PUBLICIDADE

Presidente do Inep: Enem sofreu com crimes, e não com falha de gestão

Luiz Cláudio Costa fala sobre o aprimoramento do exame, que se tornou a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil

22 out 2013 - 08h54
(atualizado às 08h58)
Compartilhar
Exibir comentários
Luiz Cláudio Costa assumiu a presidência do Inep no começo de 2012
Luiz Cláudio Costa assumiu a presidência do Inep no começo de 2012
Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil

A poucos dias da maior edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado neste fim de semana para 7,1 milhões de candidatos, o presidente do órgão responsável pelas provas está confiante na condução de um exame sem falhas. Para Luiz Cláudio Costa, que comanda o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) desde o começo de 2012, o que ocorreu no passado - como o furto da prova e o vazamento de questões em uma escola do Ceará - foi "crime" e não tem nenhuma relação com negligência ou falha na gestão.

"O Enem é um processo, como todo o processo tem que ter humildade, melhora de ano a ano. Você pega o SAT americano (sistema de seleção que serviu de inspiração para o Enem), aplicado há 100 anos, teve problema seríssimo de segurança no ano passado. Você está sempre sujeito a isso. O que eu posso dizer, da primeira edição até esta, é que não houve em nenhum momento negligência, falha de gestão", disse Costa em entrevista ao Terra por telefone.

Otimista com a adesão das universidades federais ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa a nota do Enem para selecionar os estudantes, o quarto presidente do Inep desde 2009 afirmou que o governo não desistiu da aplicação de duas provas por ano, o que chegou a ser anunciado pela presidente Dilma Rousseff ano passado, mas garantiu que antes disso é preciso ampliar o número de vagas e melhorar a relação entre o exame nacional e o ensino médio.

Para Costa, o Enem pode contribuir com a qualificação do ensino, a partir da adoção de uma base curricular unificada para todo o País, respeitando as especificidades regionais. Essa mudança no currículo, segundo Costa, será anunciada ainda este ano. Quanto às alterações no Enem, com mais edições ao ano, ele ainda evita comentar prazos, assim como se nega a falar no número de itens que compõem o banco de questões que podem ser usadas no exame. Tudo pela "confidencialidade" e segurança da prova. Confira a seguir a íntegra da entrevista:

Terra - Estamos a poucos dias da maior edição da história do Enem, com mais de 7 milhões de candidatos inscritos. O senhor está tranquilo, garante que todas as providências foram tomadas para evitar novas falhas na aplicação do exame?

Luiz Cláudio Costa - No ano passado nós não tivemos nenhum problema logístico, mas claro que tudo é um aprendizado, é um processo, a cada ano vai aprimorando. Para você ter uma ideia, sábado fizemos uma reunião com todos os parceiros e estávamos relembrando que a primeira reunião do Enem 2013 foi no dia 13 de janeiro. Nós já começamos o ano preparando esta edição. Então é isso: muita dedicação, muita atenção, comprometimento de toda a equipe com cada detalhe. Agora nesta última semana estamos monitorando, principalmente, as questões climáticas, que levam a uma mudança nas escolas, se tem um destelhamento. Agora temos muita tranquilidade em relação a todo o trabalho e dedicação nesse processo porque sabemos da importância disso para todas as pessoas, para os familiares.

Terra - A presidente Dilma Rousseff chegou a anunciar a realização de duas edições do Enem por ano, a partir de 2013. O MEC desistiu disso?

Costa - O Enem é um processo, e como um processo você tem que fazer as etapas de forma planejada. O passo fundamental nós estamos fazendo agora, ampliando cada vez mais o número de vagas através do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e o número de instituições participantes. Essa é a tranquilidade do participante: ele faz uma prova, como a do ano passado, escolhe entre 101 instituições, 3,7 mil cursos e 130 mil vagas. Esse ano as oportunidades dele vão aumentar ainda mais. Acho que esse e o primeiro diálogo que temos que fazer. Outra coisa que é preciso refletir antes de se fazer duas edições ao ano é imaginar fazer uma seleção no início de abril ou maio. Os estudantes do terceiro ano do ensino médio, principalmente das escolas públicas, seriam prejudicados, porque eles não viram todo o programa do ensino médio.

Terra - Mas aí eles fariam em outubro, e caso não conseguissem teriam outra oportunidade em abril...

Costa - Mas aí eles estariam fazendo para treinar, enquanto outros poderiam fazer. Percebe? Essa discussão que deve ser feita, nos objetivos do exame, no diálogo que ele está fazendo com o ensino médio.

Terra - Então não está descartado? Tem um prazo?

Costa - Não, é um processo, estamos dialogando com outras experiências também. Mas eu prefiro não falar em prazo agora. Estamos observando muito essa participação das universidades, a questão das vagas, o diálogo com o ensino médio.

Terra - O banco de questões é um empecilho para a realização das duas edições?

Costa - Nos últimos dois anos, 2012 e esse agora, graças à participação efetiva das universidades, nós conseguimos itens de muita qualidade. Temos, evidentemente, muito ainda por fazer. O SAT trabalha muito até hoje para ampliar o banco de itens. Acho que nós avançamos muito, mas esse não é o empecilho. Para ter outra edição é isso que eu falei: primeiro ter um sistema com a participação cada vez maior das instituições, e segundo verificar essa questão do ensino médio, que para mim é muito importante. Dar uma prova para os alunos do terceiro ano do ensino médio que eles vão mal não é o ideal.

Terra - Quantas questões tem o banco hoje?

Costa - Isso nós não falamos, é confidencial.

Terra - Mas isso é de interesse. O vazamento das questões no colégio de Fortaleza (em 2011) envolveu o banco de questões...

Costa - Não, isso ali envolveu um crime. A Justiça já definiu e a pessoa foi punida. Não podemos fazer ligação de uma coisa com outra. Ali, lamentavelmente, pelo que a polícia apurou foi um crime. Um crime você tem que apurar e tem consequências.

Terra - Se tivesse um banco de questões maior isso não poderia ser evitado? Essas questões que vazaram do pré-teste foram aplicadas logo após, na edição do Enem de 2011...

Costa - É a filosofia do pré-teste. É preciso entender que o Enem, por exemplo, tem questões que são atuais. Em termos de atualidades, como vou usar questões muito tempo depois?

Terra - Mas as questões que vazaram não eram de atualidades, eram de exatas...

Costa - Eu estou te dando um exemplo. Depende da filosofia do pré-teste, eu não sei o que norteou a filosofia daquele pré-teste, mas eu queria dizer que independente do seu banco de itens não dá para culpar isso por um crime. A discussão de fundo é essa: lamentavelmente houve um crime.

Terra - E as outras falhas que ocorreram (furto da prova na gráfica, erro na impressão), o senhor também atribui a crime, à má-fé, ou houve problema de gestão também?

Costa - Não, eu não acho. O Enem é um processo, como todo o processo tem que ter humildade, melhora de ano a ano. Você pega o SAT americano, aplicado há 100 anos, teve problema seríssimo de segurança ano passado. Você está sempre sujeito a isso. O que eu posso dizer, da primeira edição até esta, é que não houve em nenhum momento negligência, falha de gestão. O processo se aprimora, é claro, a expectativa é que com o tempo você vá ganhando experiência que a inteligência dos anos anteriores vai passando. O que nós tivemos na primeira edição (em 2009), foi o furto da prova na gráfica. Claro que isso nos auxilia a buscar uma gráfica com segurança máxima, mas é preciso separar o que é crime daquilo que poderia ser falha de gestão, o que eu não considero que tenha ocorrido. Agora como gestão o processo está se aprimorando e precisa aprimorar sempre.

Terra - O senhor falou que a prioridade agora é ampliar a adesão das universidades ao Enem. Algumas grandes universidades, como a UFRGS, ainda têm resistência à seleção unificada (Sisu). Como mudar com essa cultura forte do vestibular?

Costa - É que são bons vestibulares. Você pega o caso da UFRGS, uma instituição que faz um excelente vestibular, tem selecionado bem, tem tradição. Precisa desse amadurecimento, da discussão interna e a gente respeita muito isso. O Brasil faz bem o vestibular desde 1911, o que a gente discute é o modelo Enem e o modelo vestibular.

Terra - O modelo do Enem é melhor?

Costa - Não tenho a menor dúvida. Primeiro porque ele é mais inclusivo. A lógica do vestibular é excludente. Você faz a inscrição prévia em uma instituição e em um curso, ou seja, você vai concorrer a 40, 50 vagas naquele curso, naquela instituição. Se você tiver condições financeiras pode fazer em duas, três. Se não é uma só e mesmo assim com dificuldades. O Enem é diferente, você faz uma prova, depois da prova pode escolher entre 101 instituições, 3,7 mil cursos, 130 mil vagas. Os modelos são diferentes, não é dizer que um é melhor que o outro. O que o Enem faz é que ele dialoga com o ensino médio e isso é bom para o Brasil.

Terra - O senhor defende a padronização do currículo do ensino médio pelo Enem?

Costa - Eu não acho que precisa ter um currículo único nacional, mas um mínimo nacional que queremos que as pessoas saibam. Eu acho isso extremamente importante: cidadania deve ser a mesma em qualquer lugar do País. Para o terceiro ano do ensino médio devemos ter um mínimo e neste aspecto o Enem é importante. Queremos um País que tenha unificação, uma visão geral de País, claro que respeitando as culturas regionais.

Terra - E como está avançando essa mudança no ensino médio?

Costa - Estamos conversando com os secretários da educação. Está avançando bastante.

Terra - As mudanças serão anunciadas ainda este ano?

Costa - Sim, o ministro (Aloizio Mercadante, da Educação) vai anunciar.

<a data-cke-saved-href="http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/enem/iframe.htm" href="http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/enem/iframe.htm">veja o infográfico</a>
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade