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Brasil investe metade do recomendado pela OCDE para o ensino básico

8 dez 2013 - 14h27
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O Brasil deve aumentar os investimentos na educação básica para melhorar também o ensino, analisa o diretor de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher. Dados coletados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2012 mostram que o País investe em média US$ 26.765 por estudante entre 6 e 15 anos. Um terço da média dos demais países da OCDE, US$ 83.382. E pouco mais da metade do que o OCDE considera como investimento mínimo por aluno, US$ 50 mil. Representantes do governo reconhecem que é preciso fazer mais e em ritmo acelerado.

"Quando se investe US$ 50 mil por aluno, o dinheiro não importa mais, deixa de ser uma questão limitante para o desempenho do estudante", diz o diretor da OCDE. Segundo o relatório do Pisa divulgado na última semana, o Brasil ocupa o 58º lugar em matemática, o 55º lugar em leitura e o 59º em ciências em um ranking de 65 países. A prova é aplicada a cada três anos pela organização e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. A cada ano, o relatório tem uma área como foco. Em 2012, o destaque foi para matemática.

Schleicher diz que o investimento deve aumentar, mas atribui a nota do Brasil também à falta de equidade na distribuição dos recursos. Caso todas as escolas tivessem as mesmas condições de aprendizagem e todos os estudantes cursassem a série adequada para a idade (como 15 anos na 1ª série do ensino médio), o Brasil poderia chegar aos 460 pontos na avaliação, com o mesmo investimento atual. A pontuação atual é 391.

"Se o País conseguisse eliminar a grande repetição dos alunos e se todo estudante tivesse acesso à educação, o Brasil teria um progresso grande, com o investimento atual. Não fiz as contas, mas acredito que chegaria aos 460 pontos em matemática", disse. A pontuação conferiria ao Brasil a 43ª posição no ranking.

O relatório trouxe um alerta em relação à aprendizagem, a nota média do País o coloca no nível 1, em um total de seis níveis. O sexto nível é a proficiência. Estar no nível 1 significa que os alunos conseguem fazer apenas operações básicas. Para Schleicher, é necessária uma maior ênfase nas escolas que enfrentam dificuldades. "No Brasil, os melhores professores estão nas melhores escolas. Em países como a China é o oposto, se você é um bom professor você deve ajudar a melhorar o desempenho das escolas desfavorecidas", diz. Ele também citou a desvalorização dos docentes no País, o que torna a carreira menos atrativa a bons estudantes. O piso para a jornada de 40 horas é R$ 1.567.

Os dados do Pisa apontaram ainda a falta de confiança dos alunos em aprender matemática. "Eles dizem que é preciso ter talento para aprender a disciplina. Isso não ocorre nos países com as melhores pontuações", diz. Mais de 80% dos estudantes dizem que o conteúdo é muito difícil. Em Xangai, na China, que ocupa o primeiro lugar no ranking, esse índice é pouco mais de 50%. No Brasil, quase 55% dos estudantes acreditam que não têm sorte, contra pouco mais de 30% de Xangai. Mais de 45% dizem que os professores não conseguem fazê-los se interessar. Em Xangai, a porcentagem é 40%.

Ranking Pisa 2012 - Brasil
Posição Estado Matemática Leitura Ciências Nota média
Espírito Santo 3º (414 pontos) 4º (427 pontos) 1º (428 pontos) 423 pontos
Distrito Federal 1º (416 pontos) 2º (428 pontos) 2º (423 pontos) 422 pontos
Rio Grande do Sul 5º (407 pontos) 1º (433 pontos) 4º (419 pontos) 420 pontos
Santa Catarina 2º (415 pontos) 6º (423 pontos) 5º (418 pontos) 419 pontos
Mato Grosso do Sul 4º (408 pontos) 3º (428 pontos) 8º (415 pontos) 417 pontos
Minas Gerais 7º (403 pontos) 5º (427 pontos) 3º (420 pontos) 417 pontos
São Paulo 6º (404 pontos) 7º (422 pontos) 3º (417 pontos) 414 pontos
Paraná 6º (403 pontos) 5º (422 pontos) 3º (416 pontos) 414 pontos
Paraíba 9º (395 pontos) 9º (411 pontos) 9º (412 pontos) 406 pontos
10º Rio de Janeiro 10º (389 pontos) 10º (408 pontos) 11º (401 pontos) 399 pontos
11º Piauí 11º (385 pontos) 11º (403 pontos) 10º (403 pontos) 397 pontos
12º Sergipe 12º (384 pontos) 13º (397 pontos) 13º (394 pontos) 392 pontos
13º Rondônia 13º (382 pontos) 12º (400 pontos) 15º (389 pontos) 390 pontos
14º Goiás 15º (379 pontos) 17º (393 pontos) 12º (396 pontos) 389 pontos
15º Ceará 16º (378 pontos) 14º (397 pontos) 17º (386 pontos) 387 pontos
15º Rio Grande do Norte 14º (380 pontos) 16º (393 pontos) 16º (387 pontos) 387 pontos
17º Bahia 17º (373 pontos) 18º (388 pontos) 14º (390 pontos) 384 pontos
18º Amapá 22º (360 pontos) 15º (396 pontos) 18º (382 pontos) 379 pontos
19º Mato Grosso 18º (370 pontos) 21º (382 pontos) 19º (381 pontos) 378 pontos
20º Tocantins 19º (366 pontos) 23º (381 pontos) 21º (378 pontos) 375 pontos
20º Pará 23º (360 pontos) 19º (387 pontos) 22º (377 pontos) 375 pontos
22º Acre 24º (359 pontos) 20º (383 pontos) 20º (380 pontos) 374 pontos
23º Amazonas 25º (356 pontos) 22º (382 pontos) 23º (376 pontos) 371 pontos
23º Roraima 21º (362 pontos) 24º (377 pontos) 24º (375 pontos) 371 pontos
23º Pernambuco 20º (363 pontos) 25º (376 pontos) 25º (374 pontos) 371 pontos
26º Maranhão 26º (343 pontos) 26º (369 pontos) 26º (359 pontos) 357 pontos
27º Alagoas 27º (342 pontos) 27º (355 pontos) 27º (346 pontos) 348 pontos
  BRASIL 58º (391 pontos) 55º (410 pontos) 59º (405 pontos) 402 pontos

Apesar do cenário, o coordenador parabenizou o Brasil pelo maior crescimento entre os países que participaram do Pisa. O país passou de uma pontuação de 356 em 2003 em matemática, para 391 em 2012. O Brasil também avançou na inclusão e na redução da defasagem idade-série. São 420 mil estudantes a mais no sistema de ensino. A porcentagem de alunos do ensino médio que não estavam na série adequada à idade caiu de 54,9% em 2000, para 31,1% em 2012.

Schleicher acredita que, em 21 anos, o Brasil conseguirá alcançar a média da OCDE, que em 2012, chegou a 494 pontos. "As condições atuais sugerem que o Brasil vai ter um crescimento ainda mais acelerado nos próximos anos e talvez alcance esse patamar em menos tempo".

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, disse que "os indicadores nacionais e internacionais permitem aprimorar a análise". Ele ressaltou que a principal medida para melhorar o ensino é a valorização e a formação do professor. "Somos o País que mais aumentou o investimento de recursos, apesar de ainda aplicarmos um terço da média dos demais países da OCDE. Alocar recursos no professor é fundamental, e o caminho que estamos seguindo [com programas de formação] reforça essa tese e mostra como temos que acelerar", diz.

Ao analisar os dados Pisa 2012 durante a semana, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que a fotografia da educação no Brasil ainda não é boa, mas destacou que os avanços podem ser considerados uma "grande vitória". "O resultado em relação a nossa evolução é uma grande vitória da educação brasileira. Não podemos nos acomodar e temos ainda um atraso histórico muito grande quando falamos em qualidade da educação. Fizemos muito, mas temos que fazer muito mais", disse.

Brasil evolui, mas segue nas últimas posições em ranking de educação
Brasil evolui, mas segue nas últimas posições em ranking de educação
Foto: Arte Terra

Pisa 2012

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) é uma avaliação realizada a cada três anos e aplicada a jovens de 15 anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 2012, o Pisa foi aplicado a 510 mil alunos em 60 países - no Brasil, foram avaliados 19.877 estudantes de 837 escolas na rede pública ou privada de ensino. As questões do exame que teve os resultados divulgados em 2013 avaliam três áreas do conhecimento: matemática, leitura e ciências. O Brasil foi o país com maior avanço no desempenho de alunos, no entanto continua nas últimas posições do ranking. Em seu site, o Pisa fornece uma ferramenta (em inglês) para comparar os resultados de cada país. Confira na ferramenta abaixo:

Agência Brasil Agência Brasil
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