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Escolas podem ensinar alunos a se comportar na internet

Escolas podem ensinar os alunos a se comportar na internet

13 abr 2010 - 11h14
(atualizado às 11h21)
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Quando Kevin Jenkins quis ensinar aos seus alunos de quarta série na Spangler Elementary School, em Milpitas, como usar a internet, criou um site no qual todos eles podiam postar fotos, desenhos e pesquisas. E os estudantes logo começaram a usar o recurso.

Kevin Jenkins ensina alunos do ensino fundamental os cuidados com o comportamento on-line
Kevin Jenkins ensina alunos do ensino fundamental os cuidados com o comportamento on-line
Foto: The New York Times

Mas, para desânimo do professor, algumas das pesquisas postadas eram do tipo "quem é o aluno mais popular" e "de que colega vocês gostam mais". Os alunos de Jenkins "apreciaram a oportunidade de se expressar por meio de um recurso que usam sozinhos, o computador", disse. "Não estavam considerando que muitas outras pessoas veriam o que disseram".

A primeira onda das preocupações dos pais quanto à internet se concentrava na segurança e na possibilidade de que predadores adultos ganhassem acesso às crianças. Mas ela cedeu lugar a preocupações sobre as atitudes online das crianças com relação a amigos e rivais, e à impressão que perfis online podem criar em futuros empregadores ou nos setores de admissão de alunos nas universidades.

Incidentes como o recente suicídio de uma aluna de segundo grau na South Hadley High School, em Massachusetts, depois que ela sofreu intimidação online e na escola, reforçaram a impressão de que muitas crianças continuam inconscientes da maneira pela qual a internet é capaz de transformar o comportamento adolescente típico - esnobismo de panelinhas, bazófias de conquista machistas, flertes sexuais, alegações de uso de bebida alcoólica e drogas - em algo não só público como permanente.

O caso de South Hadley está levando alguns Estados a reconsiderar suas leis de combate à intimidação; embora mais de 40 Estados tratem desse tema em sua legislação, tendem a considerar mais a punição que a prevenção. Jenkins começou este ano a utilizar lições da Common Sense Media, que aconselha os alunos a considerar seu comportamento online antes que encontrem problemas.

Financiada em larga medida por verbas vindas de fundações, a Common Sense oferecerá currículos gratuitos para as escolas, sobre como ensinar os alunos a se comportar bem na internet. Nova York e Omaha já optaram por oferecer os cursos. Denver, Washington, Flórida, Los Angeles, Maine e Virgínia estão entre os lugares que vão avaliar a possibilidade. "Você quer que uma pessoa se sinta compelida a agir?", diz Liz Perle, editora chefe da Common Sense Media. "Basta que um filho dessa pessoa poste alguma coisa que tem alguma semelhança com crime de incitação ao ódio".

E a internet é um dos caminhos pelo qual as crianças amadurecem. O jovem médio norte-americano dedica sete horas e meia ao dia ao computador, televisão e celular inteligente, de acordo com estudo publicado em janeiro pela Kaiser Family Foundation. Considerando que esse período é em geral passado fora da escola, o resultado sugere que quase todo o tempo não curricular dos jovens é dedicado à mídia online.

As aulas da Common Sense Media, baseadas em pesquisas de Howard Gardner, professor de psicologia e educação na Universidade Harvard, se agrupam em tópicos que ele define como "fissuras étnicas": identidade (a maneira pela qual a pessoa se apresenta online); privacidade (o mundo pode ler tudo que ela escreve); propriedade (plágio, reprodução de obras alheias); credibilidade (fontes legítimas de informação); e comunidade (a interação com os outros).

Raquel Kusunoki, professora de sexta série na escola Spangler, recentemente pediu a Jenkins, hoje especialista em tecnologia da educação no conselho escolar de Milpitas, que lecionasse o currículo da Common Sense Media aos seus alunos. Os alunos ouviram enquanto Jenkins relatava a história de uma menina que se zangou com os pais quando eles a interrogaram sobre os detalhes de uma história que ela havia narrado em seu diário online.

Lucas Navarrete, 13, quis saber: "Que direito eles tinham de ler as coisas pessoais dela?"

"Talvez eles estivessem preocupados", sugeriu Morgan Windham, uma menina de fala macia. "Mas é material público!", objetou Aren Santos. "Está bem, mas se fosse o seu diário pessoal e alguém lesse, você gostaria?", rebateu Lucas. "Eles não têm esse direito, está vendo?"

Jenkins perguntou aos alunos se existia diferença entre um diário privado em papel ou online. Não houve consenso na resposta. "Eu manteria o diário em segredo e só contaria sobre ele a pessoas muito chegadas", disse Cindy Nguyen, depois da aula. "Temos de ter um espaço pessoal, privado".

A difícil distinção entre espaço público e espaço privado é exatamente o tema da Common Sense Media. "O senso de invulnerabilidade que um jovem de segundo grau tende a sentir, acreditando-se capaz de controlar tudo - bem, isso podia ser verdade antes da internet", disse Ted Brodheim, vice-presidente de tecnologia da informação no departamento municipal de educação de Nova York. "Mas não acho que eles compreendam plenamente o fato ao tomar suas decisões, e não é algo de que possam recuar mais tarde".

A Common Sense Media baseia todos os seus exemplos em situações reais, e insiste na participação dos estudantes. "Se você se levantar e proferir uma palestra sobre propriedade intelectual, não fará sentido para a garotada", disse Constance Yowell, diretor de educação da John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, uma das organizações financiadoras.

Mas alguns especialistas em mídia afirmam que, ao se concentrar em questões sociais, a Common Sense Media desconsidera alguns dos problemas estruturais mais amplos que as crianças enfrentam online.

"Não podemos tornar essa conscientização quanto às questões da Web em algo centrado no aspecto pessoal ou nos relacionamentos", disse Joseph Turow, professor da Escola Annenberg de Communicação, parte da Universidade da Pensilvânia. "As crianças precisam ser informadas sobre o que é um cookie de internet, ou um vírus, e sobre como as empresas lucram ao rastrear o comportamento dos consumidores na rede, disse ele".

Em San Francisco, a Sacred Heart Schools opera colégios combinados para meninos e meninas, e no começo do ano conversou os pais de alunos a debater o programa da Common Sense Media com a irmã Anne Wachter, diretora da escola feminina.

"As confusões em que eles se envolvem com amigos, ou entrar em site alheio para mandar uma mensagem cruel", disse Wachter. "Eles às vezes não sabem como administrar as questões sociais e emocionais que surgem disso".

Os pais ouviram o professor Bill Jennings discorrer sobre algumas das coisas que estava tentando nas aulas. Diante de Wachter e dos pais dos alunos, ele ofereceu um exemplo de mensagem de rede social que os alunos poderiam encontrar sobre uma nova colega: "Amy é uma vagaba; a mãe dela é uma vadia".

Os pais demonstraram susto
"Se me pedissem para propor cinco hipóteses sobre o que minha filha Maya diria, eu não passaria nem perto disso - chamar a mãe de alguém dessas coisas", disse Sherila Chatterjee, mãe de uma aluna de sétima série."Mas esse tipo de linguagem é o que os alunos encontram", disse Jennings."É verdade", concordou Chatterjee.

Shirin Oshidari, que tem um filho na sétima série, disse que a lição parecia óbvia: "Para mim, a pessoa tem de se comportar online como faz cara a cara", afirmou. "Tudo que você escreve será lido pela universidade em que deseja estudar; e o emprego que você pretende conseguir no futuro também dependerá disso".

Jaime Dominguez, diretor da escola masculina, disse que "a parte complicada é que, como adultos, nós percebemos isso. Eles não".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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