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"Foi chocante", diz ex-presidente do Inep sobre furto do Enem

1 out 2010 - 10h59
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O roubo da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009 surpreendeu não apenas os 4 milhões estudantes que se preparavam para fazer a avaliação no fim de semana seguinte, mas o próprio Ministério da Educação (MEC). Na noite em que o ministro Fernando Haddad foi alertado pelo jornal O Estado de S.Paulo sobre o vazamento, a equipe do ministério passou a madrugada planejando os próximos passos.

Uma dessas pessoas era Reynaldo Fernandes, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do MEC responsável pelo Enem. Ele deixou o cargo cerca de um mês depois da aplicação da prova.

Fernandes lembra que estava em São Paulo para uma palestra quando recebeu a notícia do vazamento do exame. Funcionários do consórcio contratado para a aplicação do Enem tinham tentado vender um caderno de provas ao jornal O Estado de S.Paulo, depois de tê-lo roubado de dentro da gráfica que imprimia o material. "Foi chocante, a gente não esperava nunca", contou à Agência Brasil.

Fernandes, que dirigiu o órgão por cinco anos, ressalta que nenhuma prova é totalmente segura. Até 2009, a logística de aplicação do Enem era de responsabilidade da empresa que tivesse vencido a licitação. Após o problema do ano passado, o MEC mudou a forma de contratação de serviços para o Enem.

Uma das principais mudanças foi a dispensa de licitação para algumas etapas do processo. O MEC alegava que a obrigatoriedade impedia a escolha de empresas que pudessem garantir a segurança necessária ao exame, já que desde 2009 ele substitui o vestibular de várias universidades públicas do país.

Reynaldo Fernandes acredita que com o novo modelo é mais fácil ter o controle de todas as etapas, desde a impressão das provas até a divulgação dos resultados. Ele defende que há motivos importantes para que a licitação seja a forma de contratação adequada ao setor público, mas acredita que a dispensa pode ser mais interessante em alguns casos. "Se você fosse contratar alguém para cuidar da sua segurança pessoal, você iria licitar?", compara.

Ele lembra que após o roubo, foi necessário um grande esforço do Inep e do MEC para reorganizar toda a logística do exame em apenas dois meses. "Tínhamos metade do tempo e uma pressão não sei quantas vezes maior, sob um ambiente muito mais complexo", afirma. Em 2009, o Inep contratou em caráter emergencial o consórcio Cespe/Cesgranrio, que ficou responsável pela aplicação e correção do Enem. As provas foram distribuídas pelos Correios e a logística de segurança foi feita pela Polícia Federal, com o apoio da Polícia Militar de cada estado.

Em 2010, são essas mesmas empresas e entidades que farão o Enem. Até mesmo a gráfica de segurança máxima que imprimiu as provas em 2009, após o roubo, fará o mesmo trabalho neste ano. A RR Donelley venceu a licitação de 2010 após uma disputa judicial que desclassificou a Gráfica Plural, primeira colocada no pregão eletrônico.

Apesar das mudanças que permitem mais controle do processo, Fernandes ressalta que o Enem - e nenhum outro concurso - não está livre de problemas, seja com locais de prova ou mesmo no momento da aplicação. "É normal, ainda mais com esse número de inscritos 4,5 milhões de estudantes", avalia.

Depois de sair do Inep, Reynaldo Fernandes voltou a lecionar na Universidade de São Paulo (USP). Em maio, assumiu uma cadeira no Conselho Nacional de Educação (CNE).

Agência Brasil Agência Brasil
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