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Resultado do Enem mostra grande disparidade no ensino no País

19 jul 2010 - 14h28
(atualizado às 14h34)
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O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009 divulgado nesta segunda-feira, 19 de julho, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, revela uma grande disparidade no ensino no Brasil. Mais de 500 pontos separam as escolas com a melhor e a pior colocação.

Com 749,7 pontos, o primeiro lugar fica com o Colégio Vértice Unidade 2, uma escola particular localizada na zona sul da capital paulista. Na outra ponta está a Escola Estadual Indígena Dom Pedro I, que fica no município de Santo Antônio do Içá (AM), e obteve 249,25 pontos.

Segundo o representante da primeira colocada, a formação de um hábito de estudo entre os alunos e professores trabalhando em regime de dedicação exclusiva são os segredos para a boa colocação. "Nossos alunos são formados para não querer dominar conteúdo só em véspera de prova bimestral, mas para que o bimestre todo seja de aquisição de conteúdos e conceitos para aplicação em problemas do dia a dia", diz o diretor do Colégio Vértice, Adilson Garcia.

Ele explica que, antes de conhecer a matéria em sala de aula, os alunos recebem instruções para estudar em casa, que pode ser um capítulo de livro ou pesquisa na internet. Além disso, a cada semana, os professores fazem uma checagem do aprendizado, para ver se os alunos estão conseguindo absorver todo o conteúdo. "Quando o aluno chega às provas bimestrais, não tem essa de ficar varando a noite estudando, porque ele já checou durante o bimestre todo."

Desigualdade
Essas e outras técnicas de ensino fizeram com que 12 das 20 melhores escolas de ensino médio do país estivessem na Região Sudeste. Apenas quatro estão na Região Centro-Oeste e quatro na Nordeste. Outro dado alarmante é que apenas duas dessas escolas são públicas - ambas ligas a universidades. Já as 20 últimas da lista são todas estaduais e municipais.

O desempenho das escolas foi calculado com base na média total obtida por seus alunos nas provas objetivas e na redação. A média nacional, segundo o Inep, foi de 500 pontos. Até a 6ª colocação da lista, todas as escolas são particulares. Apenas o 7º lugar do ranking é ocupado por uma instituição pública: o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que obteve média total de 734,66 pontos. A outra escola pública é o Colégio de Aplicação Fernando R. da Silveira, que teve média total de 722,58 e aparece na 17° posição.

Má avaliação
Segundo a representante do Conselho de Governança do movimento Todos pela Educação, Wanda Engel, o Enem não deveria ser utilizado para avaliar as escolas brasileiras. Segundo ela, por ser voluntária, a prova é capaz de avaliar apenas o desempenho do próprio aluno ¿ e não da situação educacional em geral no Brasil.

"Quando a gente diz que a escola tal teve melhor resultado, temos que ver qual o percentual de alunos que fez o exame. Podem ter pego os melhores estudantes. O Enem não é resultado para listar escola, mas para dar oportunidade no acesso à universidade. Só faz o Enem o aluno que tem alguma intenção de ir pra universidade, uma minoria", disse.

Para Wanda, somente um exame universal e obrigatório ao final do ensino básico será capaz de listar as melhores e as piores escolas do país. "Não se sabe nem quantas escolas fizeram esse Enem", disse, ao se referir à lista de mais de 36 mil instituições divulgadas pelo Inep. Várias delas chegam a aparecer até três vezes no ranking - com uma média relativa ao ensino regular, uma relativa ao Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e uma geral. Há ainda colégios citados como avaliados, mas que não têm nota mencionada.

Outro fator importante a ser considerado em relação ao uso do resultado Enem como referência de qualidade da instituição de ensino, de acordo com a especialista, é que algumas escolas avaliadas inscrevem cerca de 90% de seus alunos enquanto outras ficam em torno de 10% de inscritos. "É uma má utilização usá-lo o resultado do Enem para avaliar escolas", reforçou.

Entretanto, Wanda destacou um ponto positivo com a realização do Enem. Segundo ela, desde o momento em que ferramentas de controle de desempenho da educação foram adotadas pelo governo, estados e municípios passaram a cobrar mais de suas próprias redes de ensino.

"A gente não pode deixar de reconhecer que as escolas públicas têm feito um esforço crescente na melhoria de qualidade", disse. "Pode ser uma injustiça com as escolas públicas colocá-las como últimas. Elas ainda não chegaram lá, mas estão caminhando nesse sentido", completou.

Atualmente, a rede de ensino do país é constituída da seguinte forma: 85% dos colégios são estaduais, 3% municipais, 1% federais e 11% particulares.

Fonte: EcoDesenvolvimento
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