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Escolas europeias apostam em salas de aula sem classes

26 out 2012 - 09h48
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A promessa de um ensino personalizado na rede de escolas Vittra, na Suécia, começa no mobiliário. Nada de classes dispostas lado a lado em frente a um quadro-negro. Ao contrário do formato convencional, pufes espalhados pelo espaço e sofás em formatos curiosos foram projetados com a participação das crianças.

Nas escolas da rede Vittra, na Suécia,  os alunos são ensinados em pequenos grupos espalhados nos diferentes espaços, e os mobiliários são feitos sob medida
Nas escolas da rede Vittra, na Suécia, os alunos são ensinados em pequenos grupos espalhados nos diferentes espaços, e os mobiliários são feitos sob medida
Foto: Kim Wendt / Divulgação

A arquiteta Rosan Bosch foi responsável pelos projetos das salas de aula das escolas Vittra, na Suécia, e Ordrup School, na Dinamarca, redes que apostam na valorização da individualidade do aluno. A arquiteta conta que a tarefa foi criar um design capaz de suportar o desenvolvimento dos estudantes ao mesmo tempo em que fosse funcional, para proporcionar um espaço estimulante de aprendizagem e trabalho. Para ela, o maior desafio no projeto foi criar um ambiente escolar atraente que despertasse a curiosidade dos alunos, para que relacionassem o aprendizado a algo positivo, aumentando a vontade de ir para a escola.

O projeto da Ordrup School é focado nos alunos de seis a 12 anos de idade e, com a criação de espaços diferentes, pretende valorizar a criatividade e as diferenças de cada aluno. Os estudantes podem trabalhar em grupos ou ficar em cabines de concentração coloridas para leitura, sem se distrair com o que acontece ao redor. Também são utilizados tubos de leitura estofados, sofás, ilhas sobre rodas que podem ser movimentadas e usadas para diversos trabalhos.

Segundo o chefe de pesquisa e desenvolvimento da Vittra, Ante Runnquist, a escola optou por criar ambientes diferentes, pois, além das salas de aula, os alunos devem estar em contato com outros espaços, facilitando o encontro de lugares e de atividades que se adaptem ao indivíduo. Para isso, a escola desenvolveu, com a arquiteta, a ideia de uma sala de aula diferente das tradicionais. Os alunos são ensinados em pequenos grupos espalhados nos diferentes espaços da escola, e os mobiliários são feitos sob medida.

Rosan explica que alguns móveis foram criados com as crianças, para garantir que pudessem trabalhar da melhor maneira, sentados de forma adequada, tornando mais fácil implementar os métodos de ensino digitais, como é o caso da Vittra, que mantém um projeto de um computador por aluno. A rede sueca tem mais de 30 escolas no país e não cobra mensalidade dos alunos - o único pré-requisito é que o responsável esteja cadastrado no órgão público responsável e em dia com seus impostos.

Diferença

Bem distante da realidade das escolas públicas brasileiras, a inovação mobiliária das redes sueca e dinamarquesa não estão isoladas das suas metodologias. A Vittra, por exemplo, investe numa aprendizagem baseada na experiência do aluno e os estimula a conviver com as diferenças. Um de seus projetos recentes colocou seus estudantes em contato, por cartas, com crianças de Gana, na África. Outra de suas escolas levou os pequenos à cidade de Lund, para encontrarem pessoalmente Dalai Lama.

No Brasil, as escolas tradicionais predominam, mas, segundo a professora do departamento de métodos e técnicas da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Patrícia Pederiva, há experiências inovadoras, com o objetivo de fazer do espaço educativo um lugar para a criação. "A base desse ensino tradicional é a igualdade, o modelo único, a busca pelo padrão. Ora, se somos diversos, a base não pode ser a igualdade e sim a diferença. Por meio dessa diferença que crescemos na vida, em qualquer espaço. Igualdade engessa, diferença liberta", diz Patrícia.

A professora defende que é preciso ter espaço para explorar todos os sentidos no lugar mais amplo e rico possível, principalmente na infância. "É preciso ter espaço para correr, brincar, pular, explorar, cheirar, ouvir", elenca. O lugar ideal para o ensino, de acordo com Patrícia, é aquele em que se pode vivenciar todos os sentidos plenamente, espaço para o corpo, para ler, para descansar, para criar, quanto mais engessado for o ambiente, quanto mais controlado, menos espaço haverá para a criação. "Salas convencionais são espaços engessados. É preciso pensar em novas vivências. Mas, para isso, é preciso também pensar educação de uma forma mais livre, mais criativa", afirma.

Mas não basta investir em móveis novos. Para o professor Celso dos Santos Vasconcellos, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável pelo Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica, o mobiliário faz parte de uma estrutura que favorece ou dificulta o aprendizado. Espaços que privilegiem o trabalho em grupo, como grandes mesas, seriam eficientes, diz, mas a questão principal é o professor. "O professor tem que garantir um trabalho coletivo", afirma. O educador precisa estar atento aos estudantes, acompanhando e supervisionando suas pesquisas, além de ter a capacidade de atender as crianças individualmente ou em grupos.

O ensino deveria ser baseado em projetos, por meio de estudo e pesquisa, em que os alunos são ativos no processo e aprendem em situações baseadas em problemas, são debates buscando soluções, de acordo com Vasconcellos. "Ter a sala como um local de estudo e não de aula", afirma.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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