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Encarecimento de babás torna o turno integral mais atrativo no País

A PEC das domésticas fez com que muitas famílias que contavam com a ajuda de babás repensassem seus orçamentos e buscassem alternativas

30 mai 2013 - 16h27
(atualizado às 16h27)
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<p>Marcelo e Renata optaram por colocar os filhos Pedro (esq.) e João no turno integral no Colégio ICJ, em Belo Horizonte</p>
Marcelo e Renata optaram por colocar os filhos Pedro (esq.) e João no turno integral no Colégio ICJ, em Belo Horizonte
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

No começo de abril, dez novos alunos passaram a frequentar o turno integral na unidade Verbo Divino do colégio Pueri Domus, em São Paulo. O ingresso, incomum nessa época do ano, não foi coincidência - no dia 2 desse mês, foi sancionada a PEC das Domésticas, que amplia os direitos trabalhistas da categoria, incluindo a regulamentação da jornada de trabalho em oito horas diárias (ou 44 semanais) e o pagamento de hora extra e adicional noturno. A medida fez com que muitas famílias que contavam com a ajuda de babás repensassem seus orçamentos e buscassem alternativas.

Desde a sanção da PEC, Guilherme, 6 anos, e Isadora, 4 anos, ficam no colégio da 7h40 às 17h30. A mãe, Danielle Coppola Vargas, optou por matricular os filhos no programa Escola Ampliada do Pueri Domus e dispensar a babá, que passava a tarde com as crianças e dormia na residência. O serviço encareceu, e Danielle, que já via aspectos positivos no ensino integral, tomou a decisão em definitivo.

"No começo, fiquei com o coração apertado de deixar eles o dia inteiro na escola, mas no primeiro dia, quando cheguei para buscar as crianças, elas choraram porque não queriam ir embora", relata Danielle. A advogada também conta que se sente participando mais ativamente da vida dos filhos, pois agora é ela quem os leva e busca no colégio.

Apesar de antes pagar apenas uma babá para ambas as crianças e agora arcar com os gastos de duas mensalidades, Danielle acredita estar no lucro na relação custo-benefício, especialmente em razão das questões educacionais. "Antes, eles ficavam com uma cuidadora, e agora estão com educadores", avalia.

Rotina e disciplina

Marcelo Metzker e Renata Metzker Costa Vieira também viram no turno integral uma alternativa para a educação dos filhos. Pedro, 5 anos, e João, 2 anos, estão matriculados no Colégio ICJ, em Belo Horizonte (MG). O primeiro ingressou ainda em 2012, e João no começo deste ano. "Fizemos essa opção porque pagar uma empregada ou babá é muito caro. Além disso, a criança precisa de outras para interagir, se relacionar e aprender rotina e disciplina. Isso é o mais importante para nós", afirma o pai.

<p>A advogada Danielle Coppola Vargas matriculou os filhos no turno integral após a PEC das Domésticas</p>
A advogada Danielle Coppola Vargas matriculou os filhos no turno integral após a PEC das Domésticas
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

No caso dos Metzker, a opção pelo horário integral não teve relação direta com a PEC das Domésticas, mas a decisão levou em conta a questão financeira. "Acredito que estes direitos demoraram a chegar, mas a medida acabou deixando a escolha ainda mais fácil", complementa o pai.

O Colégio ICJ oferece turno integral para crianças de 1 a 10 anos. A mensalidade para o período da manhã custa R$ 579, incluindo o almoço. O valor do turno normal, que funciona à tarde, varia de acordo com série. O turno também funciona durante o recesso de julho, e em dezembro as atividades vão até o dia 22.

Demanda crescente

Christina Fabel, diretora pedagógica da instituição, indica que o colégio têm registrado uma demanda maior pelo turno integral nos últimos quatro anos. A lista de espera para ingresso em 2014 já conta com 12 famílias, algo atípico para esta época do ano - no mesmo período de 2012, eram seis. "Muitos pais procuram a escola justamente pela possibilidade do turno integral. Entre a criança ficar em casa assistindo à televisão e ir ao colégio ficar sob cuidados de pessoas especializadas na área educacional, o integral é uma grande vantagem", diz.

Coordenadora pedagógica da educação infantil ao ensino fundamental I do La Salle Águas Claras, no Distrito Federal, Eliana Pinheiro acredita que a procura pelo turno integral deve se intensificar em razão da PEC das Domésticas. A instituição oferece essa opção do infantil até o 5º ano do ensino fundamental. A escola tem aulas das 8h às 17h e oferece plantão até as 19h. A coordenadora da Escola Chapeuzinho Vermelho, em Natal, Nilma Maria Lins, indica que a instituição já registrou aumento na procura pelo ensino integral nas turmas de berçário, dos seis meses a dois anos. No Colégio Atual, em Recife, a unidade Boa Viagem I avalia que a procura pelo turno integral tenha crescido em torno de 20% este ano.

Apoio à família

Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Isabel de Oliveira e Silva aponta que colocar as crianças em instituições de ensino desde o ensino infantil, em vez de deixá-las em casa sob cuidados de uma babá, pode trazer alguns benefícios para a formação do aluno. "Só por ser um espaço de convivência já traz vantagens. Ser desafiada por outras crianças e pelo professor enriquece as possibilidades de desenvolvimento", afirma.

A docente destaca que, sobretudo na educação infantil, o ensino está associado à ideia de apoio à família. O turno integral, segundo ela, é um reflexo disso. “Nessa fase, tanto o parcial quanto o integral são boas opções. Não é uma coisa ou outra, é o modelo que melhor se ajusta à família”, enfatiza.

Programa Mais Educação

Não é apenas a PEC das Domésticas que impulsiona o turno integral. Segundo dados do Censo da Educação Básica 2012, mais de 2 milhões de alunos do ensino fundamental estão em turno integral no Brasil. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação considera educação básica em tempo integral a jornada escolar a partir de sete horas diárias, durante todo o período letivo "compreendendo o tempo total que um mesmo aluno permanece na escola ou em atividades escolares".

Para estimular a inclusão da educação integral nas redes estaduais e municipais de ensino, o Ministério da Educação criou o Programa Mais Educação. A estratégia teve início em 2008, quando participavam 1.380 escolas em 55 municípios, atendendo 386 mil estudantes. Em 2012, já eram 32 mil escolas cadastradas, e a meta é chegar a 45 mil escolas até o final de 2013 e a 60 mil no ano que vem. O prazo para as escolas pré-selecionadas aderirem ao programa vai até o dia 31 de maio, e as instituições já participantes também devem se recadastrar até essa data.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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