Chile: polícia detém 197 estudantes durante manifestação
A polícia chilena dispersou nesta quinta-feira centenas de estudantes que pretendiam realizar uma marcha pelo centro de Santiago - que já havia sido proibida pelo governo - e deteve 197 deles, em mais uma tentativa de protesto estudantil em prol do fortalecimento da educação pública no país.
A jornada começou com os estudantes levantando barricadas em 13 pontos de Santiago com pneus e pedaços de madeiras e ateando fogo nos mesmos. Os estudantes foram dispersados pela polícia, conforme imagens divulgadas por canais de televisão locais.Esses protestos deveriam anteceder as marchas que universitários e alunos do ensino médio haviam anunciado para a tarde desta quinta-feira e para as quais o governo mobilizou mil policiais para evitá-las.
"Temos agido com prudência para respeitar os direitos de expressão, mas há um limite. Os estudantes não são os donos deste país", disse o porta-voz do governo, Andrés Chadwick, à rádio Cooperativa.
Horas depois da primeira manifestação, os estudantes tentaram reunir-se na Praza Itália para iniciar a primeira das marchas anunciadas, mas a polícia os dispersou novamente com gases lacrimogêneos e carros com jatos d'água, evitando que o protesto chegasse a Alameda, que é a principal avenida da capital chilena, apurou a AFP.
"O centro de Santiago está sitiado", disse Camila Vallejos, dirigente dos universitários. "Ninguém pode nos reprimir por nos reunirmos em espaços públicos", disse Vallejo.
Os protestos haviam sido anunciados depois que o ministro da Educação, Felipe Bulnes, entregou na segunda-feira uma proposta de 21 pontos - a segunda oferecida pelo governo - aos líderes estudantis, que deveriam respondê-la até sexta-feira. "Vamos dar um sinal de que estamos mobilizados e alertas e que a discussão não acaba com a resposta dada pelo ministro", disse à imprensa na quarta-feira Camila Vallejos.
Dois fortes sindicatos universitários, o da Universidade Católica e o da Universidade de Santiago, rejeitaram a proposta governamental e por isso participaram da tentativa de manifestação no centro de Santiago. "A ideia da marcha é que não apenas estudantes possam participar e não se manifestem apenas por temas da educação, mas também pela crise no sistema completo", disse Georgio Jackson, dirigente da Universidade Católica.
Segundo os universitários, a proposta do governo responde a uma parte de suas demandas para fortalecer a educação pública no Chile, mas só acolhe parcialmente a principal exigência, que é acabar com o lucro na educação, proibido na legislação chilena, mas burlado através de brechas legais.
A crise educacional, que já dura dois meses, mantém dezenas de universidades paradas e centenas de colégios tomados. Os estudantes já protagonizaram enormes manifestações que influenciaram na queda de popularidade do presidente Sebastián Piñera, que chegou a um mínimo de 30% em julho.