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Dupla jornada: jovens atletas conciliam treino e estudos

Federações exigem que ateltas profissionais menores de idade frequentem o colégio e clubes se desdobram para apoiar atletas na vida escolar

1 abr 2015 - 09h12
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Imagine a seguinte situação. Você precisa estudar para uma prova de matemática que acontece na segunda-feira de manhã, mas, como atelta profissional, também deve treinar para uma competição que acontece na mesma semana. E ainda precisa frequentar a escola à noite.

Se ser esportista já implica em uma rotina cansativa, somar à rotina de exercícios o dia a dia dos estudos pode ser exaustivo.

É essa a realidade de boa parte dos atletas profissionais ou semi-profissionais menores de idade no Brasil. Mas, felizmente, de olho no futuro dos jovens como esportistas e na importância que uma educação de qualidade tem para o desenvolvimento de diversas habilidades, as federações esportivas brasileiras exigem que o atleta esteja devidamente matriculado para que possa treinar e competir.

A ginasta Rebeca Andrade busca separar momentos para focar nos esportes e nos estudos
A ginasta Rebeca Andrade busca separar momentos para focar nos esportes e nos estudos
Foto: Gilvan Souza / Reprodução

Convocada para atuar na Challenge Cup pela Seleção Brasileira de Ginástica Artística, Rebeca Andrade, 15 anos, é hoje uma das promessas da modalidade. A atleta do Flamengo treina durante toda a manhã, vai para a escola à tarde e, ainda, realiza mais um treino depois do colégio. Rebeca conta que consegue separar bem as duas tarefas para obter êxito tanto nos estudos quanto na profissão. “Quando estou na escola, consigo me desligar da ginástica e focar. Isso facilita. Quando estou no treino, foco no treino. Já estive em competição em período de provas, aí fazia o exame depois”, relata.

Com um bom desempenho na escola, a jovem nunca pensou em largar os estudos devido à dura rotina de esportista. “Nunca vou deixar de estudar. A ginástica sim, eu pensei em parar. Foi em um momento difícil, quando havia me machucado”, conta. Para Rebeca, os estudos são fundamentais - até mesmo para saber se expressar corretamente durante uma entrevista. “Ginástica não dura para sempre. Se eu parar de estudar, qual futuro eu vou ter?”, questiona.

Goleiro das categorias de base do Santos, Gabriel Donizete sonha em fazer faculdade
Goleiro das categorias de base do Santos, Gabriel Donizete sonha em fazer faculdade
Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Reprodução

Aluno do terceiro ano do ensino médio, o goleiro das categorias de base do Santos, Gabriel Donizete, 17 anos, não para - desde a manhã até o final da noite. Alojado na Vila Belmiro, na baixada santista, o jogador treina de segunda a sexta no Centro de Treinamento Meninos da Vila, e depois segue para a escola.

Ao mesmo tempo em que tem a rotina atribulada, Donizete tenta se dedicar ao máximo e aproveitar cada detalhe proporcionado tanto pelos estudos quanto pelo futebol. “Tive essa oportunidade de trabalhar aqui no Santos e quero aproveitar ao máximo”, diz. Para conciliar tudo, ele evita ficar muito tempo na internet e no celular, além de buscar sempre antecipar as tarefas escolares. “Pergunto para o professor se têm atividades que conflitam com os jogos. Se sim, peço para ele me antecipar. Se ele não colabora, termino o quanto antes”, assegura.

Orgulhoso de suas notas serem todas “azuis”, Donizete acredita que o estudo é fundamental e “importante para tudo na vida”. Nascido no interior de São Paulo, o jovem lembra que tiravam sarro dele por seu falar errado. “Por meio do estudo melhorei muito meu modo de falar”, conta. Depois de se formar em no colégio, ainda em 2015, o jogador deseja ingressar na faculdade de educação física. Mesmo com a rotina mais corrida, pois estará no Sub-20, não esconde a empolgação das novas etapas. “Estou ansioso para começar. O sonho da minha mãe é o mesmo que o meu: me ver jogador, mas também formado. Será ótimo para mim e um sonho realizado para ela.”

Gerente de esportes terrestres do Flamengo, Luisa Parente acredita que os estudos são extremamente relevantes para um atleta. “Ele necessita de recursos mentais de ordem cognitiva e afetiva para se superar. Caso não desenvolva estas habilidades continuamente, pode ficar abaixo da sua capacidade, o que representa um desperdício de esforços”, avalia.

Tanto a educação formal quanto a informal - aquela que diz respeito às habilidades sociais - são essenciais para o desenvolvimento esportivo. Assistente social das categorias de base do Santos, Silvana Gomes da Silva Trevisan concorda. Responsável por cuidar dos “meninos da Vila”, conta que o clube ambiciona mais do que criar um atleta. “Queremos um jogador profissional com uma reflexão diferenciada do que tem sido apresentado no futebol”, diz.

Acompanhamento e incentivo

Em sua maioria, as federações esportivas exigem a declaração escolar atualizada para a inscrição ou renovação dos atletas. Desta forma, as equipes sabem quem está estudando regularmente. No Flamengo, os técnicos - profissionais mais próximos dos atletas -, acompanham os jogadores de perto.

O Santos possui um centro para que os jogadores estudem e realizem reforço escolar
O Santos possui um centro para que os jogadores estudem e realizem reforço escolar
Foto: Vinicius Oliveira / Divulgação Santos

Pensando no desempenho dos meninos fora do campo, o Santos criou uma sala de estudos. “Quando a gente pega o boletim do menino e identifica as deficiências dele nas matérias, chamamos para o planejamento e tiramos as duvidas dele aqui”, explica Silvana. Bimestralmente, o clube faz uma coleta de aproveitamento e frequência de todos os atletas. Quem está com baixo rendimento nas salas de aula é chamado na sala de estudo, onde é realizado um planejamento com a equipe para que o jogador recupere a nota baixa.

Se algum dos meninos começa a falar em deixar os estudos, Silvana e o psicólogo do clube procuram sensibilizá-los. “Dizemos que não formamos somente jogadores, mas que a proposta do Santos é formar cidadãos e criar neles a motivação de se tornarem jogadores com outra reflexão da vida e do mundo”, explica.

Silvana lembra ainda que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tem papel muito importante. “É um grande parceiro nosso. Eles ressaltam a importância da educação para a criança e o adolescente. Isso vem ao encontro do Santos. Não estamos aqui só para revelar jogadores. É mais do que isso. Queremos educar homens conscientes do seu papel dentro e fora do Brasil”, reforça. O trabalho vem dando frutos: em 2010, os jogadores tinham um índice de 39% de repetência. Hoje, esse número caiu para 9%. O objetivo do clube que formou Neymar é fazer com que todos os atletas que entrem no time principal tenham, pelo menos, o ensino médio completo.

Fonte: Especial para o Terra
Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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