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Pré-testes do Enem não poderiam ser feitos um ano antes

1 nov 2011 - 19h24
(atualizado às 19h37)
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Após o vazamento de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em uma escola de Fortaleza (CE), uma das idealizadoras da prova, criada em 1998 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a realização de pré-testes não pode ser feita com apenas um ano de antecedência. "Os testes das questões do Enem devem ser providenciados com uma antecedência grande e ainda é preciso estar muito atento à segurança do processo", disse Maria Inês Fini em entrevista ao Terra.

Coordenadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na gestão de Fernando Henrique, Fini afirma que, para evitar o vazamento, o prazo entre a elaboração do teste e a aplicação das questões na prova deve ser de "vários anos". "Se você faz o pré-teste em 2007 e aplica a prova em 2011, não serão os mesmos candidatos, o risco de vazar é bem menor", diz a professora aposentada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Na quinta-feira o Ministério da Educação (MEC) confirmou que 14 questões que estavam em apostila distribuída a alunos do Colégio Christus, de Fortaleza, foram copiadas de dois dos 32 cadernos de pré-teste do Enem aplicado no ano passado na escola. Essas mesmas questões foram cobradas na prova do Enem deste ano.

Apesar do vazamento, Maria Inês Fini diz que a realização de pré-testes das questões é "importantíssimo" para a qualidade do exame. "Com o teste é possível definir se o item é fácil, médio ou difícil", explica ao citar a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que baseia-se em modelos matemáticos que permitem a elaboração de provas diferentes com o mesmo grau de dificuldade. Ao considerar o Enem como um "filho amado", Fini não quis comentar os procedimentos adotados pelo MEC ao propor a anulação da prova apenas para os alunos da escola que vazou as questões.

Escolas que fazem os pré-testes são selecionadas em sorteio

Em comunicado em seu site, o MEC informou que cada nova questão criada para as avaliações do Inep passa por um pré-teste com estudantes de escolas públicas e particulares, escolhidas por sorteio. A aplicação das provas é feita por uma empresa contratada pelo Inep, que disponibiliza três fiscais por sala para acompanhar o processo, recolher o material e devolver as provas ao instituto.

Segundo o MEC, o pré-teste avalia cada item sob três aspectos: grau de dificuldade, nível de discriminação (o quanto o item consegue diferenciar as pessoas que sabem ou não) e probabilidade de acerto ao acaso, além da proporção de pessoas que escolhem cada alternativa de resposta oferecida na prova. Uma prova para pré-teste deve reunir itens de difícil, média e fácil resolução. O número de questões pode variar a cada teste.

Após a aplicação, o Inep fica responsável por calcular todos os índices e decidir quais itens devem ser reavaliados. Os pré-testados e aprovados passam a integrar o banco de itens, mas isso não significa que serão usados. Em 2010, o Inep fez pré-testes em escolas públicas e particulares das capitais de dez unidades federativas.

Banco de questões

Apesar de alguns especialistas em avaliação considerarem pequeno o número de questões do Banco Nacional de Itens para o Enem, a presidente do Inep, Malvina Tuttman, afirma que os 20 mil itens para todos os exames e 6 mil exclusivamente para o Enem são suficientes e seguros para a aplicação das duas provas previstas para 2012.

Segundo o MEC, desde 2010 foi instituída a elaboração periódica de questões, que ocorre, em média, três a quatro vezes ao ano.

Sigilo

De acordo com o MEC, o pré-teste de itens segue sigilo rigoroso em todas a fases - Inep, gráfica, Correios, empresa aplicadora, aplicadores, instituição na qual o teste é aplicado, devolução e correção das provas. A gráfica que imprime o material o entrega aos Correios, que o leva a um polo indicado pelo consórcio em cada cidade.

Cabe à empresa aplicadora levar esse material à escola. Lá, um coordenador é responsável por conferir o número de provas. Em cada sala, um dos três aplicadores tem como atribuição impedir a entrada ou a saída de qualquer material. Ao fim da aplicação, as provas são recolhidas, contadas, lacradas em envelope e devolvidas ao polo. Caso haja registro de falta de uma das provas, é aberto processo de investigação. De acordo com o resultado desse processo, as questões são excluídas de forma permanente do banco de itens do Inep.

Momentos de desconcentração foram registrados após o término do Enem em São Paulo
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Foto: Aloisio Mauricio / Terra
Fonte: Terra
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