi feito em 11 capitais do País e mais de 1,4 mil pessoas foram entrevistadas, entre alunos, professores, diretores de escola, gestores de secretarias de ensino e outros profissionais do setor, como merendeiros, por exemplo. O estudo foi feito entre abril e setembro deste ano, em quatro escolas de cada cidade, sempre com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.
O levantamento é qualitativo, portanto, não traz números. Mas traz depoimentos como o de um aluno que, ao ser questionado se havia travestis em sua escola, respondeu que "graças a Deus, não". "Se ele fala isso é porque ouviu alguém dizer. Uma criança de 12 anos não fala isso se não tiver ouvido", avalia o diretor da ONG.
Outra pergunta referia-se ao beijo homossexual. A resposta de um aluno foi: "Quando vejo dois caras se beijando, acho nojento", enquanto um professor declarou "não achar normal".
"Há um consenso de que a reação dos pais (à homossexualidade do filho ou da filha) é quase sempre negativa. E muitos professores usam a postura da família para tirar sua responsabilidade", lamenta Laudari, sobre os resultados da pesquisa.
Um dos problemas identificados pela pesquisa é que a educação sexual não é uma disciplina aplicada de forma sistemática. "Muitos professores estão implorando para ter mais conhecimento sobre a área", acrescenta.
Além da falta de preparo, os professores também alegam falta de tempo e até de interesse sobre o assunto. A grade curricular também limitaria a abordagem de temas ligados à homossexualidade. As conseqüências para o jovem homossexual, ao não encontrar um ambiente amigável na escola seriam tristeza, depressão, baixa autoestima, evasão e violência, aponta o estudo.