Jovem que deu à luz durante o Enem 2012 conquistou bolsa do Prouni
Pâmela Oliveira Lescano faz faculdade de administração e cuida do pequeno Everton, que nasceu durante a prova do Enem no ano passado
O dia 4 de novembro marca um ano de vida de Everton, bebê que virou símbolo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado. O menino saudável e sorridente não traz nenhum traço do susto que deu ao chegar ao mundo: a mãe, Pâmela Oliveira Lescano, deu à luz enquanto realizava a prova.
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A estudante, que na época estava completando o ensino médio, teve uma segunda chance, anunciada ainda na época pelo Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e refez a segunda prova no dia 5 de dezembro do ano passado. “Eu estudei bastante, estava tranquila. O que dificultou mesmo foi a matemática”, lembra.
Sua pontuação no exame foi suficiente para conseguir uma bolsa integral na Faculdade Anhanguera pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Desde fevereiro, ela estuda administração no Polo de Apoio Presencial de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, e tem aulas duas noites por semana, semipresenciais, com tutor em sala e um professor a distância.
Pâmela, que morava no assentamento Eldorado, na zona rural de Sidrolândia, com a mãe e o padrasto, mudou-se para a cidade com o noivo, Leandro, que, ao seu lado, cria o menino que virou o xodó de toda a família.
A importância da bolsa
O valor do curso de administração da Anhanguera no polo onde Pâmela estuda é de R$ 377,99. Custo que ela não poderia cobrir com o benefício do Bolsa Família, de R$ 135, e o salário de servente de pedreiro de Leandro, que recebe R$ 40 por dia de trabalho.
Sem vagas em creches por perto, ela fica em casa com o bebê e não pode trabalhar. Pâmela ainda está amamentando e tenta equilibrar a vida doméstica e a de estudante. “Sempre gostei de estudar. Para o Enem, assistia a telejornais e pesquisava em lan houses”, conta. Ela planeja formar-se em administração e trabalhar na área para juntar dinheiro e realizar o sonho de estudar medicina veterinária. Pâmela viveu a maior parte da vida na zona rural e criou grande afeição por animais de fazenda, principalmente cavalos.
O conturbado nascimento
Antes do segundo dia de provas, Pâmela, que afirma ter desconhecido a gravidez durante toda a gestação, sentiu fortes dores e pediu autorização para ir ao banheiro. Lá mesmo, sozinha, teve seu primeiro e único filho, aos 17 anos. Uma técnica em enfermagem presente na escola realizou os primeiros socorros e acompanhou a jovem até o momento em que foi levada ao hospital.
A estudante relata que foi ao médico três dias antes do nascimento de Everton, por dores no abdome. Apesar de ser questionada por conhecidos e familiares, Pâmela diz que não suspeitava da gravidez. “Fui fazer uma palestra na escola onde ela estudava e perguntei, mas ela sempre negou”, conta Vanda Célia, enfermeira do posto de saúde do assentamento Eldorado.
A jovem afirma que o filho mudou sua vida para melhor. “Estou mais tranquila agora”. Ela lembra que viveu períodos “rebeldes” em que bebia e fumava, inclusive durante a gestação que desconhecia. “Agradeço muito por meu filho ter nascido saudável”. Pâmela ganhou um computador de sua prima para estudar - mas antes de ligar o aparelho, é preciso "desligar" o pequeno Everton, que ensaia seus primeiros passos. Para isso, a jovem mãe aproveita as horas de sono do filho.
Gestantes no Enem
O Ministério da Educação (MEC) divulgou que, neste ano, 712 candidatas inscritas no Enem poderão dar à luz entre os dias 20 e 31 de outubro. O exame acontece neste sábado e domingo.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as secretarias de saúde dos 351 municípios que receberão as gestantes foram contatadas para dar suporte de profissionais nos locais de prova e para fazer o mapeamento de hospitais próximos.
Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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