Enem: analistas cobram 'intervenção' federal para salvar ensino médio
Enem: analistas cobram 'intervenção' federal para salvar ensino médio
23 nov2012 - 09h56
(atualizado às 09h58)
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Angela Chagas
O desempenho das escolas brasileiras na edição de 2011 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apontou, mais uma vez, o abismo que separa o ensino privado das escolas públicas no Brasil. Enquanto a média dos colégios particulares ficou em 596,2 pontos - em uma escala até 1 mil - a rede pública alcançou 474,2 pontos. Das 100 melhores, 10 são públicas, sendo que apenas duas são ligadas à rede estadual, que representa a maioria das matrículas no ensino médio.
Para mudar essa realidade, que já é verificada em outras avaliações - como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) -, especialistas em educação consultados pelo Terra apontam para a necessidade de uma intervenção federal no ensino médio. De acordo com o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, 92% das matrículas da rede pública hoje são de responsabilidade dos Estados, que a cada ano apresentam mais dificuldades em ampliar os investimentos na área.
"Muitos (Estados) não conseguem nem ao menos cumprir com o mínimo de salário aos professores (Lei do Piso), imagina investir em estrutura, em capacitação?", diz o especialista. Segundo ele, cabe ao governo federal a decisão política de ampliar os investimentos em educação e dar suporte aos Estados para melhorar o ensino.
O professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) defende a necessidade de o Ministério da Educação (MEC) ampliar seu enfoque, muito mais voltado ao ensino universitário, para a educação básica. "O governo (federal) precisa liderar o processo de mudança no ensino médio, assumindo um papel que não tem feito nos últimos anos". Ele ainda vai além ao sugerir que os institutos federais passem a dar suporte às escolas da rede estadual.
Segundo ele, hoje o País tem cerca de 500 escolas federais, quando o ideal seria que fossem mais de 2 mil. "Os colégios federais têm desempenho muito próximo ao da rede privada. Nós já temos a fórmula, só precisamos ampliar", defende. Segundo ele, como os investimentos para aumentar a rede são elevados, seria fundamental que essas escolas já instaladas estabelecessem uma espécie de "tutoria" à rede estadual, oferecendo apoio pedagógico e capacitação.
A diferença das escolas federais está no salário e na formação dos professores - boa parte com mestrado e doutorado - e também no perfil dos estudantes. A maioria das escolas contam com uma sistema rigoroso de seleção, para garantir o ingresso dos melhores alunos. Além disso, a estrutura é melhor.
Para Castioni, não é necessário federalizar todas as escolas de ensino médio, mas sim apoiar essas instituições, assumindo um papel que os Estados hoje não conseguem cumprir. "Temos um grande desafio colocado, principalmente pelo fato de que em um espaço curto de tempo, 50% dos alunos das universidades serão provenientes rede pública (por causa da Lei de Cotas). Se não encararmos a melhoria da qualidade do ensino, vamos receber alunos com muitas deficiências", analisa.
Ensino noturno
Os especialistas também concordam com a necessidade de se acabar com o ensino noturno na educação básica. "Nesses dados do Enem, por exemplo, estamos comparando alunos da elite do ensino privado brasileiro com aqueles que trabalham o dia inteiro e à noite vão para a escola. É muita diferença", alerta o professor da USP. Para Alavarse, é preciso construir uma política federal que garanta o suporte aos estudantes para que não precisem trabalhar até a conclusão do ensino médio.
Enem 2011
O desempenho das escolas na edição de 2011 do Enem foi divulgado na quinta-feira e pode ser consultado no site do MEC. Segundo o levantamento, das pouco mais de 10 mil escolas analisadas, 47,62% eram privadas. A maior dos estudantes que prestaram o exame (83,86%) tem renda familiar per capita entre um e cinco salários mínimos (de R$ 622,00 a R$ 3,1 mil).
De acordo com o MEC, a média das escolas privadas ficou em 596,2 pontos. Já as escolas da rede pública alcançaram 474,2 pontos. Entre as 100 primeiras colocadas no levantamento, apenas dez são públicas.
Estudantes choram por terem perdido a hora de entrada do Enem em frente a FMU, na Avenida Santo Amaro em São Paulo (SP)
Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press
Estefânio Micael, 18 anos, trabalhou em festa 'Baile do Shortinho', foi dormir às 7h da manhã e chegou atrasado para o segundo dia de provas no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Tamires Barretos, 17 anos, chora após esquecer documento de identidade e não conseguir entrar para fazer provas no Mackenzie, em São Paulo
Foto: J. Duran Machfee / Futura Press
Em Minas, uma candidata gestante que não quis se identificar chegou atrasada e perdeu a prova
Foto: Ney Rubens / Terra
A estudante Gabriela Nascimento admitiu que não teve muita paciência para ler e acabou chutando várias questões: 'dei uma de Chico Xavier', brinca
Foto: Ney Rubens / Terra
Para a estudante Karine Esteves Nogueira, que cursa engenharia de produção de uma faculdade privada de Minas Gerais, o assunto da redação exigido como foco pelo Ministério da Educação não é atual
Foto: Ney Rubens / Terra
A candidata Jéssica Nocce também reclamou do tema da redação, dizendo que encontrou muitas dificuldades
Foto: Ney Rubens / Terra
Felipe Silveira terminou a prova depois de duas horas e afirmou não se preocupar muito, pois está fazendo o Enem apenas para treinar
Foto: Ney Rubens / Terra
Candidata que se atrasou tentou pular a grade dos portões já fechados para o exame
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Cláudia Pacheco, 35 anos, confessou que deixou de lado a redação e entregou incompleta a segunda prova do exame por que estava com muito sono
Foto: Cirilo Júnior / Terra
Sidalva Santos, mãe da candidata Adriele Santos, levou a filha à igreja e por isso a estudante se atrasou para o segundo dia de provas do Enem em Salvador (BA)
Foto: Carla Costa / Terra
O estudante Alexandre Silva esqueceu a identidade e conseguiu fazer com que seu irmão a levasse no último minuto antes de a prova começar
Foto: Carla Costa / Terra
O irmão da jovem chegou com o RG dela menos de um minuto depois que o segurança passou o cadeado. Muito abalada, ela não conseguia falar
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
Imagem publicada na rede social Instagram mostra o cartão de respostas do Enem
Foto: Reprodução
No domingo, mais candidatos foram flagrados divulgando imagens da sala de prova em redes sociais
Foto: Reprodução
A vendedora Ana dos Santos oferece a 'água da sorte' aos candidatos de Maceió (AL), que acalma os estudantes
Foto: Odilon Rios / Terra
Vendedor ambulante oferece 'caneta abençoada' aos candidatos
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Estudantes no Rio estavam animados antes das provas deste domingo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Gustavo Tavares, 19 anos, faria o Enem pela terceira vez, mas foi barrado porque estava apenas com carteira de habilitação, vencida desde agosto: 'perdi a identidade semana passada, por isso trouxe a carteira de motorista, não pensei que fossem barrar', disse
Foto: Ney Rubens / Terra
Um erro ao tomar o ônibus custou o Enem dos estudantes Joice Cristina, 17 e Márcio Renato, 21, que chegaram ao Colégio Estadual do Paraná dois minutos depois do fechamento dos portões
Foto: Roger Pereira / Terra
Candidatas correm para chegar antes do fechamento dos portões na PUC de Curitiba (PR)
Foto: Joyce Carvalho / Especial para Terra
Esta candidata teve até torcida dos vendedores ambulantes para conseguir chegar antes dos portões da PUC Minas fecharem. Ela foi uma das últimas a entrar
Foto: Ney Rubens / Terra
A confeiteira Imaculada Cecília Malaquias de Araújo, 48 anos, quer trocar as longas jornadas de preparação de doces e salgados para festa pela profissão de assistente social
Foto: Ney Rubens / Terra
O estudante Guilherme Moura deixou cair a carteira de identidade no táxi que o trouxe do bairro Padre Eustáquio até a Puc Minas e perdeu o segundo dia de provas. Disse que usaria a nota para tentar entrar no curso de Engenharia Agrícola da UFMG
Foto: Ney Rubens / Terra
Grávida de 9 meses, a candidata Elizandra fez o teste na companhia da irmã gêmea, Elissandra
Foto: Angela Chagas / Terra
Elisângela Rufino Gonçalves, 23 anos, está grávida de 6 meses e também considerou o exame cansativo
Foto: Angela Chagas / Terra
No início da tarde deste domingo fazia 33°C na capital catarinense.
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Especial para Terra
Estudantes que prestam o Exame Nacional do Ensino Médio reclamaram do forte calor registrado em Florianópolis.
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Especial para Terra
Primeiro a sair da PUC Minas, o estudante Aron Castro, que pretende cursar educação física, também se confundiu com o tema da redação
Foto: Ney Rubens / Terra
Primeira a sair da sala em Porto Alegre (RS), a estudante Elisandra Lencini, 20 anos, disse que foi preciso 'inventar' para preencher as 30 linhas de texto
Foto: Angela Chagas / Terra
A candidata Geanine Berghauser afirmou que achou a prova de sábado mais tranquila
Foto: Joyce Carvalho / Terra
Familiares dos candidatos esperam do lado de fora dos locais de prova em São Paulo
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
Thais Pereira, 16 anos, cursa o ensino médio e acredita que com preparação, a prova não cansa muito
Foto: Omar Jacob / Terra
A dona de casa Christiane Rodrigues, 36 anos, resolveu fazer o Enem para conquistar uma pontuação suficiente que faça a diferença no vestibular para jornalismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Foto: Joyce Carvalho / Terra
Casal de namorados aproveitava os momentos antes do início dos testes em São Paulo
Foto: Edson Junior / Terra
Gabriela Rosário, 19 anos, faz o Enem em São Paulo para tentar uma bolsa do Prouni no curso de administração
Foto: Edson Junior / Terra
Larissa Andrade está no 3º ano e que quer fazer uma boa pontuação para conseguir o Financiamento Estudantil (Fies)
Foto: Ney Rubens / Terra
A dona de casa Dorvina Marília Dias contou que veio de Bocaiúva, no norte de Minas Gerais, para acompanhar o filho mais velho, Gustavo Dias Macedo, 19 anos, nas provas
Foto: Ney Rubens / Terra
As amigas Géssica Fernandes e Alessandra Araújo e Queiroz relataram que estavam muito cansadas após as provas de sábado
Foto: Ney Rubens / Terra
'Moço, deixa eles entrarem, por favor, é um ano perdido!', argumentavam os funcionários do lado de fora
Foto: Omar Jacob / Terra
As estudantes Mariza Lessa e Marília Caroline Oliveira saíram otimistas da primeira prova do Enem
Foto: Omar Jacob / Terra
Mateus Maia, 16 anos, mostrou entusiasmo quanto às provas de domingo. 'Acho que vai ser ainda mais fácil'
Foto: Omar Jacob / Terra
Thays Sousa (esq.) e Thays Rodrigues (dir.) pretendem estudar psicologia e história, respectivamente, na Universidade Federal do Ceará
Foto: Omar Jacob / Terra
Portões fecharam pontualmente às 13h na PUC-Rio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Portões fecharam às 13h
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Gleyce Farias, 17 anos, vai tentar entrar na faculdade de Medicina
Foto: Joyce Carvalho / Terra
Daiane da Silva Finati, 21 anos, esperava no campus da PUC com a mãe, Maria Martinha, e garantiu que estudou bastante para o exame
Foto: Joyce Carvalho / Terra
Bárbara e Ana Carolina distribuem panfletos; Bárbara é publicitária e Ana Carolina fez Enem ano passado
Foto: Odilon Rios / Terra
A candidata Adriene Machado, 19 anos, achou que o tema da redação foi um presente de aniversário
Foto: Carla Costa / Terra
O carioca Carlos Roberto Rattes, 18 anos, pretende cursar direito e achou a redação difícil
Foto: Cirilo Junior / Terra
Ethieny Souza Fernandes, 18 anos, achou a prova deste domingo mais fácil que a de sábado, embora a redação tenha surpreendido