“É terrível acharem a violência na USP normal”, diz chileno
Há dois anos no Brasil, onde faz mestrado, Sérgio Ibarra já foi furtado e sofreu dois assaltos no campus - o último, na semana passada
Próximo ao ponto de ônibus onde uma estudante foi agredida semana passada, na Universidade de São Paulo (USP), engenheiro ambiental Sérgio Ibarra, 33 anos, natural de Santiago, passou por minutos de terror quando acessava a passarela de pedestres na região do Portão 3. E isso no mesmo dia. Ibarra havia ido buscar uma amiga, por volta das 20h30, exatamente pelo receio de que ela pudesse ser assaltada.
“O portão de pedestre estava fechado. Bati para abrir, e, ao entrar, escutei algo que não estou acostumado – o mais próximo que ouvi assim eram fogos em dias de jogos de futebol. Pá, pá, pá: três tiros. Então saíram três rapazes, todos adolescentes, correndo. Eles me xingaram, me agrediram e levaram meu celular”, relatou. A tensão ainda causou uma torção muscular nas costas – ele, que já havia tido a bicicleta furtada próximo de um dos bandejões onde almoçava, ano passado, bem como a mochila com computador levada em outro assalto.
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“No Chile, na universidade onde eu estudava, não se podia entrar se não fosse da comunidade acadêmica ou se não se identificasse; aqui, além de o acesso ser livre demais, quase não vejo polícia – ela precisa e deve fazer aquilo que está em suas atribuições. É terrível quando percebo que as pessoas acham que é normal essa violência aqui dentro. Isto é surreal”, desabafou, ele que contou ter pensado em deixar o Brasil quando viu, ano passado, uma vítima de assalto perto do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), onde estuda.
“Vi uma mulher gritando, vinda de um ponto de ônibus, toda ensanguentada, porque havia sido atacada por um bandido. Confesso que nesse dia pensei em sumir do Brasil, mas o que eu pesquiso, que é a qualidade do ar em cidades de países em desenvolvimento, eu só achei aqui”, explicou. “Imaginei que eu me exporia a certos riscos em uma cidade tão grande, mas não imaginava que teria que ter tanto cuidado dentro do campus”, concluiu o jovem, que perdeu a mãe há quatro meses – ele está no Brasil há dois anos.
Se pensa em permanecer no País após a conclusão do mestrado? “Não sei, porque não consigo imaginar segurança pública dissociada de qualidade de vida”, definiu.